quarta-feira, novembro 02, 2011

Há democracias e democracias

A democracia só é boa quando está bem controlada pelos poderes dominantes. Quando há o risco do povo votar contra os interesses das minorias dominantes, como em certos referendos onde a situação fica muito clara, então é melhor congelar a democracia.


Vem este post a propósito do horror com que os lideres dos países dominantes da União Europeia receberam o anúncio de referendo que o primeiro ministro grego prometeu aos gregos e que não estava no programa da troyca.

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segunda-feira, outubro 31, 2011

Desemprego confortável!!!

Hoje li declarações de um membro subalterno do governo que aconselhava os jovens a imigrar e deixarem a "zona de conforto" do desemprego.

Este insuportável assalto aos direitos de quem trabalha ou quer trabalhar, com argumentos que cada vez são mais incríveis e ridículos, atingiu o limite do aceitável. E isto digo eu que para já não sou dos que estão pior: "apenas", em pouco tempo, vou ver reduzido em um terço os meus rendimentos de trabalho...

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quinta-feira, outubro 27, 2011

Não à destruição da Escola Pública

O governo, com todas as medidas lançadas e outras já previstas, está a aplicar um nítido plano de reestruturação neoliberal na área da educação. Dois pilares são visíveis nesta política:

-a destruição da educação pública, - esse bem precioso que permite o acesso de todos aos bens culturais fundamentais e a uma educação para todos, - que é por demais visível;

-o beneficiar da educação privada, em que podemos apontar como prova o aumento, a contracorrente, do subsídio nos contratos de associação, e agora, a notícia de hoje que diz que os pais poderão no próximo ano escolher a escola para os filhos, medida de que beneficiarão os já beneficiados com maior poder económico ou capital cultural.
O governo quer transformar o conceito de educação como um direito de todos, num negócio rentável para alguns a que aqueles que puderem pagar frequentam. O resto de educação pública que sobrar, será ultrasubfinanciada, de baixa qualidade e destinar-se-á aos que não puderem pagar a escola privada.
A todos aqueles que acreditam na importância da Educação Pública está lançado o grande desafio da resistência a estas iníquas políticas. À Fenprof lanço o repto: é a hora de preparar a Marcha pela Educação, que chegou a estar agendada no ano passado.

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terça-feira, outubro 25, 2011

Banalização da barbárie

Hoje na hora do almoço, vi imagens de Kadhafi a ser brutalmente espancado antes de ser morto.

De facto o que aconteceu deve ser noticia e em telejornais e imprensa de referência mereceria análise séria. O que me parece absolutamente reprovável e deseducativo é haver canais públicos, a horas matinais ou vespertinas a apresentarem este tipo de imagens. Se há limitações horárias para apresentação de filmes de ficção com certos tipos de conteúdo, porque é que esta "realidade" entra pelos olhos de crianças ou jovens, ainda por cima comentadas e editadas de forma absolutamente imprópria pelos execráveis media da nossa praça.

Mas convenhamos: depois de sete meses de desinformação, com os bombardeamentos de civis na Líbia a serem considerados pelos media de acções humanitárias, o que aconteceu hoje é um "pormenor". É a banalização da barbárie, feita em primeira instância pelos terroristas de estado das potências dominantes e multiplicada pelos servis meios de comunicação social.

PS. Não sou defensor oficioso de Kadhafi, nem defensor do seu regime e nunca o convidei oficialmente para minha casa como o fizeram certos governantes que nos últimos meses se juntaram para o bombardear e que agora estão a reunir-se para a partilha dos despojos (Petróleo e Gâs).

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domingo, outubro 23, 2011

Insuportável

O que está a acontecer no mundo, com a Nato ou os EUA a bombardear e a matar impunemente pelo mundo fora e a colocar no poder marionetes sob o seu controlo, é algo que só com "democracias" de pacotilha como as que existem, e com instituições internacionais absolutamente dominadas é possível.


Na verdade isto já acontecia no período da Guerra Fria (vejam-se as ditaduras da América Latina e não só, colocadas no poder com o patrocinio dos EUA) mas agora está a atingir um limite absolutamente insuportável.


Por isso nos raros momentos em que vejo noticiários de "desinformação" com "jornalistas" e "comentadores" a falarem da instalação de novas "democracias", eu fico com vontade de ver ainda menos tv.

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sábado, outubro 22, 2011

As balas

Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais azeite nos é dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas deram o sangue derramado

Dá a chuva o Inverno criador
Ás sementes dá sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas deram o sangue derramado

Dá a Primavera o campo colorido
Glória e coroa do mundo renovado
Aos corações dá o amor renascido
As balas deram o sangue derramado

Dá o Sol as searas pelo Verão
O fermento no trigo amassado
No esbraseado forno cresce o pão
As balas deram o sangue derramado

Dá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe é negado
Dá a conquista um puro sentimento
As balas deram o sangue derramado

Do meditar, concluir, ir e fazer
Dá sobre o mundo o homem atirado
À paz de um mundo novo de viver
As balas deram o sangue derramado

Dá a certeza o querer e o construir
O que tanto nos negou o ódio armado
Que a vida construir é destruir
Balas que deram sangue derramado

Essas balas deram o sangue derramado
Só roubo e fome e o sangue derramado
Só ruína e peste e o sangue derramado
Só crime e morte e o sangue derramado.

Depois de ler o poema, ouvir Adriano em:
Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

quinta-feira, outubro 20, 2011

"Para não dizer que não falei das flores"

Como em tempos como estes corremos o risco de nos tornarmos amargos ou cínicos, nada melhor do que uma boa música do Geraldo Vandré. O facto de se tratar de uma música feita em plena ditadura militar brasileira é pura coincidência. A nossa é apenas, como diz o Miguel Urbano Rodrigues, "uma ditadura da burguesia de fachada democrática".


Bom proveito.

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terça-feira, outubro 18, 2011

Disse não estruturantes?

Nuno Crato continua a dar passadas seguras no sentido da implosão do ministério e da educação pública em Portugal. Não se pode dizer que não o tenha prometido. Dias depois de anunciar no estrangeiro mais um corte de várias centenas de milhões de euros a juntar aos 800 milhões de cortes do ano passado, surge nas notícias o futuro corte nas disciplinas de História e Geografia invocando o argumento de que elas não são estruturantes.


De facto só alguém que não tem o mínimo de visão cultural ou que está no ministério para cumprir agendas alheias à qualidade da educação pode considerar que estas disciplinas não são estruturantes. Lá que dissesse que para cumprir nos cortes que lhe mandam fazer ele tem que cortar em qualquer lado, vá lá que seria mais sério. Agora usar argumentos de banha da cobra, ele que se ufanava do rigor, isso não.


Nestas medidas vejo só uma vantagem: talvez abra os olhos aqueles professores destas matérias que diziam que NC era muito rigoroso e que viam nele um ministro em quem se poderia contar para melhorar a educação em Portugal. Pode ser que agora estes colegas se tornem politicamente menos analfabetos.

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domingo, outubro 16, 2011

Uma guerra contínua

Na citação longa que se segue, Walter Benjamin situava a contradição básica do capitalismo e trazia-nos as ideias expressas pela estética assumidamente fascista do futurismo de Marinetti. Ele reportava-se aos anos trinta mas, qual a função da guerra imperialista dos dias de hoje senão a mesma dos dias a que ele se reportava? E uma guerra não somente de armas convencionais mas uma guerra manifesta nas sociedades a que pertencemos e explicitada no desemprego, na pobreza, na alienação e na repressão surda. Penso que vale a pena ler esta citação incluída no excelente texto de Benjamin "A OBRA DE ARTE NA ÉPOCA DA SUA REPRODUÇÃO MECANIZADA".

"“Desde há vinte e sete anos que nós, futuristas, nos erguemos contra a afirmação de que a guerra não é estética... Ora, somos obrigados a constatar... A guerra é bela, porque graças às máscaras de gás, aos aterrorizadores megafones, aos lança-chamas e aos pequenos tanques, ela funda a supremacia do homem sobre a máquina subjugada. A guerra é bela, porque inaugura a sonhada metalização do corpo humano. A guerra é bela, porque enriquece um prado florido com as flamejantes orquídeas das metralhadoras. A guerra é bela, porque une os tiros e canhoneios, as pausas de fogo, os perfumes e odores da decomposição numa sinfonia. A guerra é bela, porque cria novas arquitecturas como a dos grandes tanques, das esquadrilhas geométricas de aviões, das espirais de fumo subindo das aldeias em chamas e de tantas coisas mais... Poetas e artistas do Futurismo... recordai estes princípios de uma estética da guerra, para que a vossa luta por uma nova poesia e uma nova plástica... seja por ela iluminada!”

Este manifesto tem a vantagem da nitidez. A sua maneira de pôr a questão merece ser reconsiderada pelo homem de dialéctica. A seus olhos, a estética da guerra contemporânea apresenta-se do modo seguinte. Quando a utilização natural das forças de produção é atrasada e recalcada pela ordem da propriedade, a intensificação da técnica, dos ritmos de vida, dos geradores de energia, tende para uma utilização contra-natura. Encontra-a na guerra, que por meio das suas destruições vem provar que a sociedade não estava madura para fazer da técnica o seu orgão, que a técnica não estava suficientemente desenvolvida para jugular as forças sociais elementares. Nos seus traços mais imundos, a guerra moderna é determinada pela discrepância entre os poderosos meios de produção e a sua insuficiente utilização no processo de produção (noutros termos, pelo desemprego e pela falta de postos de trabalho). Nesta guerra a técnica, insurgida por ter sido frustrada, pela sociedade, no uso do seu material natural, arranca indemnizações ao material humano. Em vez de canalizar cursos de água, enche trincheiras de fluxos humanos. Em vez de semear a terra do alto dos seus aviões, semeia nela incêndios. E nos seus laboratórios químicos achou um processo novo e imediato para suprimir a aura. "

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sábado, outubro 15, 2011

Possivel definição de teatro

Depois de ter assistido a uma encenação da peça "Do alto da ponte", de Arthur Miller, pelo TEP, consolido a minha definição de teatro:
É a vida mas em concentrado, dado ter de expressar-se em tempo reduzido.

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quinta-feira, outubro 13, 2011

A "primavera" dos EUA

Enquanto em Portugal Passos Coelho anuncia mais medidas destinadas a empobrecer os portugueses aproveitando-se do adormecimento de amplas camadas da população, nos EUA amplifica-se um grande movimento de protesto que já se estende a 1400 cidades. Relembra-se que no dia 1 de Outubro 700 pessoas foram presas e espancadas num dia de manifestação em Nova Iorque, coisa que é passivel de acontecer só em regimes ditatoriais.

Só que, perante a continuação dos protestos já não é possivel esconder a realidade e até os meios de comunicação dominantes, como o New York Times, já lhe concede espaço noticioso, quando bem tentou abafar a realidade.

Lendo uma análise de Miguel Urbano Rodrigues a estes acontecimentos que recomendo, vi lá uma frase de Goethe que foi usada por uma manifestante e que se aplica na perfeição à situação da maioria das pessoas no mundo ocidental:

«Ninguém é mais completamente escravizado do que aquele que acredita falsamente ser livre».

terça-feira, outubro 11, 2011

Tão bonzinhos que eles são

Hoje o "directório" europeu resolveu fazer "concessões" aos devedores, Grécia, Portugal e Irlanda. Vai diminuir os juros, estender os prazos, entre outras "benesses" e com efeito retroactivo. A Portugal, dizem eles, vão poupar 5 mil milhões de euros e à Irlanda são mesmo 10 mil milhões.

Isto é o quê? É uma reestruturação da dívida, aquilo que, por exemplo, o PCP e o BE andavam a exigir para Portugal e o governo português dizia que não...

Que ironia. São os nossos "emprestadores" que concedem coisas que "nós" nem pedimos... Por nós entenda-se os nossos "governos" ou "oposições" responsáveis.

