sábado, agosto 30, 2008

"Trocar de Povo"

“Pesquisa recente concluiu que a elite brasileira é mais moderna, ética, tolerante
e inteligente do que o resto da população. Nossa elite, tão atacada através dos
tempos, pode se sentir desagravada com o resultado do estudo, embora esse
tenha sido até modesto nas suas conclusões. Faltou dizer que, além das suas outras
virtudes, a elite brasileira é mais bem vestida do que as classes inferiores, tem
melhor gosto e melhor educação, é melhor companhia em acontecimentos sociais
e é incomparavelmente mais saudável. E que dentes!
A pesquisa reforça uma tese que tenho há anos segundo a qual o Brasil, para dar
certo, precisa trocar de povo. Esse que está aí é de péssima qualidade. Não sei
qual seria a solução. Talvez alguma forma de terceirização, substituindo-se o que
existe por algo mais escandinavo” (Verissimo, 2007).http://www.revista.epsjv.fiocruz.br//include/mostrarpdf.cfm?Num=185



Lá como cá: trocar de povo; trocar de atletas...

sexta-feira, agosto 29, 2008

Cinismo

A respeito das dezenas de milhares de professores formados que ficam sem colocação anualmente são tecidos pelos governantes e reproduzidos por muitas pessoas, algo como isto: " as escolas ou o Estado não são feitas para dar empregos".
Os sindicatos muitas vezes reagem, e bem, apontando como muitos dos milhares que ficam no desemprego são fruto de escolhas e decisões políticas. Em Portugal, por exemplo, tem havido decisões que remetem para o desemprego e precariedade absoluta dezenas de milhares de professores, num quadro social em que existem necessidades de Educação e qualificação escolar e profissional enorme se comparados com outros países. Um contrassenso portanto. Dizem também os sindicatos, e bem, que foram decisões políticas que deixaram formar-se para professores, com o seu total beneplácito e sem informar sequer os jovens que as saídas futuras poderiam estar vedadas...
Eu acho, no entanto, que num plano mais geral - que tantas vezes não conseguimos ter pois estamos remetidos a visões de curto prazo, - há que afirmar uma coisa fundamental: uma Sociedade Civilizada e de Direito não pode fazer dos seus cidadãos seres remetidos para meros instrumentos de uma economia ao serviço do interesse de alguns. A Economia como prática social deve estar feita e organizada para satisfazer as necessidades dos seus Cidadãos.
Dizer simplesmente às pessoas que se formaram ainda por cima no Ensino Superior que simplesmente se desenrasquem é cúmulo de cinismo. Compreendo os pobres de compreensão que caem na esparrela de reproduzir tais irraciocínios. Aos outros, esses, é preciso combatê-los também aqui, no campo das ideias comuns.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Dermeval Saviani

