sábado, abril 29, 2006

O Ministério e os professores.

O Ministério da Educação (ME) tinha prometido entregar em Março as suas propostas de revisão do Estatuto da Carreira Docente do ensino não superior. Estamos em fim de Abril e... nada. As propostas com certeza trarão muitas novidades que não serão do agrado dos professores nem dos seus sindicatos. Poderão provocar conflitos, graves mesmo, caso o ME, decida impor essas propostas sem obter acordos significativos.
Algumas hipóteses se colocam:
1.ª-o ME espera pelo fim do ano, deixa realizarem-se os exames e, quando os professores estiverem em férias avança;
2.ª-o ME avança já agora ou um pouco mais à frente, negoceia com manobras dilatórias e toma decisões na mesma altura referida na primeira hipótese;
3.ª-igual à 2.ª, mas as decisões são tomadas antes do fim do ano.
Os atrasos na entrega das propostas fazem pensar que o ME enverede pela 1.ª ou 2.ª hipótese, mas a prática deste ME já demostrou, por várias vezes, como gosta de se mostrar "musculado".
Por mim, se tivesse que apostar, apostava na 3.ª. É cá um palpite.

quinta-feira, abril 27, 2006

Nuno "Suslov" Crato?

No tempo da Ex-União Soviética, Suslov foi durante muitos anos, o ideólogo mais famoso do regime, dizia-se.
Nas minhas navegações pela rede e pela blogosfera, li extractos do livro de Nuno Crato de crítica ao denominado "eduquês", assim como algumas entrevistas do autor a propósito da saída do livro. Confesso que não lí o livro, apenas capítulos. Tenho a ideia, porventura errada, que já conheço o teor da obra, não valendo a pena lê-lo todo.
Mas voltando ao Suslov, e fazendo a relação, verifiquei que várias medidas tomadas pelo actual Ministério da Educação coincidem com sugestões do Nuno Crato. Será só coincidência, ou o Nuno Crato tornou-se o ideólogo oficial do Ministério da Educação?
Quanto ao conteúdo da ideologia voltarei, talvez, mais tarde.

terça-feira, abril 25, 2006

"Palavras, palarvas, parlavas..."

Li algures que as palavras servem igualmente ou para traduzir sinceramente ou para esconder intencionalmente o nosso pensamento. Penso até que há quem queira traduzir sinceramente o seu pensamento e não o consiga fazer ou aqueles que escondem o seu pensamento sem o fazerem intencionalmente.
Tudo isto assaltou o meu pensamento ao ouvir as preocupações com as desigualdades e a exclusão social expressas no discurso de 25 de Abril do nosso presidente. Confesso que tenho alguma dificuldade em classificar as preocupações do nosso presidente no quadro, talvez estreito, que expús no primeiro parágrafo. Os discursos têm contextos mais ou menos amplos e muitas leituras são possíveis. Alguns apenas nos inspirarariam espanto não fora essa capacidade tão especificamente humana, penso eu, e espontânea, de nos indignarmos com a mentira... tal como a interpretamos.

sábado, abril 22, 2006

"DESENCANTO DOS DIAS"

"DESENCANTO DOS DIAS

Não era afinal isto que esperávamos
não era este o dia
Que movimentos nos consente?
Ah ninguém sabe
como és ainda possivel poesia
neste país onde nunca ninguém viu
aquele grande dia diferente"

poema de Ruy Belo

A poucos dias de mais um aniversário do 25 de Abril de 1974, este poema, mostra-se "intemporal" e simultaneamente "situado" como me parece ser a Arte.

sexta-feira, abril 21, 2006

Rui Grácio: citações sobre insucesso escolar.