Não é preciso ser economista para saber que com a receita da troyca a recessão é certa e que em vez de virmos a ser capazes de pagar o que devemos ainda vamos passar a dever mais e a torná a dívida impagável. É só isso e mais nada que leva os benfeitores da troyca a estas concessões.

E entretanto dos mais de 100 mil milhões que nos emprestam é preciso não esquecer que 12 mil milhões de euros vão direitinhos para os bancos e para estes, ainda do empréstimo, constam também 35 mil milhões de garantias para os mesmos bancos. E é preciso lembrar que grande parte do que pedimos agora serve para pagar aos credores, por exemplo, aos bancos alemães e franceses que sem "resgate" não receberiam.

É preciso também não esquecer o que está para trás, no passado destes últimos 34 anos: houve uma destruição (consentida pelos partidos do centrão mais PP), a mando da europa, da nossa indústria, agricultura e pescas, o que nos tornou hiperdependentes; vieram fundos em troca dessa destruição, muitos dos quais gastos em corrupção, em obras faraónicas, em betão, e que engordaram novos e velhos grupos económicos; houve a privatização forçada das empresas estratégicas e que davam lucro fazendo com que grande parte do PIB produzido actualmente em Portugal saia para o estrangeiro (e agora querem continuar com estas privatizações, pois ainda faltam mais algumas empresas apetecíveis).

E já agora vá-se mais atrás. A grande e arrogante Alemanha de hoje ainda não pagou as dívidas, reparações e indemnizações devidas aos outros países pelas duas guerras mundiais que causou. A reunificação da Alemanha deu-se em 1990 e as indemnizações que estavam prometida para a altura dessa reunificação foram convenientemente esquecidas. E vêm agora falar-nos das nossas dívidas como se eles não tivessem imensos telhados de vidro, eles que foram os reis das dívidas do século XX.

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segunda-feira, outubro 10, 2011

Educadores dos povos

Ontem, uma notícia dava conta que a Troyca queria que as medidas de austeridade a aplicar na Grécia fossem mais aprofundadas.

Sabendo nós como na Grécia já tão longe se foi na austeridade, - nos cortes salariais por exemplo - só podemos tirar como conclusão que o FMI e os seus parceiros europeus querem fazer da Grécia um exemplo para todos os outros PIIGS. Querem humilhar um povo para ameaçarem todos os outros.

E é triste que os outros povos possam ficar calmos à espera que lhes aconteça o mesmo.

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domingo, outubro 09, 2011

"Museus deixam de ser gratuitos ao domingo "

Para que é preciso um povo Culto e Educado?
Um povo assim só estorva certas governações "musculadas" de direita assumida ou disfarçada.
Assim o percebeu Salazar condenando durante décadas o nosso povo ao atraso cultural e mantendo assim uma das condições essenciais da sua longevidade no poder.
Assim o entendem também estes novos "democratas" que nos "governam".
Não há democracia política sem que haja também democracia económica, social e cultural. Julgar que democracia é a possibilidade de mandar uns bitaites sem ir directamente para a prisão (mas com a possibilidade real de ficar sem emprego por causa disso), ou de ir votar de x em x anos em contextos comunicacionais viciados, está muito enganado.

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sábado, outubro 08, 2011

Educação/Direito versus Educação/Negócio

Há basicamente duas formas de conceber a Educação: por um lado a Educação vista como um Direito a que devem ter acesso todos, de uma forma gratuita, assegurando qualidade e equidade. Por outro lado, a Educação encarada como um Negócio, ao qual devem ter acesso quem tem o poder de o pagar, não assegurando por isso qualidade para todos, sendo a equidade conceito inoperacional.

No mundo de hoje, a comunicação social ao serviço do mundo dos Negócios (ela mesma é um Negócio) matraqueia-nos com a ideia de que não é possível assegurar a Educação/Direito (ou os outros direitos), por falta de "sustentabilidade". Além disso dizem-nos que nem é desejável, pois a santa competição e a busca do lucro é que criam mais qualidade nos produtos e serviços.

Quem sabe um pouco de economia (economia como ciência que trata da produção e distribuição de produtos e serviços visando a satisfação das necessidades de todos e não só de alguns), sabe que nunca houve, mais do que nos nossos dias, maior capacidade produtiva em qualquer sector da nossa sociedade. As crises de que padecemos nos países ocidentais são de sobreprodução e não de miséria como em séculos passados. Só através de propaganda em massa é que é possível que as pessoas engulam o argumento da falta de recursos para assegurar os direitos de todos.

É preciso dar corpo novamente a esta visão da Educação como Direito e resistir ao retrocesso civilizacional da Educação como negócio.

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sexta-feira, outubro 07, 2011

O analfabeto político

Quem lê caixas de comentários dos blogs de professores mais badalados da nossa praça, percebe que formação académica de alto nível, como é pelo menos a de licenciatura, não garante o acesso à literacia política básica. Quantos trabalhadores com pouca instrução escolar conheço eu mais cultos e alfabetizados politicamente do que muitos licenciados, mestres ou doutores.

Daí que perceba bem aquele texto de Bertolt Brecht sobre o pior analfabeto ser o analfabeto político.

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quarta-feira, outubro 05, 2011

Recomeçar com Georges Snyders.

Georges Snyders, esse grande nome da Pedagogia, com livros incontornáveis para os Educadores, faleceu em 27 de Setembro passado.
Dele, cito uma parte de uma entrevista que ele concedeu há cerca de 20 anos a um brasileiro. Nessa entrevista mostra como estava sempre em processo de aprendizagem, apesar da idade avançada, retocando as suas teorias há medida da realidade que ia percebendo. Constantes, no entanto, o seu amor à verdade e aos valores humanos.
"Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades - de ordem física e econômica - mais a Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria não pode ser uma alegria que os desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo do prazer. A alegria deve ser prioridade para aqueles que sofrem mais fora da Escola.
Sei que é um pouco utópico, mas de vez em quando é necessário sonhar. Estou aposentado e sei que sonho; mas o mundo precisa, de tempos em tempos, de pessoas sonhadoras."
Vale a pena ler a entrevista toda em:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_11_p159-164_c.pdf
Existem muitas obras deste autor em português.
Deixo-vos também um link em francês evocativo das principais ideias deste autor:
http://cahiers-pedagogiques.com/spip.php?article7577
Recomeço assim a publicação deste blog com um autor cujos livros e ideias foram para mim algo de fundamental.

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quarta-feira, julho 22, 2009

Despedida

Bastante ocupado com o trabalho e com estudos paralelos, nos últimos tempos fui muito irregular na escrita aqui no blog. Embora considerando muito interessante o processo de escrita em blogs tive de fazer opções que passaram por não publicar com a periodicidade mínima que requer este meio de comunicação.
Neste meio fiz amizades que permanecem: algumas que se prolongaram para além do mundo virtual; outras que embora não tenham passado deste mundo, não são por isso menos fortes.
Este é um post de despedida deste blog individual. Não era possível mantê-lo assim parado no tempo sem renovação, fazendo de conta que ele estava vivo. Fazê-lo desaparecer também não o faço pois para mim constitui uma memória de que não me quero desprender.
Entretanto vou navegando nos blogs dos meus amigos e nessa blogosfera que tem coisas tão interessantes e é uma mistura de emoções, conhecimentos, provocações, humor e inteligência. Espero fazê-lo mais ainda quando dispuser de mais tempo.
Um abraço para todos os blogueiros que por aqui passarem.

domingo, junho 21, 2009

Perguntas impertinentes

Sabemos todos o montante do valor da transferência do Cristiano Ronaldo. E é giro saber isso. Porque é que não é tão propagado o montante dos dinheiros que o Real Madrid ou a FIFA movimentam?
Há uns anitos o mal todo estava no défice e era preciso controlá-lo a todo o custo. Porque é que agora já ninguém fala no défice e ele deve estar bem acima do que diziam ser necessário estar?
Alguém que responda. É que eu gostava mesmo de sabe as respostas. A sério.

segunda-feira, junho 15, 2009

O importante na Educação (Física)

O que é verdadeiramente importante na Educação Física, em primeiro lugar, é que o professor consiga transmitir aos seus alunos o gosto pela actividade e pela cultura (física e desportiva). Essa faceta energética e afectiva do ensino é um poderoso motor que põe em marcha todo um processo que se nutre e requer a autonomia do aluno. Daí que, para além dessa primeira intenção pedagógica – a de dar o gosto pela prática da actividade – o professor tem de guiar os alunos nas aprendizagens que qualificam essa prática: fazê-los aprender bem, os fundamentos primeiro, (e não é de somenos ou fácil definir o que são esses fundamentos), nutri-los de conhecimentos “sur mesure”, apetrechá-los de competências, a principal das quais é a de serem autónomos quanto possam ser e quanto antes.
Ao conseguir pôr em marcha este processo, ao colocar em actividade os alunos como pessoas capazes de autonomia e com gosto no que fazem, o professor dá o empurrão mais decisivo, o inicial. Daí em diante é importante dar continuidade, intensidade, entusiasmo, qualidade, intencionalidade e preencher de sabedoria o que se vai fazendo.
Pensar colectivamente sobre os caminhos a fazer trilhar nesse processo desde o seu início, eis a minha visão de excelência na docência como processo e projecto colectivo em que o trabalho individual se deve integrar criticamente. Reflectir amiúde (e colectivamente) sobre o processo, sobre as ideias e as práticas que se levam a cabo, eis a minha visão de avaliação profissional.
Reivindicar condições para concretizar essa forma de desenvolvimento profissional é necessário, neste tempo em que, por exemplo, o Tempo para reflectir em conjunto é uma substância que interessa a alguns cilindrar, substituído por um tempo sem sentido.

quarta-feira, junho 10, 2009

Problemas de consciência

Num período como este que se aproxima, de avaliação e classificação dos alunos, os professores deparam-se com problemas de variado tipo, em que os de consciência não são dos menores.
Confesso que do ponto de vista da avaliação dos alunos na disciplina que lecciono, nunca tive grandes problemas. Desde o início do ano que as regras estão bem claras entre mim e os alunos, os critérios são de todos conhecidos e bem aceites. Por isso, depois de aula após aula se ir procedendo a avaliações formativas, a avaliação final sumativa decorre com toda a naturalidade. A auto-avaliação dos alunos é geralmente coincidente com a minha hetero-avaliação e, nos casos de discordância, isso acontece pelo facto de os alunos que divergem serem mais exigentes consigo próprios do que eu sou com eles. Aluno que pede nota maior do que aquela que eu acho que merece é extremamente raro e, geralmente, é alguém que está desfasado do processo. E lá vai aparecendo algum aluno assim.
O que traz grandes problemas de consciência, a mim e a muitos outros professores, é ao nível das decisões globais sobre o aluno: transitar de ano/ser aprovado ou ser retido/reprovado. Como não me parecem ser possíveis, a este nível, critérios tão definidos como aqueles que um professor pode ter com os seus alunos em particular, há situações muito delicadas.
Ao longo da minha carreira e em função dos conhecimentos que fui acumulando, fui mudando algumas das minhas perspectivas sobre esta questão. Aqui vou apenas apresentar um problema que é para mim um dilema.
Sabemos hoje todos da sociologia escolar que, estatisticamente, o insucesso escolar afecta sobretudo os filhos das classes populares desprivilegiadas. É evidente que isto é em termos de grandes números e que não é uma verdade individual. Mas do ponto de vista das suas turmas, os professores verificam que os seus alunos com mais probabilidades de terem insucesso são aqueles cujos pais não sabem ou não podem ajudá-los. A questão do "querer" reservo-a francamente para situações residuais de pais com patologia ou extremamente mal formados. Por saberem disso, eu como muitos professores, sentem um mal-estar evidente ao saberem que estão a confirmar o insucesso escolar, com as suas decisões, de alunos que em grande parte são vitimas de um sistema social que não lhes proporciona condições de sucesso como têm outros.
Mais uma vez, este ano, os poucos casos de insucesso escolar que tenho na minha direcção de turma não fogem a este quadro. E isso é para mim um motivo de mal-estar e frustração. Por outro lado, felizmente, muitos outros casos havia, de pouco, mau ou nenhum acompanhamento familiar de alunos. E apesar disso eles não terão insucesso escolar (o educativo é outra história a desenvolver).
De outras coisas falarei noutro post a respeito deste tema. Mas aqui fica desde já a minha convicção de que de modo nenhum, a esmagadora maioria dos professores ou das escolas se sentam à lareira perante o fenómeno do insucesso escolar de larga fatia dos nossos alunos, como afirmou uma senhora sinistra. Nesta altura a grande maioria dos professores sente verdadeiros problemas de consciência. Essa é a verdade.

sexta-feira, junho 05, 2009

"Penso. Logo Resisto."