Dermeval Saviani é um nome consagrado da Pedagogia brasileira. Acabei de reler o seu célebre livro Escola e Democracia e em pesquisa na net encontrei o seu site. Vale a pena explorá-lo. Aqui deixo um pequeno excerto de uma entrevista a servir de aperitivo para mais leituras deste autor. Os problemas da Educação são muito semelhante por esse mundo fora. No caso desta entrevista vejam as semelhanças notórias entre questões da política da Educação no Brasil com as do Portugal actual.
"2. Existe realmente esta “cultura da repetência” que o ministro da educação Paulo Renato alega existir?
R. Não considero apropriada a expressão “cultura da repetência”. A palavra “cultura” remete à noção de “sistema de valores”, como se pode observar na definição clássica de cultura que a considera como os modos de pensar, agir e sentir de um povo. Ora, nesse contexto, cultura da repetência estaria significando que a repetência é tida como um valor positivo levando os professores a considerar que reprovar é bom, isto é, o bom professor é aquele que reprova. Admitidas as exceções de praxe, entendo que não é esse o sentimento dominante entre os professores. Afinal, há cerca de 70 anos (recorde-se o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova lançado em 1932) vem sendo execrada a figura do professor tradicional, autoritário, aquele que estaria sempre de algum modo predisposto a lançar mão do instrumento da reprovação para se impor diante dos alunos. Nessas circunstâncias, o recurso à expressão “cultura da repetência” não passa de uma maneira de mascarar as condições precárias a que estão relegadas as escolas públicas, condições essas que impedem os professores de ensinar e os alunos de aprender, levando aos altos índices de repetência apurados pelas pesquisas. Não é, pois, por acaso que a referida expressão freqüenta, geralmente, o discurso dos governantes que têm sob seu encargo a formulação e execução da política educacional. Mascarando as razões reais da repetência com a alegada “cultura da repetência”, eles elidem, assim, a própria responsabilidade diante dessa situação. Assumindo uma diretriz política que comprime cada vez mais os investimentos em educação, o que agrava as suas condições precárias, eles tentam jogar para os professores e para a própria população a responsabilidade por esse estado de coisas. "
"4. O ministro Paulo Renato defende a promoção automática como solução para reduzir com a repetência. O senhor acha que isso é solução? Por que?
R. Definitivamente, a promoção automática não é solução para o problema da repetência. Isto porque, como se infere da própria denominação, a passagem é automática, isto é, os alunos são promovidos independentemente do que fizeram ou deixaram de fazer. Ou seja, quer se tenha atingido os objetivos quer não, tenham ou não preenchido os requisitos, a aprovação irá ocorrer. Deixa de ser relevante, assim, o desempenho tanto dos alunos como dos professores. Coisa diversa é o empenho em se atingir a meta da “repetência zero”, vale dizer, o objetivo de que todos sejam promovidos. Aqui se trata de criar as condições para que todos os alunos atinjam os objetivos definidos para os diversos componentes curriculares que integram o processo de ensino-aprendizagem. Em verdade, a defesa da promoção automática se liga mais ao objetivo de melhorar as estatísticas dos serviços educacionais do que ao objetivo de garantir a qualidade do ensino. Com efeito, tenho observado que os atuais responsáveis pela política educacional parecem mais preocupados em melhorar as estatísticas educacionais do que em melhorar a qualidade das escolas. Assim, se se adotasse imediatamente a promoção automática, os índices de repetência tenderiam a cair para zero e estatisticamente o problema estaria resolvido. No entanto, nem por isso a situação das escolas se alteraria, permanecendo o mesmo quadro de deficiências e precariedades que se associam, hoje, aos altos índices de repetência. O que precisa ser feito é equipar adequadamente as escolas e instituir uma carreira digna para o corpo docente como fizeram os países que, a partir do final do século passado, implantaram os seus sistemas nacionais de ensino, universalizando o ensino fundamental e, em conseqüência, erradicando o analfabetismo. Em condições adequadas o normal é que as crianças aprendam sendo, portanto, promovidas. Assim, resolve-se o problema da repetência porque as crianças, de fato, aprendem e não porque se decretou a promoção automática."
A ligação para o site encontra-se aqui.

quarta-feira, agosto 27, 2008

"Burlesconi"

"Berlusconi está a escrever as 14 canções românticas para o CD, que deve sair no Natal. Mas não canta. Apicella, antigo cantor de casamentos napolitano, é que dará voz às letras do chefe de governo italiano, em que não haverá espaço para politiquices. "O CD não toca quaisquer temas políticos, é só sobre o amor", (sublinhado meu) garantiu Apicella ao jornal italiano La Repubblica."
Esta notícia vem nas páginas interiores do jornal O Público (Pessoas), tem mais de um quarto de página e só a fotografia ocupa esse quarto de página. Artistas como Madonna ou Johnny Depp litmitam-se a ter uma fotografiazinha que é uma décima parte da do italiano. Enfim, jornais de referência obrigam!
Mas isto não tem nada de política, este meu post. Estou apenas a juntar palavras. É o meu jogo preferido.

domingo, agosto 24, 2008

De novo Madureira Pinto

Continuando a percorrer as paisagens discursivas de Madureira Pinto, que tanto aprecio, aqui vos deixo com uma citação/aperitivo/link para mais um interessantíssimo texto dele sobre a Escola e seus contextos.

Os professores têm a obrigação de ter um discurso e um pensamento sobre a educação que vão para além do senso comum já tão mastigado mas tão falso como aparentemente verdadeiro. MP é um desses intelectuais que nos pode ajudar a essa reflexão tão importante, a nós que também somos ou nos deveríamos assumir como intelectuais.

"A escola não tem o direito de se divorciar do que possa ocorrer, na vida de cada jovem,
a jusante do sistema educativo, e isso porque, além do mais, como já se disse, as
tendências, reais ou inventadas, que aí se inscrevem interferem, para o bem e para o
mal, na definição dos seus projectos e, portanto, na relação que o mesmo jovem
estabelece, dia a dia, com a própria escolarização."

