domingo, agosto 24, 2008

Leitura fundamental

Um dos intelectuais portugueses pelos quais nutro profunda admiração é o sociólogo José Madureira Pinto. Nos últimos tempos escreveu algumas das palavras mais lúcidas sobre as políticas de Educação em Portugal.
Um artigo que saiu no jornal o Público já aqui o reproduzi anteriormente. Hoje remeto para uma entrevista com muitas ideias importantes e essenciais onde faz uma leitura crítica e incisiva sobre os problemas actuais da Educação, incluindo aqueles que o actual governo traz para a área, com as suas pretensas políticas reformadoras.
Há que salientar no entanto que muito mais do que uma crítica às decisões do governo as palavras de Madureira Pinto são duma clarividência e duma auto-informação pouco vista nos intelectuais da nossa praça.
As citações que de seguida faço, dessa entrevista ao jornal A Página, são bem eloquentes e por outro lado fogem bem ao sentido comum que os neoliberais tentam disseminar na opinião pública com a ajuda dos potentes meios de "comunicação" de massa.
1.

não se pode exigir ao sistema educativo níveis de
qualidade que muitos outros domínios da sociedade portuguesa não alcançaram.
Considero até – e esta é a minha tese – que algumas das limitações que ainda
subsistem no sistema educativo decorrem mais das debilidades e dificuldades da
sociedade portuguesa em geral do que propriamente da incapacidade do sistema
e dos seus principais actores, os professores, que não são, ao contrário do que se
afirma, o elo mais frágil do sistema educativo.
"
2.
"não se pode deixar de questionar a incapacidade do sistema económico
em absorver o conjunto dos licenciados saídos do sistema, problema que,
na minha opinião, finge-se não existir. Mas ele começa a colocar problemas sérios,
porque estamos a falar já de largas dezenas de milhar de jovens licenciados que
não têm emprego ou que apenas conseguem colocação em trabalhos onde se
exige aptidões inferiores às suas qualificações escolares."

Mas mais do que estas citações, as ideias de Madureira Pinto valem como um todo. Confesso que anteriormente a este autor, da área da sociologia, só um outro, noutra perspectiva, me pareceu, por dentro, interpretar tão bem as dinâmicas da nossa Educação: o saudoso, Rui Grácio.

2 Comentários:

Blogger IC disse...

A primeira citação que fazes faz lembrar aquelas verdades que, depois de ditas, parecem evidentes, mas que ainda ninguém tinha dito (exagero meu, no caso; decerto já foi dito, mas pouco).

Outra grande verdade que MP diz na entrevista (obrigada por a indicares, não a tinha lido) é de ordem bem prática, mas também não podemos contar com certos gastos em educação que são de evidente necessidade: "diminuição drástica do número de alunos na sala de aula. Ou dando a aula com
mais de um professor, porque não? Poder-se-á argumentar que são medidas financeiramente
dispendiosas, mas se queremos, de facto, apostar seriamente na
educação, fazer dela o vector estratégico para o país sair da situação difícil em que
se encontra, então é preciso investir."
Nisto, não penso que a falta de vontade seja especialmente deste governo. Nunca vimos, e provavelmente continuaremos a não ver, uma verdadeira prioridade à Educação no OGE.

Henrique, aproveito para te dar as boas-vindas de férias "blogosféricas" :)
(O meu cantinho vai prolongá-las, pode ser que carregue as baterias em Setembro)

1:23 da manhã  
Blogger henrique santos disse...

Obrigado Isabel. E até Setembro.

6:42 da tarde  

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