"Um povo ignorante é um instrumento cego da sua destruição"
Simon Bolivar
Encontrei esta citação no site "consciência.net" onde estive a ler um texto de Frei Betto sobre o Pensar. Vá lá ler que vale a pena.

segunda-feira, junho 01, 2009

A FORÇA DA NOSSA RAZÃO

A manif de sábado foi mais uma impressionante mensagem de resistência cívica de dezenas de milhares de professores. O lema não podia ter sido mais bem escolhido: A FORÇA DA NOSSA RAZÃO.
Por outro lado espero que tenha sido mesmo uma manifestação de adeus às políticas desastrosas que nos tem caído em cima. Todos os que lá estiveram e aqueles que lá teriam estado se tivessem podido não merecem que o desastre continue.

quarta-feira, maio 27, 2009

Encontramo-nos no Sábado

Eis uma excelente iniciativa que também subscrevo e aqui coloco:

1) Este governo desfigurou a escola pública. O modelo de avaliação docente que tentou implementar é uma fraude que só prejudica alunos, pais e professores. Partir a carreira docente em duas, de uma forma arbitrária e injusta, só teve uma motivação economicista, e promove o individualismo em vez do trabalho em equipa. A imposição dos directores burocratiza o ensino e diminui a democracia. Em nome da pacificação das escolas e de um ensino de qualidade, é urgente revogar estas medidas.
2) Os professores e as professoras já mostraram que recusam estas políticas. 8 de Março, 8 de Novembro, 15 de Novembro, duas greves massivas, são momentos que não se esquecem e que despertaram o país. Os professores e as professoras deixaram bem claro que não se deixam intimidar e que não sacrificam a qualidade da escola pública.
3) Num momento de eleições, em que se debatem as escolhas para o país e para a Europa, em que todos devem assumir os seus compromissos, os professores têm uma palavra a dizer. O governo quis cantar vitória mas é a educação que está a perder. Os professores e as professoras não aceitam a arrogância e não desistem desta luta: sair à rua em força é arriscar um futuro diferente. Saír à rua, todos juntos outra vez, é o que teme o governo e é do que a escola pública precisa. Por isso, encontramo-nos no próximo sábado.
Subscrevem:
Os blogues: A Educação do Meu Umbigo (Paulo Guinote), ProfAvaliação (Ramiro Marques), Correntes (Paulo Prudêncio),(Re)Flexões (Francisco Santos), Educação SA (Reitor), O Estado da Educação (Mário Carneiro), Professores Lusos (Ricardo M.),Outròólhar (Miguel Pinto).
Os movimentos: APEDE (Associação de Professores em Defesa do Ensino), MUP (Movimento Mobilização e Unidade dos Professores), PROmova (Movimento de Valorização dos Professores), MEP (Movimento Escola Pública), CDEP (Comissão em Defesa da Escola Pública)

quarta-feira, maio 20, 2009

Deixa-me rir

Uma senhora que por acaso é ministra da Educação passou 4 anos a denegrir os professores. Anteontem, a respeito de uma banal prova de aferição em que os professores pouco mais têm de fazer do que papaguear um guião e vigiar alunos, ela elogia-os pela primeira vez e considera esse comportamento altamente profissional.
Constou-me que a senhora chegou a ser especialista em profissões. Realmente nota-se.

quarta-feira, maio 13, 2009

Saramago

O sino do Camponês.

domingo, maio 03, 2009

"O que os professores pensam ao planificar"

Em 1989 este cientista da Educação que cito, traduziu muito bem num artigo de que aqui se extrai um excerto, o que os professores pensaram e fizeram desde sempre, profissionalmente. Em Portugal, temos responsáveis (peço desculpa à palavra) do governo que pensam que os professores são aplicadores de receitas e para os quais a avaliação normal é a correspondente a essa visão estreita. E parece que num congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação bateram palmas a uma triste figura. Se isso aconteceu, vai mal a "ciência" educativa em Portugal.

..."F) La routinisation des plans est une nécessité professionnelle et il faut en tenir compte dans toute innovation en favorisant les PONTS entre les anciennes et les nouvelles démarches; une innovation ne peut se concevoir qu'en termes d'une approprîatîon progressive par l'enseignant laissant le temps d'intérioriser les routines.
Ces routines libèrent l'esprit de "enseignant de )a préoccupation des contenus et lui permettent de s'occuper de la relation socio-affective. Il peut ainsi passer de la didactique à la véritable pédagogie au sens d'une prise en compte des réalités mouvantes du terrain (Halte, 1989).
Grâce aux routines, l'enseignant peut improviser, c'est-à-dire exceller tant dans le domaine des contenus à transmettre - qu'il manie à son gré une fois qu'ils sont intériorisés, que dans le domaine constamment adaptatif de sa relation avec l'ensemble mouvant des élèves. A cet
égard, l'enseignant expérimenté a moins besoin d'un modèle prescriptif linéaire comme celui de la «pédagogie » par objectifs que d'un cadre de travail souple tenant compte de la réalité pédagogique."


François TOCHON
Université de Genève

Ler o texto integral aqui

Um grande português: José Morgado

Hoje tive um momento de felicidade ao ver um blog sobre o grande matemático e antifascista português, professor José Morgado. Soube da sua existência ontem, em conversa com o seu filho Paulo Morgado, que está a desenvolver este trabalho de serviço público. É que não foi só Fernando Pessoa que deixou arcas... Explorar este blog é fonte de conhecimento, de cultura e de história.
Numa das suas palestras, José Morgado fazia uma comparação entre o nosso Bento de Jesus Caraça e Paul Langevin. Nesse texto reproduzia o célebre (mas suponho que pouco conhecido para os nossos contemporâneos) conceito de cultura geral:
«a cultura geral é aquilo que permite ao indivíduo sentir plenamente a sua solidariedade com os outros homens, no espaço e no tempo, com os homens da sua geração como com as geração que a precederam e com as gerações que virão depois. Ser culto é, portanto, ter recebido e desenvolver constantemente uma iniciação às diferentes formas de actividade humana, independentemente daquelas que correspondem à profissão, de maneira a poder estar amplamente em contacto, em comunhão com os outros homens.»
Este conceito faz lembrar a também célebre palestra de Caraça sobre "a cultura integral do indivíduo". Num tempo de utilitarismos estreitos e empobrecedores em que se quer transformar a Educação num mero mecanismo de adaptação a supostas exigências de "empregabilidade" do mercado, conceitos como estes são de trazer à superfície da discussão. Não por recusarmos a utilidade da Educação mas porque achamos que um utilitarismo estreito em que uma educação/adestramento limitada encerra o Homem é algo a combater.
Para quem gosta de história, de democracia, de matemática, de cultura geral, não deixe de passar pelo blog e por outro conexo: Cravo de Abril.
José Morgado foi também um grande professor. Conheci-o pessoalmente, infelizmente pouco tempo. Assisti a uma lição dele na Faculdade de Ciências do Porto sobre o Teorema de Pitágoras. O público presente, composto de jovens bem jovens e adultos, penso ter ficado completamente cativado pela amplitude da cultura e a qualidade da forma como se exprimia e tornava perceptível o seu pensamento.
Espero que aproveitem do blog como eu estou/vou aproveitar.
O endereço do blog é http://josecardosomorgado.blogspot.com/

sábado, abril 25, 2009

25/04/1974. Um testemunho.

No 25 de Abril de 74 eu tinha apenas 10 anos. No entanto vivi-o intensamente. Acompanhei e participei nas manifestações que quase diariamente passavam na minha rua da infância na direcção do Quartel General do Porto.
Um acontecimento da época marcou-me imenso. Foi uma sequência de eventos culturais que aconteceram, nem sei bem se só num dia ou numa série de dias, no Palácio de Cristal. Cantores de intervenção, poetas como Ary dos Santos, peças de Teatro, e muito mais, tive eu oportunidade de ver e sentir a 10 metros de mim. Nunca mais esqueci.
Para mim, para além de muito mais, a Revolução que todos nós sabemos está a ser adiada, significou um evento cultural transcendente. Disso me lembro vivamente.
Alguns dizem, Baptista Bastos, Saramago, que o 25 de Abril foi... e que se não tivesse acontecido talvez Portugal fosse o que é hoje. Em parte compreendo-os e até posso concordar também parcialmente. Mas discordo duma parte essencial: o 25 de Abril, como todas as Revoluções Progressistas deixou um travo (cravo) que permanecerá por muito tempo na memória e será também exemplo de possibilidade (que foi real momentaneamente) de um mundo melhor. Só por isso valeria e vale também, hoje em dia.
Na Educação o 25 de Abril foi uma verdadeira Revolução. Só pode menosprezá-lo dois tipos de pessoas: os ignorantes ou os mesmos que desde há muitos anos tem vindo a tentar e a conseguir que muitas vitórias de Abril, neste campo, sejam terraplanadas.
Num tempo em que o Povo anda triste, criseado", despedido, enganado, e manipulado, ver a alegria do mesmo Povo na Revolução da Liberdade constitui um conflito cognitivo dissonante que aos olhos de muitos dos que têm mais de 45 anos talvez comece a ser motivo de desalienação. Espero.
E aos professores espero esta data os comece a libertar da triste sina de não se saberem, ao fim e ao cabo, trabalhadores como a maioria do Povo. Trabalhadores cuja força sempre foi e será a unidade na acção. Acção essa que só pode ser feita na Esperança de um mundo melhor para todos e não a pensar na vidinha de cada um.

sexta-feira, abril 10, 2009

Aprender e ensinar

« 150 treinos mais 20 a 25 jogos por ano, de novo dispondo de total autonomia na direcção e condução da actividade, a significar terreno profícuo ao desenvolvimento, é no nosso olhar sobre o jogo que começa por ocorrer a mudança.
E o que começa a ocorrer, é que, progressivamente, o olhar na busca dos caminhos para ensinar, vai-se libertando da exclusiva conformidade com os conteúdos, para deslizar na identificação dos problemas que a situação de jogo colocava aos aprendizes.
Aprendemos a olhar não para o jogo, mas sim para o jogo que eles conseguiam jogar, focalizando o olhar nos expedientes de que se socorriam para resolver os problemas, para daí avaliarmos o nível de competência necessária para poderem ter êxito.
E fomos aprendendo que tínhamos de ser capazes de ver o jogo simultaneamente em duas dimensões. A dimensão real, que se traduzia naquilo que estava a acontecer, e a dimensão antecipativa, que se traduzia naquilo que deveria acontecer.
Situando-nos sempre entre o jovem e o jogo, fomos naturalmente percebendo que cabe a quem ensina adequar as condições de prática, quer às particularidades dos praticantes (competências que possuem), quer aos propósitos da aprendizagem (conseguir que joguem).
A experiência de Moçambique ensinou-nos a compreender que se aprende enquanto se ensina, e ensinou-nos a saber procurar mais com a aprendizagem do que com o ensinar.”