Leitura fundamental

Um dos intelectuais portugueses pelos quais nutro profunda admiração é o sociólogo José Madureira Pinto. Nos últimos tempos escreveu algumas das palavras mais lúcidas sobre as políticas de Educação em Portugal.
Um artigo que saiu no jornal o Público já aqui o reproduzi anteriormente. Hoje remeto para uma entrevista com muitas ideias importantes e essenciais onde faz uma leitura crítica e incisiva sobre os problemas actuais da Educação, incluindo aqueles que o actual governo traz para a área, com as suas pretensas políticas reformadoras.
Há que salientar no entanto que muito mais do que uma crítica às decisões do governo as palavras de Madureira Pinto são duma clarividência e duma auto-informação pouco vista nos intelectuais da nossa praça.
As citações que de seguida faço, dessa entrevista ao jornal A Página, são bem eloquentes e por outro lado fogem bem ao sentido comum que os neoliberais tentam disseminar na opinião pública com a ajuda dos potentes meios de "comunicação" de massa.
1.

não se pode exigir ao sistema educativo níveis de
qualidade que muitos outros domínios da sociedade portuguesa não alcançaram.
Considero até – e esta é a minha tese – que algumas das limitações que ainda
subsistem no sistema educativo decorrem mais das debilidades e dificuldades da
sociedade portuguesa em geral do que propriamente da incapacidade do sistema
e dos seus principais actores, os professores, que não são, ao contrário do que se
afirma, o elo mais frágil do sistema educativo.
"
2.
"não se pode deixar de questionar a incapacidade do sistema económico
em absorver o conjunto dos licenciados saídos do sistema, problema que,
na minha opinião, finge-se não existir. Mas ele começa a colocar problemas sérios,
porque estamos a falar já de largas dezenas de milhar de jovens licenciados que
não têm emprego ou que apenas conseguem colocação em trabalhos onde se
exige aptidões inferiores às suas qualificações escolares."

Mas mais do que estas citações, as ideias de Madureira Pinto valem como um todo. Confesso que anteriormente a este autor, da área da sociologia, só um outro, noutra perspectiva, me pareceu, por dentro, interpretar tão bem as dinâmicas da nossa Educação: o saudoso, Rui Grácio.

sábado, agosto 23, 2008

Isomorfismos

A Educação e outras instituições estão dentro das sociedades a que pertencem. Se a Sociedade é "desenvolvida" é normal que as suas instituições, tais como a Educação ou o Desporto que nela existam também o sejam. O contrário também será normal.
Em Portugal, provavelmente como fuga às frustrações quotidianas, ou como forma ideológica de usar argumentos, os portugueses são exigentes em quererem ver resultados no Desporto e na Educação que estão bem acima de outros indicadores sociais. É preciso não esquecer, por exemplo, que Portugal tem a maior ou das maiores percentagens de pobres da Europa e que é das sociedades mais desiguais, em que o fosso entre os mais ricos e os mais pobres é mais cavado.
É verdade que, por exemplo, no Futebol, a nossa selecção atinge voos bem altos, muito acima daquilo que seria de esperar dum país como o nosso. Mas aqui não é surpreendente pois pode bem ver-se quanto é alto o investimento económico-político neste desporto que é cada vez mais espectáculo e indústria e menos desporto.
Se Portugal investisse na Educação tanto como investe no Futebol, com certeza saltaríamos uns furos bem para cima.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Ministro da Educação abre fogo sobre estudantes

No dia 27 de Junho de 2008 o ministro da Educação do Iraque, "Khudayer al-Khuza'i", encontrava-se de visita a um dos centros de exame final no campus da faculdade de Educação situada no distrito "Seba' Abkar" da cidade de Adhamiya. Quando o ministro entrou no centro, os estudantes começaram a queixar-se das suas péssimas condições: não havia energia para pôr a ventilação a funcionar, a temperatura era de 55º C e não havia água para beber. Os estudantes também relataram ao ministro muitos outros problemas que se lhes punham e que lhes dificultava muito a realização dos seus exames finais. Ao ouvir as queixas daqueles estudantes frustrados, o ministro da Educação puxou da pistola e começou a alvejar os estudantes com balas verdadeiras. Em simultâneo os seus guarda-costas começaram a disparar à toa sobre os estudantes. Foram mortos e feridos muitos estudantes iraquianos inocentes neste terrível incidente.
À beira deste a dita cuja sai beneficiada.

A não esquecer

"olvidar es proprio de los seres humanos y recordar es tarea de los profesores"
M. Fernández Pérez

segunda-feira, agosto 18, 2008

Sócrates, o sofista.

Sócrates, - o personagem histórico português não o grego, - tem apenas um defeito: imita pessimamente o Ricardo Araújo Pereira dos Gatos Fedorentos.
Tive hoje oportunidade de confirmar isso mesmo, quando ele disse que estamos perto de concretizar a meta do governo de criar 150 000 empregos. Ainda perorou sobre os pessimistas de ideologias diferentes da dele que não queriam saber das estatísticas dos órgãos estatais.
Apenas uma pergunta: e quantos empregos foram destruídos neste mesmo período, senhor Sócrates?
Sócrates o grego foi um filósofo verdadeiro que viveu na altura em que existiam uns sofistas que com retóricas manhosas levavam a vidinha.
O nosso homónimo português saiu mais aos outros. Digo eu. E o que acham da minha opinião sobre a terrível imitação que ele faz do Ricardo Pereira?