Hermínio Barreto (2004) Prontidão desportiva. Equilíbrio entre as capacidades de hoje e exigências de amanhã. In: Gostar de Basquetebol. Ensinar a jogar e aprender jogando (pp 19-20). Lisboa: Edições FMH.

domingo, abril 05, 2009

Viva Santo Onofre

O episódio que se está a passar em Santo Onofre e, com certeza noutras escolas deste país, é uma mistura de tratamento exemplar e de caça às bruxas. Tratamento exemplar para tentar demover alguém com ideias semelhantes para resistir ao avanço do processo do Ditador escolar; caça às bruxas para castigar os recalcitrantes.
É preciso dizer que estas situações só estão a acontecer com estes contornos e apimentadas com declarações giras - a minha mulher disse-me que aquela senhora de triste figura disse no parlamento que "os professores estavam do lado dela, como estão as autarquias e os pais" - porque muitos dos professores fraquejaram no momento em que não podiam fraquejar: o da entrega dos famigerados o.i.s. Esses "colegas" são cúmplices do que está a acontecer. Como cúmplices parecem também estar a ser certos dirigentes sindicais da FNE a quem está a cair a máscara e que estão a ter um papel de capos no Agrupamento de Santo Onofre.
Por mim que confesso atravessei um período de nojo, no blog e não só, por ver a dignidade a ser assassinada por tantos colegas "coitadinhos" a entregarem os seus o.i.s, nada melhor do que este momento para o interromper.
Um grande abraço para os professores de Santo Onofre. Hão-de Vencer.

quarta-feira, março 11, 2009

...

O blog está parado... mas... a luta continua...

sábado, fevereiro 21, 2009

Avanço do pensamento único

Hoje li uma notícia má. A editora Campo das Letras está em dificuldade e pode fechar. Depois da Caminho ser engolida pela Leya, este é mais um rude golpe nas editoras que publicam conteúdos críticos em Portugal.
O pensamento único, em Portugal, dá passos de gigante. Qualquer dia, ler em papel em português, ou ver na televisão ou ouvir na rádio algum conteúdo crítico será uma raridade. E então que dizer para aqueles que têm dificil acesso a obras noutras línguas.
A nossa escala de mercado tão reduzida torna pouco viáveis as editoras críticas. É pena.
Restam alguns espaços onde a crítica, por agora, pode ser feita e está a ser feita: a blogosfera é disso exemplo. A criatividade dentro da resistência precisa-se. E como a necessidade aguça o engenho...

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Campanhas coloridas

Um senhor anda a queixar-se de estar a ser alvo de uma campanha negra.
Não vou tecer comentários sobre se é negra ou de outra cor ou se é campanha o que andam a fazer sobre esse senhor. Há uma investigação a decorrer. Esperemos que seja rápida e apure a verdade.
Mas sobre campanhas, negras e de outras cores mais se pode dizer. Esse mesmo senhor é mestre nesse tipo de campanhas. Por exemplo, em relação a várias classes profissionais, entre as quais a dos professores surge à cabeça, o governo que esse senhor encabeça, promoveu a mais longa campanha negra de que há memória.
E quanto a colorir campanhas, que dizer do dito relatório da OCDE sobre as políticas para o ensino básico, que afinal já não é da OCDE?
Será caso para dizer que está neste momento a provar de um dos venenos que tantas vezes utiliza?

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Árvore

Chamaram-lhe árvore
apenas
porque crescera com os pés
dentro da terra.

Chamaram-lhe homem
talvez
por parecer saber coisas
além do óbvio.

Mesmo estúpido e submisso é um homem.
Mesmo frondosa e erecta é uma árvore.

Humanas contradições.

domingo, fevereiro 01, 2009

Respostas e perguntas

Não é original o que vou dizer: tanto ou mais importante do que saber dar respostas é saber colocar perguntas. Aliás perguntas e respostas, respostas e perguntas estão em recíproca interacção. Hoje tive um exemplo disso: só quando a minha mulher começou a colocar questões para um problema com que nos deparávamos com uma câmera de video digital é que fomos capazes de dar uma resposta cabal ao problema. Enquanto em vão eu tentei dar respostas sem saber bem qual o problema em causa, a coisa não se resolvia.
E no meio de tudo isto o processo da experimentação, não tanto o de um ensaio e erro (que por vezes resulta) mas o de ensaios guiados por hipóteses. É por estas e por outras que a formação do bom senso e do espírito científico é importante para todos. Sem exclusões epistemológicas.
Como já ouvi a alguns pedagogos: a nossa educação está saturada de perguntas conhecidas com respostas já sabidas, esquecendo a espontaneidade de perguntas que querem mesmo saber respostas que se desconhecem.

sábado, janeiro 17, 2009

Coerência


"É graça divina começar bem.
Graça maior é persistir na caminhada.
Mas a graça das graças é não desistir nunca"
D. Helder da Câmara

sábado, janeiro 03, 2009

Educação e Alegria

"Toda a educação deve começar pela abordagem da alegria"
Elise Freinet

Citação feita pelo Paulo sucena ou pelo Boaventura Sousa Santos (já não me lembro) no Fórum Nacional "Unir vozes em defesa da Escola Pública" em Fevereiro de 1999 e promovido pela Fenprof.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Na morte de Harold Pinter

Um grande Homem morreu. O seu exemplo continua, nas suas palavras, peças teatrais, livros, etc. Como Homem nunca deixou de intervir nos grandes problemas do seu tempo, quando tantos intelectuais se acobertam na comodidade cómoda com que os tentam comprar. Um exemplo também para os professores neste tempo em que a dignidade está em jogo e alguns podem esquecer-se disso.

"A linguagem política, tal como a empregam os homens políticos, não se aventura sobre este género de terreno, pois a maioria dos homens políticos, a crer pelos elementos de que dispomos, não se interessa pela verdade mas pelo poder ou pela manutenção do poder. Para manter esse poder é essencial que as gentes continuem na ignorância, que vivam na ignorância da verdade, até da verdade da sua própria vida. O que nos rodeia é um vasto tecido de mentiras, do qual nos alimentamos."

"Eu creio que apesar dos enormes obstáculos que existem, ser intelectualmente resoluto, com uma determinação feroz, estoica e inquebrantável, a definir, enquanto cidadãos, a real verdade das nossas vidas e das nossas sociedade é uma obrigação crucial que nos incumbe a todos. Ela é mesmo imperativa.
Se uma tal determinação não se incarna na nossa visão política, nós não teremos alguma esperança de restaurar o que nós somos tão perto de perder - nossa dignidade de homem."

Estes excertos foram retirados da mensagem de Harold Pinter aquando da recepção do Prémio Nobel da Literatura. Pode ouvi-lo aqui ou ler o texto aqui em várias línguas.
Pode também explorar a Fundação Harold Pinter.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Avaliaçãozinha

Vamos brincar à avaliaçãozinha


Vamos brincar à avaliaçãozinha
Poeira, rasteira e boa grelhazinha
Vamos brincar à avaliaçãozinha.

A senhora de não sei quem
Que é de todos e de mais alguém
Passa a tarde afadigada
Mastigando a docentada
Com muita pena do aluno,
Coitada.

Vamos brincar à avaliaçãozinha
Poeira, rasteira e boa grelhazinha
Vamos brincar à avaliaçãozinha.

Neste mundo de instituição
Cataloga-se até o coração
O “socialismo” salva os ricos
Dá-se fome aos sem penicos
O seu jeito fará
Tudo em fanicos.

Vamos brincar à avaliaçãozinha
Poeira, rasteira e boa grelhazinha
Vamos brincar à avaliaçãozinha

O profe no seu penar
Habitua-se a rastejar
E no campo ou na cidade
Faz da sua infelicidade
Algo para os desportistas
Da caridade.

Vamos brincar à avaliaçãozinha
Poeira, rasteira e boa grelhazinha
Vamos brincar à avaliaçãozinha.

E nós que queremos ser irmãos
mas nunca sujamos as mãos
é uma vida decente
não uma ceia ou aguardente
o que é justo e há que dar
a essa gente.

Não vamos brincar à avaliçãozinha
Não vamos brincar à avaliaçãozinha.
Não vamos brincar à avaliçãozinha
Não vamos brincar à avaliaçãozinha.
Não vamos brincar à avaliçãozinha
Não vamos brincar à avaliaçãozinha.

H.S, com um obrigado ao José Barata Moura a quem se “deturpou a canção”.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Sem amos

Um ministério suportado por um governo por sua vez suportado por maioria absoluta, apoiado pela maioria dos donos (e das vozes do dono) da comunicação social, apoiado pela direita de facto - a económica sobretudo - pode fazer o que está a fazer aos professores: um assassinato orquestrado duma classe com requintes de malvadez e persistente no tempo.
Só que, na verdade, não o conseguirá.
Maria de Lurdes, os seus dois ajudantes e o seu primeiro vestido de Armani, mais cedo ou mais tarde, cairão do poleiro e voarão para outro, dourado provavelmente pelo dinheiro. É a vidinha. Mas não tenhamos contemplações: passados alguns anos ninguém se lembrará destas tristes figuras. O poderzinho que elas têm pode de facto atazanar muita gente mas é efémero e não passa dum poder de turno. O que deixarão eles, realmente, para o futuro?
Os professores, essa classe tão importante em qualquer sociedade que, como disse salvo erro Bourdieu exercem o "primeiro de todos os ofícios", ficarão por muitos e bons anos e serão um dia tratados e respeitados como merecem. Sobreviverão a bons e maus governos. Sem eles nenhuma geração chegará longe no domínio dos saberes.
De hoje em diante, embora divulgue a luta necessária, não mais proferirei neste blog o nome dum certo engenheiro avaliado por fax ou duma socióloga de olhar infeliz, sabe-se lá porquê?
E hoje, "há que dizê-lo com frontalidade", como sempre, saí feliz do meu posto de trabalho: não servi outro amo senão a Educação dos meus alunos.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Unidos venceremos


sexta-feira, novembro 28, 2008

Branqueamentos na Educação

Como argumento para avançar com este monstruoso modelo de avaliação de professores a senhora ministra e o seu secretário de estado reconhecem não existir nenhum modelo igual a este na Europa mas que também não existe nenhum país com os nossos índices de insucesso e abandono escolar.
Tal argumento mesmo para mau entendedor só pode significar: o problema estava nos professores. Enfim, já sabíamos que éramos, nós os professores, o bode expiatório dos males da nossa Educação. Esta foi apenas mais uma acha para a fogueira em que estes senhores andam a queimar os professores há mais de três anos.
Só que talvez não seja mau fazer um exercício de raciocínio comparativo. Como eram os índices de literacia, insucesso e abandono escolar (ou falta de acesso escolar) há 34 anos, por altura da revolução democrática que derrubou o fascismo? Não sei números exactos. Só sei que o novo regime herdou um histórico pesadíssimo neste campo e que se fizeram progressos assinaláveis nestas últimas três décadas.
A senhora ministra, apesar de socióloga, comete assim um erro de algibeira e um tremendo erro político inconcebível em alguém que é membro de um governo “socialista”: branqueou 48 anos de fascismo no que à Educação diz respeito. E para quem faz isso não é também de admirar o branqueamento da actividade de muitíssimos governos nas três décadas recentes, nas quais se incluíram muitíssimos anos de governação “socialista”. A culpa estava todinha na pretensa falta de avaliação dos professores. Ministros, legislação, administração educativa, programas, condições de trabalho, etc, tudo isso não influenciou e influencia os nossos resultados escolares. E além disso, o mundo da nossa Educação deveria ser um oásis no meio da nossa sociedade da cauda da Europa…
Enfim, ao que chega a argumentação de alguém para quem tudo serve para denegrir gente séria que trabalha nas escolas.

quinta-feira, novembro 27, 2008

97,74%

Depois da Escola o Agrupamento:

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE OLIVEIRA DO DOURO
VILA NOVA DE GAIA

Excelentíssima Senhora Ministra da Educação:
Com Conhecimento à:
Presidência da República
Governo da República
Procuradoria Geral da República
Plataforma Sindical
Grupos Parlamentares
DREN
Órgãos de Comunicação Social
Os Professores/Educadores abaixo-assinados, - representando 97,74 % do total de Professores/Educadores do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Douro, - reunidos em 19 de Novembro de 2008, voltaram a expressar o seu veemente repúdio face ao actual modelo de Avaliação de Desempenho e à obstinação de Vossa Excelência em querer manter esse modelo, contra quase tudo e quase todos, pelos motivos a seguir enunciados:
1. A aplicação do modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008 tem-se revelado inexequível, por ser inviável praticá-lo segundo critérios de rigor, imparcialidade e justiça, exigidos pelos Professores deste Agrupamento.
2. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 não tem em conta a complexidade da profissão docente que não é redutível a um modelo burocrático, cabendo em grelhas e fichas pré-formatadas numa perspectiva desmesuradamente quantitativa e redutora da verdadeira avaliação de desempenho dos docentes .
3. O modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008, pela sua absurda complexidade, não é aceite pelos professores, não se traduzindo em qualquer mais-valia profissional e/ou pessoal.
4. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 afirma ter por objectivo melhorar a qualidade da escola pública. No entanto este pressuposto não pode ser alcançado devido ao clima de insustentável instabilidade e mal-estar resultante da sua própria tentativa de aplicação. Esse clima de mal-estar vinha já da implementação do concurso para Professor titular, que artificialmente fracturou a carreira docente e ainda por cima se baseou em parâmetros arbitrários, criando injustiças amplamente reconhecidas.
5. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 impõe quotas para as menções de “Excelente” e “Muito Bom”, e, com isso, desvirtua, logo à partida, qualquer perspectiva dos docentes verem reconhecidos os seus efectivos méritos, conhecimentos, capacidades, competências e investimento na carreira.
6. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 implica um enorme acréscimo de trabalho burocrático para os docentes, sem benefício correspondente para ninguém. Fica relegado para um plano secundário o processo de ensino aprendizagem prevendo-se graves consequências nas novas gerações e, naturalmente, no futuro do país.
7. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 condiciona a avaliação do professor ao progresso dos resultados escolares dos seus alunos. Os professores deste Agrupamento consideram que mecanismos como a consideração directa do sucesso/insucesso dos alunos na avaliação dos docentes são incorrectos e injustos e estão em desacordo com as recomendações do Conselho Científico da Avaliação de Professores.
Pelo exposto, os Professores/Educadores abaixo-assinados decidiram suspender a participação neste processo de Avaliação de Desempenho, a começar pela não entrega dos objectivos individuais, até que se proceda a uma revisão concertada do mesmo, que o torne exequível, justo e transparente, ou seja, capaz de contribuir realmente para os fins que supostamente persegue: uma melhoria do exercício da profissão docente e das reais aprendizagens dos alunos no seio de uma Escola Pública de qualidade.
Vila Nova de Gaia, 19 de Novembro de 2008

sexta-feira, novembro 21, 2008

A incultura da senhora ministra

trago-vos aqui uma prosa que li hoje do Fernando Dacosta no JN.
"Sem memória não há ideias, sem ideias não há pensamento, sem pensamento não há criatividade e sem criatividade não há futuro."
"Agora as pessoas, sobretudo as que nos governam, estão perversamente a apagar a memória e a vender o seu peixe. É por esta razão que os grandes criadores portugueses estão a dar grande importância à memória".
"Há medo, nunca vi tanto medo no meu país".
Ao ver a senhora ministra com muita habilidade política (no sentido da "porca" da política como salvo erro se lhe chamava em Portugal no século XIX) e escassa cultura a anunciar "aquelas coisinhas", só me lembrei de duas coisas. Ir ler o Leopardo do Lampedusa que para vergonha minha ainda não li, mas sei que tem uma frase do género "É preciso que algo mude para que tudo fique na mesma". E a seguir reler Maquiavel que aconselhava o Príncipe a ser mau mas com bom gosto.
Triste dum país cujos ministros confiam na incultura do seu povo para governar.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Riso momentâneo

Já nutri vários sentimentos pela actual equipa do ministério da Educação. Selecciono dois, ilustrativos: o pior foi o nojo que senti, por várias propostas repetidas, anti-constitucionais, as quais prejudicavam os professores doentes. E esse facto não é história, veja-se a proposta recente de concursos em que os destacamentos por doença estão na cauda da fila. Nojo também pela mentira repetida à exaustão que a equipa usa abundantemente.
Ontem este trio maravilha resolveu brindar-nos com um despacho (feito ao domingo e assinado pela senhora ministra). Mais uma vez enxota responsabilidades para cima dos professores e com formulações tão caricatas que me deu, momentaneamente, vontade de rir. Só momentaneamente, garanto. É que ir ao fundo das questões isso não é com esta gente. Eu tenho um aluno que está em casa com uma doença que o impede sequer de sair de casa. O que era preciso era haver condições para apoiar verdadeiramente alunos como este. Não é com provas de recuperação que assumam a treta de um "formato e um procedimento simplificado, podendo ter a forma escrita ou oral, prática ou de entrevista." Deixei em acta a necessidade de a escola ter meios para poder apoiar este aluno. Tretas como os despachos e o actual estatuto do aluno são soluções de papel para os reais problemas.

domingo, novembro 02, 2008

Imparável, mas...

Basta que os professores queiram e o movimento de suspensão deste iníquo processo dito de avaliação dos professores é imparável. As reacções simultaneamente ridículas, autistas, ziguezagueantes e por fim "ameaçantes" da "tutela", revelam que neste campo, perderam o pé. Haja capacidade dos professores de manterem inteligentemente a pressão, sem desgastes desnecessários imediatos.
Só que a questão da avaliação do desempenho, por muita importancia que tenha, e tem-na, é apenas parte de um todo. Tenho por teoria pessoal que em grande parte, este monstro burocrático foi levado a termo para nos entreter e fazer gastar forças. É que se eles conseguirem: manter a carreira dividida e o bloqueamento da sua progressão para a maioria dos professores; instaurar o modelo hierárquico-autocrático de gestão das escolas; manter aparências de que conseguiram avaliar os professores... eles abdicam de muitos trocados. E convenhamos... muito do que consta do modelo de avaliação do desempenho é de uma falta de sutentabilidade tão atroz que "mais cedo do que tarde" teria que cair. Por isso não esqueçamos as verdadeiras bandeiras da luta: contra o ECD do ME; contra o Modelo autocrático de gestão das escolas.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Prémio Dardos



O Miguel do OutrÒÓlhar resolveu dar-me um prémio. Eu acho que não mereço mas agradeço a amabilidade dele.
Blogs a quem atribuo também este prémio (sem nenhuma ordem estabelecida):
1. OutròÓlhar; 2. Memórias soltas de prof; 3. Tempo de teia; 4. A educação do meu umbigo; 5. (Re)Flexões; 6. Profavaliação; 7. Terrear; 8. Anabela Matias; 9. Correntes; 10. O cartel; e tantos outros que eu infelizmente nem conheço a sua excelência pois não tenho tempo de os frequentar.

quarta-feira, outubro 29, 2008

98,68%

"E.B. 2,3 Escultor António Fernandes de Sá, Gervide

21 de Outubro de 2008


Excelentíssima Senhora Ministra da Educação


Considerando que esta avaliação do desempenho docente, imposta pelo Ministério da Educação que Vossa Excelência dirige, é um injusto e emaranhado processo burocrático que está a desviar os professores e as escolas daquilo que deve ser a essência da profissão e da organização escolar: ensinar e promover aprendizagens de qualidade em todos os alunos;
afirmando com uma convicção alicerçada na experiência do terreno que esta avaliação do desempenho, tal como está configurada, mais não passa de um absurdo desperdício de recursos de toda a espécie: humanos, temporais, materiais, emocionais, desperdício esse que em nada contribui, bem pelo contrário, para o desenvolvimento e valorização profissionais dos professores deste País ou para a melhoria da sua escola pública;
defendendo que a profissão de professor deve continuar a ser marcada pelos valores de colaboração e de solidariedade a que a competição estéril e o individualismo são alheios,
percebendo entre as intenções deste modelo de avaliação, - de forma directa ou indirecta e articulada com o também imposto Estatuto da Carreira Docente, - a de impedir a progressão na carreira da grande maioria dos professores e a de obter um sucesso escolar meramente estatístico sem correspondência no sucesso educativo real dos nossos alunos,

os professores abaixo-assinados que representam 98,68 % dos professores desta escola entendem ser seu dever ético e deontológico:
-recusar o modelo em vigor exigindo a sua suspensão urgente antes que produza mais estragos e consuma mais recursos;
-partir de imediato para a negociação de um modelo diferente de avaliação do desempenho que esteja expurgado dos defeitos intrínsecos atrás mencionados. "

Este foi o Abaixo-assinado, já com o resultado, enviado à senhora ministra.
Da nossa escola estão inscritos 52 professores para a manif de 8 de Novembro. É obra não é? É virtude de haver quem, sempre, na nossa escola, mesmo sem estar na direcção do sindicato, sempre esteve com ele, mesmo criticando-o. Malta da Fenprof, claro. Que não esquece o que aprendeu naquela frase antiga "o Sindicato somos nós".

quarta-feira, outubro 22, 2008

À pessoa certa

Estou cansado mas muito motivado. Na minha escola estamos a conseguir recolher quase o pleno de assinaturas de professores numa carta a dirigir à ministra da Educação a exigir o que é preciso neste momento.
Logo que seja o momento oportuno divulgarei essa iniciativa. O texto tem semelhanças com o mencionado no post anterior mas com o contributo de muitos colegas ficou muito melhor.

sábado, outubro 18, 2008

Que fazer?

Na minha escola há, como penso haver em muitas, um sentimento de profunda insatisfação perante este modelo de avaliação proposto pelo ME. No entanto é uma contestação surda, à boca pequena e nunca se traduziu em actos escritos. No entanto há também que dizer que fomos 50 professores à manif de 8 de Março do ano passado.
Na semana passada o meu departamento tomou por unanimidade uma posição de repúdio a este modelo.
Segunda-Feira irá haver uma reunião geral de professores para a qual os professores foram convidados para serem lá explicadas as "grelhas". Sem deixar de fazer em concreto a análise crítica das grelhas, pretendo apresentar uma proposta de abaixo-assinado a enviar à ministra da Educação. Vamos lá ver quantos dos meus colegas assinarão o texto, ou uma adaptação do mesmo. Direi antes de o pôr a rolar que só pretendo enviá-lo se ele for assinado por uma maioria substancial dos professores.

"E.B. 2,3...

20 de Outubro de 2008

Excelentíssima Senhora Ministra da Educação

Considerando que:
-esta avaliação do desempenho docente, imposta pelo Ministério da Educação é um monstro burocrático que está a desviar os professores e as escolas daquilo que deve ser a essência da profissão e da organização escolar: ensinar e promover aprendizagens de qualidade em todos os alunos;
-esta avaliação do desempenho tal como está configurada mais não passa de um sorvedouro de recursos temporais, materiais e emocionais que em nada contribui, bem pelo contrário, para o desenvolvimento profissional dos professores e a melhoria das escolas, que no entanto, são proclamadas incoerentemente no seu fraseado legislativo;
-a profissão de professor é inerentemente uma profissão de colaboração, de solidariedade e de valores elevados onde a competição estéril e o individualismo são males desnecessários.
Os professores abaixo-assinados que representam ____ % dos professores desta escola entendem:
-recusar liminarmente o modelo em vigor exigindo a sua suspensão urgente antes que produza mais estragos e consuma mais recursos;
-partir para a negociação de um modelo diferente de avaliação do desempenho que esteja expurgado dos defeitos intrínsecos atrás mencionados. "
Por outro lado julgo também ser muito importante aproveitar o facto de estarem lá todos os professores para discutir o que fazer no imediato em relação à entrega dos objectivos. Há colegas que simplesmente propõem a não entrega, outros que propõem a entrega de objectivos iguais. Eu acho que a primeira proposta só seria de realizar no âmbito de uma recusa de todo o processo de avaliação e de uma atitude colectiva, pois caso em contrário está mesmo a ver-se os resultados que poderia trazer para aqueles que enveredassem por esse caminho. Eu sou muito mais por tomadas de posição positivas e colectivas. Pensar nos objectivos colectivamente até poderia ser uma forma bastante interessante de tratamento do assunto nesta fase da contestação.
Já agora quero deixar aqui um link para o blog da 3sa que está a escrever os seus objectivos e a dar deles conhecimento público. Sobre o seu conteúdo e sobre o que vou conhecendo dela, só posso dizer que revelam uma professora que se distingue pela qualidade na acção e na reflexão, facetas imprescindíveis de um professor. (procurem lá os posts que tratam desta questão e aproveitem para ler os restantes)

quarta-feira, outubro 15, 2008

Manifestações

Estão marcadas duas manifestações de professores, uma para 8 outra para 15 de Novembro. A primeira foi marcada pelos sindicatos depois da primeira ter sido marcada por colegas na net e ser formalizada por movimentos de professores. Eu preferia que estivesse apenas uma manif marcada e houvesse claramente uma perspectiva de luta a fazer e a começar nessa manif. Nem uns nem outros estiveram para aí virados e espero que esta bodega não dê para o torto.
Quanto a mim começo por ir à primeira que está marcada. Se a segunda não se apresentar com contornos anti-sindicais e me parecer minimamente estruturada vou também à segunda. É que sei que os sindicatos são muito necessários. Critico-os quando tenho de o fazer e eu faço-o até de dentro mas não alinho na sua fragilização que é suicidária para os professores.
Nesta história ninguém me parece estar isento de críticas. Espero que a coisa afinal acabe bem. É que nós, professores, bem estamos precisados disso.

domingo, outubro 12, 2008

Sentido para a luta

Depois de uma tarde completa a trabalhar para os meus alunos e para a escola, mas sem sequer pensar no monstrinho da avaliação, parei para vir aqui ao meu blogzito.
Que me apetece dizer: apenas que tenho a convicção que os professores, se quisessem e se se unirem, poderiam travar as iníquas políticas para o sector da Educação e para os professores em particular. Está em movimento alguma coisa que pode significar o início de uma contestação a sério. Faço votos que as organizações de professores, a Fenprof em especial, saibam motivar os professores para uma sábia acção. E desejo ardentemente que os professores se saibam unir contra aquilo que é visivelmente mau contribuindo para construir uma alternativa. Mais do que isso já não estará nas nossas mãos de professores.
Na verdade e ao longo da História, penso que aqueles que souberam lutar pelos seus ideais no fundo sempre tiveram motivos para se sentirem bem consigo próprios. Hoje, ao fim da tarde em que trabalhei para os meus alunos e para a minha direcção de turma sinto-me bem, como me sinto bem sempre que fiz gréve e foram muitas (todas), sempre que fui a manifestações (e perdi-lhes a conta), sempre que protestei na escola ou fora dela e apontei o que estava mal ou o que deveria ser mudado (e foram muitas essas vezes).
Os professores dignos desse nome e eu felizmente sinto-me fazer parte desse rol, têm tudo para se sentirem bem consigo próprios e para se sentirem legitimados na luta que agora deve começar a crescer. Lutar por gosto e com a consciência tranquila cansa menos do que se acomodar àquilo em que nos querem transformar: burros de trabalho amansados.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Che Guevara - carta aos filhos

Em 9 de Outubro de 1967, Che Guevara era assassinado a mando dos Estados Unidos da América. Mataram-lhe o corpo, imortalizaram-lhe a imagem e a alma.
Esta é uma carta que escreveu a seus filhos e onde expressa algumas ideias fundamentais com repercussão política e educativa.

Aos filhos:
"Queridos Hildita, Aleidita, Camilo, Célia e Ernesto:
Se alguma vez tiverem que ler esta carta, será porque eu não estarei mais entre vocês. Quase não se lembraram de mim e os mais pequenos não recordarão nada.O pai de vocês tem sido um homem que atua, e certamente, leal a suas convicções. Cresçam como bons revolucionários. Estudem bastante para poder dominar as técnicas que permitem dominar a natureza. Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça praticada contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Essa é a qualidade mais linda de um revolucionário. Até sempre, meus filhos. Espero vê-los, ainda. Um beijão e um abraço do Papai."

Apetece dizer como ele disse:

"HASTA LA VICTORIA. SIEMPRE"

segunda-feira, outubro 06, 2008

Se os professores contam, é preciso mostrar-lhes isso.

Nesta altura faço votos que os professores contem consigo mesmos naquilo que não podem deixar de fazer neste momento, lutar e lutar com rumo por uma política educativa diferente, sem o que serão coniventes por desistência com estas políticas destrutivas maquilhadas pela propaganda diária do governo de Pinto de Sousa e de Maria de Lurdes.
Todos não seremos demais aproveitando todos os recursos das nossas organizações profissionais e em primeiro lugar dos sindicatos docente que também precisam de contar connosco.
Se os professores contam é preciso que contem consigo próprios.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Pena dos "governantes"

Que pena que eu tenho dos nossos "governantes". Se eles passam todos os santos dias e os dias santos a fazer propaganda eleitoral, devem ter de passar a "governar", ainda que pouquinho, à noite. Deve ser uma grande estafa. Coitadinhos.

domingo, setembro 28, 2008

Paul Newman - homenagem indirecta

Recolhi dos comentários do blog do Paulo Guinote um comentário da Fernanda que me diz muito do ponto de vista pessoal. Referia-se a um artigo da Pública de hoje.

"Fernanda 1 Diz: Setembro 28, 2008 at 1:52 pm
Tenho aqui o jornal. Mas ainda não li a entrevista.
Li o artigo sobre Paul Newman. E li e reli o começo do artigo. Dizia Paul Newman em 1959:
“Há alguns que são actores natos, intuitivos. Eu não. Representar, para mim, é tão difícil como dragar um rio.É uma experiência dolorosa. Não tenho, muito simplesmente, nenhum talento intuitivo. O meu trabalho inquieta-me e estou sempre a queixar-me das minhas representações.”
Muitos de nós poder-se-ão rever nestas palavras.
E não apenas naquele rosto perfeito e naqueles olhos azuis que enchem o ecran."

Paul Newman, digo eu, continuará vivo durante muitos, muitos anos, pois o que ele representa é da ordem do Humano e não da ordem do efémero. Coisa a afirmar num tempo em que alguns que não resistirão à espuma dos dias se consideram hoje, o máximo.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Citação com direitos de autor

Furtei à 3sa uma citação que sinto também pessoalmente e que faço questão de aqui a colocar:

Despite the formidable difficulties, I remain optimistic, perhaps because there is to me a contradiction in being simultaneously pessimistic and an educator. (A Place called School – John Goodlad, 2004 [1984], p. 361)

domingo, setembro 21, 2008

Para esquecer o Outono

A Isabel no Memórias Soltas foi um pouco mázinha e lembrou-nos a todos que o Verão está a fugir. Para esquecer esse facto e também outros personagens sinistros, deixo aqui esta canção.

sábado, setembro 20, 2008

Solidariedade com Cuba

"Amigos(as)
Aqui segue uma lista de instituições que se encontram a recolher os bens alimentares para ajuda ao povo cubano.O primeiro avião com alimentos parte no dia 24 de Setembro, na próxima 4ª feira. Ainda temos tempo para fazer chegar uma primeira ajuda a estes locais.Depois deste outros se seguirão.Toda a nossa disponibilidade solidária é importante!
Refiro os alimentos necessários:
- leite em pó
- massa
- arroz
- conservas
beijinhos a todos
Manuela Silva

locais de recolha de alimentos:
PORTOCOMCUBA
Rua Barão Forrester, 7904050-272 Porto
Telefones: 962 539 884 / 966 316 201 / 938 460 221
Casa Sindical de Vila do CondeRua do Lidador, 46 - R/C - 4480-791 VILA DO CONDE - Telef. 252631478
Sindicato do Comércio, Escritórios - CESP (Delegação Porto)Rua Fernandes Tomás, 626 - 4000-211 PORTO - Telef. 222073050Delegação do CESP na Póvoa de VarzimRua da Junqueira, 2 - 4490-519 PÓVOA DE VARZIM - Telef. 252621687
CASA SINDICAL (TVC)Av. da Boavista, 583 - 4100-127 PORTO - Telef. 226002377
Sindicato dos Professores do NorteRua D. Manuel II, 51-3.º - 4050-345 PORTO - Telef. 226070500
Sindicato da Construção e MadeirasRua de Santos Pousada, 611 - 4000-487 PORTO - Telef. 225390044
Casa Sindical de Santo TirsoRua Tomás Pelayo, - 4780-557 SANTO TIRSO - Telef. 252855470
União Local de FelgueirasR. dos Bombeiros Voluntários, R/C - Esq.-T. - FELGUEIRAS - Telef. 252631478
Casa Sindical USPRua Padre António Vieira, 195 - 4300-031 PORTO - Telef. 225198600
Casa da Paz - (Secretariado permanente da Campanha)
Rua Rodrigo da Fonseca, 56 - 2º - Lisboa (perto do Marquês de Pombal)
Contactos
Telefones: 213 863 375 / 213 863 575
Fax: 213 863 221
Telemóveis: 962 022 207, 962 022 208, 966 342 254, 914 501 963

Campanha de ajuda humanitária ao povo de Cuba


Porto mobiliza-se para a ajuda ao povo de Cuba

A PORTOCOMCUBA, organização promotora da campanha de ajuda humanitária ao povo de Cuba lançada em Portugal na sequência da dramática devastação provocada pela passagem de dois furacões e uma tempestade tropical, apelou hoje em conferência de imprensa, à mobilização de todos os portugueses em torno do objectivo de, até dia 24 de Setembro, se reunir o maior número de embalagens de Leite em pó, massa, arroz e conservas para a ajuda imediata ao povo cubano.

A PORTOCOMCUBA reafirmou que sempre esteve e sempre estará solidária com o povo cubano nos momentos mais ou menos difíceis da sua história, e que assumirá a ajuda fraterna nesta circunstância de maior necessidade. Apelou ainda à compreensão geral da população em relação a estas necessidades imediatas do povo cubano.
_______________________________________________________________
A União de Sindicatos do Porto também se solidarizou com a campanha de recolha de alimentos para as vítimas dos furacões em Cuba, levada a cabo pela Comissão PortoComCuba."

sexta-feira, setembro 19, 2008

Ideia

Os sindicatos deveriam já estar no terreno, a auscultar os professores. A plataforma deveria ser ressuscitada. Os movimentos que entretanto apareceram não deveriam ser ignorados desde que não ignorem, por sua vez os sindicatos. Os blogs da coisa educativa, alguns dos quais atingem uma proeminência bem merecida, podem e devem estar envolvidos neste processo todo.
Penso estar a criar-se o terreno propício para poder levar a cabo dentro de algum tempo uma nova MegaManif fora de horário lectivo. A qual deveria anteceder-se de uma explicação cuidada dos seus objectivos aos pais.
O lema que me surge na cabeça é: DEIXEM-NOS TRABALHAR.
Penso que transmitiria uma mensagem de grande significado para a população. Não me importava de pagar direitos de autor ao senhor Silva.

Os alunos compensam

Final da primeira semana de aulas: muito trabalho mas os alunos compensam. E também compensam ter de continuar a aturar as malfeitorias mais do que nunca enfeitadas de Pinto de Sousa e da sua troupe.
Ser professor será sempre uma coisa mágica quando se estabelece uma relação de trabalho em que se pretende elevar todos os seus protagonistas.
Nós professores, acima de tudo, temos de não esquecer que os alunos não têm culpa do que eles andam a fazer à Educação e aos professores. Sejamos superiores. Saibamos cultivar a resistência pró-activa inteligente.
E digamos aos sindicatos que estamos cá para lutar, empurrando com ideias ou literalmente as suas direcções para uma atitude activa, que parta sempre de uma ampla e constante audição dos professores.

sábado, setembro 13, 2008

O socialismo dos ricos

Lá fora quando os bancos privados dão lucro são os privados a lucrar, quando dão prejuízos ou estão quase a ir à falência os governos neoliberais nacionalizam-nos fazendo pagar esses prejuízos a todos os contribuintes. Quando voltam a engordar privatizam-nos outra vez.
Por cá, vejam este relato de decisões recentes do partido "socialista" relativamente a grandes grupos económicos.
"Em Março de 2008, o actual governo aprovou a Resolução do Conselho de Ministros nº 55/2008, que passou despercebida à opinião pública e aos media, que vai determinar que a GALP pague menos 211,8 milhões de euros de IRC. Como os principais accionistas da GALP são o grupo Amorim com 33,34% do capital, cujo dono é o homem mais rico de Portugal como noticiaram os jornais, e o grande grupo económico italiano de energia ENI, também com 33,34% do seu capital, serão estes os grandes beneficiados com esta benesse do governo dada à custa das receitas do Estado. Para se poder ficar com uma ideia mais clara que interesses o governo de Sócrates efectivamente defende interessa recordar o seguinte: durante o debate do Orçamento do Estado de 2008, o grupo parlamentar a que o autor deste estudo pertencia apresentou uma proposta com o objectivo de aumentar os escalões do IRS em 3% relativamente aos valores que vigoraram em 2007 devido ao facto da taxa de inflação em 2008 aumentar 3%, e não o 2,1% previsto pelo governo. Apesar desta medida determinar uma redução de receita fiscal que estimamos em apenas 60 milhões de euros, mesmo assim o governo de Sócrates recusou-se aceitá-la. No entanto, oferece de mão beijada 200 milhões de euros do IRC à GALP, quer dizer ao homem mais rico de Portugal e ao grupo económico italiano ENI. É evidente que serão depois principalmente os trabalhadores e os reformados a ter de pagar com os seus impostos este “buraco” criado nas receitas fiscais."
O autor é o economista Eugénio Rosa

sexta-feira, setembro 12, 2008

Que nojo

Quanto à operação de propaganda que o governo fez hoje, dia do diploma e do "cheque", deixo a sua desmontagem para a conferência de imprensa da Fenprof que, em conjunto com dois investigadores da Educação, foi bastante esclarecedora.
Da minha parte em relação a esse assunto só posso expressar o meu profundo nojo pelas manobras demagógicas e nocivas do governo.
Para compensar passei a tarde numa acção de formação sobre Educação Intercultural. As minhas expectativas não eram grandes. Felizmente agradou-me a forma como a temática foi tratada.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Mandatos escolares paralelos

Todos nós sabemos, os que andamos nas escolas, que os mandatos que têm caído em cima das escolas e dos professores são descomunais e impossíveis de responder. Os professores e escolas, na sua grande maioria, tentam responder a estes mandatos excessivos para os quais não estão preparados e não têm meios necessários. As soluções reais passarão evidentemente por mudanças sociais que respondam às necessidades que não deverá caber às escolas resolver. As crianças quando vêm para a escola, deverão vir bem alimentadas, vestidas, bem alojadas, bem educadas em famílias que também elas tenham os recursos necessários para os fornecer às suas crianças. Enquanto isto não acontecer as escolas e os professores irão tentando tapar remendos, fazendo tantas vezes o impossível e sendo acusadas de não conseguir aquilo que se lhes torna inviável conseguir.Que solução proponho para tudo isto: acho que as escolas e os professores, individualmente e colectivamente devem simultâneamente denunciar, propor e agir. Denunciar tudo aquilo que a nível das políticas sociais gerais e educativas geram problemas que caem em cima da escola; exigir mudanças a nível destas políticas; propor soluções verdadeiramente educativas como profissionais que são; agir da forma mais responsável e profissional, ajudando as crianças e jovens que nos cabe educar e que não têm culpa nenhuma das situações difíceis em que tantas vezes estão colocadas. Ainda que pense que um professor possa só querer intervir conscienciosamente dentro da sua escola penso que só no seio duma dinâmica mais geral os problemas educativos se podem resolver. Pensar de outro modo é, na minha opinião, ingenuidade.

Recreios escolares

Hoje ouvi o Eduardo Sá e a Isabel Stilwell no seu programa de rádio da Antena 1. Confesso que não sou grande adepto do estilo e das ideias um pouco melífluas dos dois mas desta vez concordei com o que lá foi dito, especialmente pelo Eduardo Sá, sobre os recreios escolares.
Disse ele e penso eu também que são espaços onde deve haver regras de segurança e onde deve haver uma vigilância não concentracionária de algum agente educativo: apontou ele, por exemplo, animadores. Quanto às regras de segurança disse, inclusivamente, que os pais se deveriam queixar à ASAE relativamente a falta de condições de segurança no sentido de que o ministério/escolas as assegurasse. Quanto à vigilância disse também que ela deveria ser feita por pessoas e não por máquinas de videovigilância.
Quanto à Isabel, começou por dizer que havia demasiada escola, demasiados dias e horas em que as crianças passavam na escola (e deu os exemplos dos países nórdicos, com mais tempos de férias escolares intercalares), ao que o Eduardo lhe respondeu, concordando, que também pensava que mais escola não era necessariamente melhor escola.
P.S. Hoje, li e concordei totalmente com o editorial do José Manuel Fernandes no Público. Coisa inédita para mim.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Lá como cá.

Continuação da citação do post anterior:
"... Lamentavelmente, nem todos os advogados da reforma reconhecem esta verdade. É que nos anos seguintes à publicação, em 1983, de A Nation at Risk, quando o nosso debate nacional sobre educação se tornou um evento mediático "público", fechámos virtualmente os olhos à natureza, aos usos e ao papel do ensino. Não foi bem assim: increpámos com azedume a profissão docente como inqualificada, e concentrámo-nos na amplificação das suas qualificações e competências para ensinar. O ensino tem sido tratado como um mal necessário; quem dera que tivéssemos computadores para o fazer. Alienámos assim, provavelmente, o nosso maior aliado na reforma."
Comentário: há significativas ou quase totais semelhanças em relação às "reformas" nos países capitalistas avançados e com uma diferença de duas décadas em relação a nós. Porque é que isto acontece?

sábado, setembro 06, 2008

Leitura fundamental - Jerome Bruner


Jerome Bruner, reputadíssimo psicólogo e homem que desde sempre esteve envolvido com as questões da Educação escreveu páginas que penso inspirarem qualquer educador que goste de caldear as práticas com as teorias da Educação. É preciso não esquecer que ele foi um dos homens mais envolvidos nos contextos da reforma da Educação americana a partir dos anos 60 e que desde aí acompanha o que se passa nesta área.

Nestas férias tive oportunidade de o conhecer melhor. Gostei especialmente da leitura de um dos seus livros mais recentes, penso eu, "A Cultura da Educação" que data de meados dos anos 90.

Desse livro, que recomendo, vou retirar pequenos excertos que provavelmente irei colocando aqui, no meu cantinho. Começo por este que acho bem significativo para começar.

"Não há reforma educativa que avance sem um adulto activa e seriamente participante - um professor empenhado e preparado para dar e partilhar a ajuda, para confortar e construir apoios. A aprendizagem na sua plena complexidade implica a criação e negociação do significado comum numa cultura mais ampla, e o professor é em geral o representante da cultura. Não é possível um plano curricular à prova de professor, como o não é uma família à prova de pais. E uma tarefa importante no contexto de um esforço de reforma - sobretudo do tipo participativo que atrás sublinhávamos - é trazer os professores ao debate e à configuração da mudança. É que eles são os agentes últimos da mudança. Foi um dedicado corpo docente que, ao fim e ao cabo, transmitiu os ideais da Revolução Francesa - ao longo de quase um século de dedicação." pag 118

sexta-feira, setembro 05, 2008

Continuando a corrente


Vou de seguida referir quais os blogs que frequento. Não sou propriamente um navegante no que a blogs se refere. Só fujo da minha lista quando vejo referências que considero interessantes.
Então e por ordem alfabética:

O blog da Isabel Campeão, pela sensibilidade fina e pela revelação de ricos conteúdos, processos, relações que só uma professora com a sua qualidade nos pode transmitir;


O blog do José Matias Alves pelos conteúdos e referências variadas e principalmente quando nele transparece a vertente crítica;


O Blog do Miguel Pinto, hábil colocador de questões/debates, um perfeccionista da blogosfera e um amigo que ultrapassou a rede;


O do Paulo Guinote, incontornável local de crítica e informação abundante e incisíva.



Os Blogs e site do Ramiro Marques pelo seu activismo, informação actualizada e abundante.


O blog dos bonecos geniais do WEHAVEKAOSINTHEGARDEN.


Evidentemente há muitos mais blogs brilhantes, mas os anteriores foram aqueles com quem fui estabelecendo uma relação mais estável.

quarta-feira, setembro 03, 2008

A máscara de Sócrates

As máscaras colocam-se e retiram-se, no caso dos artistas. No caso de "políticos" como Sócrates, a coisa funciona de forma diferente. Andam com elas permanentemente e, volta e meia, estas vão caindo, especialmente quando alguém lhes aponta os reais problemas ou quando obstáculos reais são colocados às suas limitações políticas.
Foi o que aconteceu agora, nas colocações de professores, com o desemprego de 40 000 pessoas que têm em comum serem formados na profissão de professores.
Sócrates, tal como eu previra em post recente, descartou-se deste real problema com a receita já conhecida: as escolas não são agências de emprego. E para acabar com as perguntas incómodas que ameaçavam desvirtuar o 1.º dia de propaganda virtual do governo na área da Educação rematou com a frase: "Acabaram-se as facilidades". Descartou assim, com penada cínica, o problema/drama de 40 000 pessoas e suas respectivas famílias. Nunca o vi reagir assim, por exemplo, em relação às centenas de milhares de portugueses que estão actualmente no desempego e que vão agora engordar mais, com mais alguns milhares de professores. Aí, a receita demagógica foi: vamos criar 150 000 empregos.
Na Educação, tal é a crispação que lhe faz cair a máscara, Sócrates reage assim, sem o mínimo de compaixão que se poderia pensar ser normal num "socialista".
Nos artistas as máscaras são recursos fundamentais e apreciáveis. Nos "políticos" como Sócrates são artifícios que me fazem desligar a televisão.

terça-feira, setembro 02, 2008

Agradecimento

Agradeço sinceramente ao senhor primeiro ministro e à senhora que vocês sabem por perder cada vez menos tempo, quase nenhum, com a porcaria da televisão.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Contra a corrente

Entrevista muito interessante a Dermeval Saviani:
«No último Cole (Congresso de Leitura), realizado na Unicamp, foi consensual a opinião de que a escola está há muito deixando de lado o seu papel de educar e de formar o cidadão. O senhor concorda?
O que eu tenho constatado e também tem sido um dos vetores das lutas que travamos desde a segunda metade da década de 70, é uma certa tendência a deslocar aquilo que me parece ser o papel principal da escola. Entendo que ela tem a ver com o saber sistematizado, com a cultura letrada, com o saber científico. Não com o senso comum, o saber espontâneo, o saber da experiência, ou aquilo que é chamado de cultura popular. Por quê? O que se pode constatar é que, para desenvolver a cultura popular, não se precisa da escola. Agora, na medida em que se desenvolveu uma tendência que desvalorizava ou secundarizava a cultura erudita e valorizava a cultura popular e, por conta disso, passou-se a taxar a escola como alienante, como instrumento de dominação por estar ligada à norma culta, comecei a me perguntar: em que grau isso é realmente transformador? Em que grau isto não vai fazer o jogo da dominação existente? A escola seria uma forma do homem do povo ter acesso ao saber elaborado, sem o que esse tipo de saber fica privilégio das elites.
Houve reação a esta posição?
Passei a me bater contra a tendência a diferenciar as escolas: a das massas e a das elites, esta última qualitativamente mais desenvolvida. Isso me colocou num certo momento num embate com os seguidores do Paulo Freire, que viam nas minhas formulações uma contraposição a esse educador, embora minha crítica não se dirigisse propriamente a Paulo Freire, mas a essa visão de escola que secundarizava a importância do saber elaborado.
Como o senhor reagiu?
Essa visão de escola sempre me intrigou, porque era como se você nas escolas devesse fazer discurso político. Como esse discurso vai se sustentar se não existe conteúdo das várias áreas que os alunos viriam a dominar? Então esse discurso acaba deixando os trabalhadores sempre na dependência dos intelectuais. Isso me chocava. Os defensores da escola centrada no saber elaborado eram acusados como tendo uma visão vanguardista. A crítica era na seguinte direção: o povo é que deve estar na direção do movimento e os intelectuais têm que se deixar dirigir pelas próprias massas. É aí que reside o problema: como as massas podem exercer a função de dirigentes se elas não estão instrumentalizadas? A democracia deve ser buscada, mas ela não está no ponto de partida e sim no ponto de chegada.
O senhor poderia explicar?
Quando vou, por exemplo, me relacionar com os analfabetos, é uma falácia acreditar-se que posso ter uma relação democrática com a criança ou aluno. Não há democracia aí porque ele está numa posição em que depende do meu auxílio para adquirir determinados instrumentos. O processo pedagógico é que deve elevá-lo. No ponto de chegada, sim. Uma vez alfabetizado, ele se torna capaz não apenas de se expressar oralmente, como também por escrito. E o que funda a relação pedagógica é exatamente essa diferença. Aí sim a diferença é removida e a igualdade se estabelece. Aí pode ser travada uma relação democrática. É claro que essas coisas têm níveis diferentes de análises. Foi essa discussão que se travou nas décadas de 1970 e 1980.
E na década de 1990?
Ao longo da década de 1990, esses problemas tenderam a se deslocar para um plano secundário, ou até mesmo foram superados. Aí surgiu esse fenômeno que está sendo constatado agora, ou seja, os próprios agentes governamentais assumindo essa visão de que a escola deve ter mais uma função assistencial do que propriamente de formação intelectual, de preparo cultural.
O senhor poderia exemplificar?
A função assistencial não é específica da escola. Se você considera que é preciso políticas sociais nesse campo porque as famílias não estão mais dando conta de sobreviver, trata-se de política compensatória que você pode fazer via secretarias de assistência social.
O senhor acha que existe essa confusão hoje no Brasil?
Não só acho que há uma confusão, como acho que as políticas educacionais governamentais no nível do MEC têm estimulado esse viés assistencialista. Acho que há aí um componente econômico-financeiro associado ao ponto de vista ideológico. Do ponto de vista econômico-financeiro, como se trata de ajustar o país à hegemonia do capitalismo financeiro, que envolve fazer ajustes e garantir o serviço da dívida, os recursos têm que ser canalizados para essas prioridades. E como é que você atende às necessidades sociais? Você apela para a comunidade, para o voluntariado... Há um componente ideológico também no seguinte sentido: entende-se que a integração da população se daria por esses mecanismos, mais ou menos informais, porque numa sociedade que atingiu alto nível de desenvolvimento tecnológico, transfere-se para as máquinas boa parte dos processos de trabalho, de produção, de comunicação. E o gerenciamento dessas máquinas, assim como a direção do processo social, depende de um conjunto relativamente restrito de técnicos, de intelectuais...A população de um modo geral não precisa ter acesso aos conhecimentos sistemáticos e nem é conveniente que tenha porque isso é custoso e não seria necessário.
O senhor acredita que essa política é deliberada?
Sim. Um outro componente dessa visão ideológica é que os conhecimentos que a população precisa dominar são mais os do dia a dia. O importante não é estar empregado, mas ser empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e capacidade de adaptação. E você se adapta na medida em que você convive, se relaciona. Então os conhecimentos sistemáticos tendem a ser secundarizados. A questão que se põe, que precisa ser pensada, é se isto tenderia a alterar substantivamente o caráter da escola. Se isto é um indicador de que a sociedade está mudando e que, com a mudança da sociedade, a natureza da escola também está mudando.
O que pode ser feito?
Termos que resistir a essa tendência dominante. Mas essa resistência vinha se manifestando a meu ver de forma passiva e individual. Então eu postulei a resistência implicando duas características: 1) que ela seja organizada e coletiva e 2) que ela seja propositiva. Não adianta resistir na base do não concordo. O governo baixa um decreto e eu manifesto minha discordância. Isso não se impõe. Quando muito, pelo que tenho observado, se a grita é mais ou menos geral, o governo faz recuo tático. Para dar eficácia a esse movimento de resistência, propus a estratégia que chamei de resistência ativa. E é um pouco nessa linha que o Coned –Congresso Nacional de Educação- se organizou para discutir o Plano Nacional de Educação, contrapondo uma proposta àquela do governo. De minha parte fiz algo parecido: formulei as linhas básicas do Plano Nacional de Educação, ao mesmo tempo em que confrontei a proposta do MEC com a posição que surgiu no Coned, com a qual a minha proposta tem várias afinidades e objetivos comuns, mas tem alguns aspectos diferenciados, seja do ponto de vista das diretrizes e de algumas medidas... « http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2002/unihoje_ju194pag05.html

sábado, agosto 30, 2008

"Trocar de Povo"

“Pesquisa recente concluiu que a elite brasileira é mais moderna, ética, tolerante
e inteligente do que o resto da população. Nossa elite, tão atacada através dos
tempos, pode se sentir desagravada com o resultado do estudo, embora esse
tenha sido até modesto nas suas conclusões. Faltou dizer que, além das suas outras
virtudes, a elite brasileira é mais bem vestida do que as classes inferiores, tem
melhor gosto e melhor educação, é melhor companhia em acontecimentos sociais
e é incomparavelmente mais saudável. E que dentes!
A pesquisa reforça uma tese que tenho há anos segundo a qual o Brasil, para dar
certo, precisa trocar de povo. Esse que está aí é de péssima qualidade. Não sei
qual seria a solução. Talvez alguma forma de terceirização, substituindo-se o que
existe por algo mais escandinavo” (Verissimo, 2007).http://www.revista.epsjv.fiocruz.br//include/mostrarpdf.cfm?Num=185



Lá como cá: trocar de povo; trocar de atletas...

sexta-feira, agosto 29, 2008

Cinismo

A respeito das dezenas de milhares de professores formados que ficam sem colocação anualmente são tecidos pelos governantes e reproduzidos por muitas pessoas, algo como isto: " as escolas ou o Estado não são feitas para dar empregos".
Os sindicatos muitas vezes reagem, e bem, apontando como muitos dos milhares que ficam no desemprego são fruto de escolhas e decisões políticas. Em Portugal, por exemplo, tem havido decisões que remetem para o desemprego e precariedade absoluta dezenas de milhares de professores, num quadro social em que existem necessidades de Educação e qualificação escolar e profissional enorme se comparados com outros países. Um contrassenso portanto. Dizem também os sindicatos, e bem, que foram decisões políticas que deixaram formar-se para professores, com o seu total beneplácito e sem informar sequer os jovens que as saídas futuras poderiam estar vedadas...
Eu acho, no entanto, que num plano mais geral - que tantas vezes não conseguimos ter pois estamos remetidos a visões de curto prazo, - há que afirmar uma coisa fundamental: uma Sociedade Civilizada e de Direito não pode fazer dos seus cidadãos seres remetidos para meros instrumentos de uma economia ao serviço do interesse de alguns. A Economia como prática social deve estar feita e organizada para satisfazer as necessidades dos seus Cidadãos.
Dizer simplesmente às pessoas que se formaram ainda por cima no Ensino Superior que simplesmente se desenrasquem é cúmulo de cinismo. Compreendo os pobres de compreensão que caem na esparrela de reproduzir tais irraciocínios. Aos outros, esses, é preciso combatê-los também aqui, no campo das ideias comuns.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Dermeval Saviani

Dermeval Saviani é um nome consagrado da Pedagogia brasileira. Acabei de reler o seu célebre livro Escola e Democracia e em pesquisa na net encontrei o seu site. Vale a pena explorá-lo. Aqui deixo um pequeno excerto de uma entrevista a servir de aperitivo para mais leituras deste autor. Os problemas da Educação são muito semelhante por esse mundo fora. No caso desta entrevista vejam as semelhanças notórias entre questões da política da Educação no Brasil com as do Portugal actual.
"2. Existe realmente esta “cultura da repetência” que o ministro da educação Paulo Renato alega existir?
R. Não considero apropriada a expressão “cultura da repetência”. A palavra “cultura” remete à noção de “sistema de valores”, como se pode observar na definição clássica de cultura que a considera como os modos de pensar, agir e sentir de um povo. Ora, nesse contexto, cultura da repetência estaria significando que a repetência é tida como um valor positivo levando os professores a considerar que reprovar é bom, isto é, o bom professor é aquele que reprova. Admitidas as exceções de praxe, entendo que não é esse o sentimento dominante entre os professores. Afinal, há cerca de 70 anos (recorde-se o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova lançado em 1932) vem sendo execrada a figura do professor tradicional, autoritário, aquele que estaria sempre de algum modo predisposto a lançar mão do instrumento da reprovação para se impor diante dos alunos. Nessas circunstâncias, o recurso à expressão “cultura da repetência” não passa de uma maneira de mascarar as condições precárias a que estão relegadas as escolas públicas, condições essas que impedem os professores de ensinar e os alunos de aprender, levando aos altos índices de repetência apurados pelas pesquisas. Não é, pois, por acaso que a referida expressão freqüenta, geralmente, o discurso dos governantes que têm sob seu encargo a formulação e execução da política educacional. Mascarando as razões reais da repetência com a alegada “cultura da repetência”, eles elidem, assim, a própria responsabilidade diante dessa situação. Assumindo uma diretriz política que comprime cada vez mais os investimentos em educação, o que agrava as suas condições precárias, eles tentam jogar para os professores e para a própria população a responsabilidade por esse estado de coisas. "
"4. O ministro Paulo Renato defende a promoção automática como solução para reduzir com a repetência. O senhor acha que isso é solução? Por que?
R. Definitivamente, a promoção automática não é solução para o problema da repetência. Isto porque, como se infere da própria denominação, a passagem é automática, isto é, os alunos são promovidos independentemente do que fizeram ou deixaram de fazer. Ou seja, quer se tenha atingido os objetivos quer não, tenham ou não preenchido os requisitos, a aprovação irá ocorrer. Deixa de ser relevante, assim, o desempenho tanto dos alunos como dos professores. Coisa diversa é o empenho em se atingir a meta da “repetência zero”, vale dizer, o objetivo de que todos sejam promovidos. Aqui se trata de criar as condições para que todos os alunos atinjam os objetivos definidos para os diversos componentes curriculares que integram o processo de ensino-aprendizagem. Em verdade, a defesa da promoção automática se liga mais ao objetivo de melhorar as estatísticas dos serviços educacionais do que ao objetivo de garantir a qualidade do ensino. Com efeito, tenho observado que os atuais responsáveis pela política educacional parecem mais preocupados em melhorar as estatísticas educacionais do que em melhorar a qualidade das escolas. Assim, se se adotasse imediatamente a promoção automática, os índices de repetência tenderiam a cair para zero e estatisticamente o problema estaria resolvido. No entanto, nem por isso a situação das escolas se alteraria, permanecendo o mesmo quadro de deficiências e precariedades que se associam, hoje, aos altos índices de repetência. O que precisa ser feito é equipar adequadamente as escolas e instituir uma carreira digna para o corpo docente como fizeram os países que, a partir do final do século passado, implantaram os seus sistemas nacionais de ensino, universalizando o ensino fundamental e, em conseqüência, erradicando o analfabetismo. Em condições adequadas o normal é que as crianças aprendam sendo, portanto, promovidas. Assim, resolve-se o problema da repetência porque as crianças, de fato, aprendem e não porque se decretou a promoção automática."
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