Rui Grácio dedicou vários textos ao tema do insucesso escolar. Valem pela sua leitura total. Aqui reproduzimos algumas citações que respigamos num desses textos incluídos nas suas Obras Completas.
"1. O insucesso escolar dos alunos exprime-se institucionalmente em fenómenos de repetência e abandono prematuro do sistema educativo. Ambos traduzem uma inadaptação dos alunos às normas da instituição escolar, inadaptação que pode manifestar-se em dificuldades de aprendizagem e em desvios de normas disciplinares (do alheamento profundo à grave insubordinação), dificuldades e desvios que frequentemente se combinam e mutuamente se determinam e reforçam. A inadaptação e, portanto, o insucesso escolar, são pois conceitos relativos: só têm sentido em relação a uma determinada instituição escolar, a um certo momento do percurso escolar nessa instituição, a certas normas e expectativas desta. Por outro lado, está subentendida outra relação: a que compara os resultados de um aluno com os de outros implicados nos mesmos estudos"...
"... existe uma copiosa literatura sobre os aspectos afectivos, emocionais, personalísticos do comportamento dos alunos, bem como sobre a importância da trama de relações interpessoais que o implicam..."
"... certas experiências e inovações da pedagogia escolar vieram realçar a importância das atitudes e comportamentos do professor na natureza e qualidade da relação pedagógica; tais estudos e experiências comprovaram a influência favorável no aproveitamento escolar dos alunos - portanto na remoção ou minoração do insucesso escolar - de certas atitudes do professor: aceitação da pessoa do aluno, empatia com relação às suas dificuldades, encorajamento dos aspectos positivos da sua conduta. Tais atitudes seriam o suporte de uma relação pedagógica produtiva, porque valorizadora da identidade pessoal do aluno, e, assim condição basilar da sua evolução favorável, do seu construtivo progresso, do seu sucesso escolar."
"Os contributos, científicos e experienciais, da pedagogia são enriquecedores para a compreensão e eficácia do processo educativo escolar. Esses contributos não devem, porém, circunscrever-se às dimensões individuais e relacionais que isolam a vida escolar e, mais amplamente, o subsistema educativo, do sistema social englobante. Na verdade a psicopedagogia, por si só, não pode explicar o carácter maciço e socialmente determinado do fenómeno do insucesso escolar, carácter impossível hoje de contestar."
"... Pela dupla função selectiva e ideológica, a escola colaboraria, assim, na "reprodução" da divisão social e técnica do trabalho e das relações de hierarquia social. Assim, diremos que é só aparente paradoxo afirmar-. "o insucesso escolar é um sucesso do sistema"".
"... numa sociedade estratificada o professor é, no ofício, o "cúmplice inocente" da função reprodutora da instituição escolar."
"... não basta ao professor ser consciencioso (e tecnicamente habilitado); cumpre que seja consciente do facto de que o honesto propósito pode fracassar em escolas de contingente escolar socialmente heterogéneo, pela interferência insidiosa de atitudes e comportamentos docentes que desvalorizam, e penalizam, os alunos dos meios populares: desinteresse pelo seu capital específico de experiência social e cultural; desencorajamento "repressivo" das tentativas de afirmação e expressão dessa experiência, bem como dos correspondentes códigos linguísticos; instauração na escola, sobretudo na aula, de uma rede de interacções verbais, bem como de formas não verbais de comunicação, que privilegiam os alunos das camadas médias e superiores, olvidando e marginalizando os alunos das camadas populares. Deixados ao abandono, eles abandonarão mais cedo as escolas..."
"Não obstante a mobilização de vultuosos meios financeiros e de elaborados meios pedagógico-didácticos, os resultados não se revelaram suficientemente compensadores. Os sistemas educativos continuaram a mostrar-se fortemente selectivos, como o comprovaram e comprovam os estudos estatísticos de demografia escolar, exercendo-se a selecção por forma socialmente diferenciada: o insucesso escolar penaliza sobretudo as crianças dos meios populares, ou, de outro modo dito, "o sistema educativo privilegia os privilegiados".
" O professor, os professores, são o eixo de articulação de tais estratégias, (de combate ao insucesso escolar) condenadas ao fracasso sem a sua conveniente mediação."
"O professor é o eixo de articulação de qualquer estratégia que pretenda prevenir ou minorar o insucesso escolar, o qual depende muito menos do que se julga das metodologias didácticas empregadas e muito mais da natureza e qualidade das relações educativas que o professor polariza.
Estas citações foram retiradas do texto "Insucesso escolar, composição socialmente hetrogénea dos alunos e atitudes dos professores" que se pode encontrar a partir a página 447 das Obras Completas deste autor, Edição Calouste Gulbenkian.
É interessante ver como numa síntese brilhante e muito bem informada, Rui Grácio integra dialecticamente a crítica à teoria dos dons escapando ao fatalismo de algumas teorias da "reprodução". Neste texto aos professores é apontado um papel incontornável e um espectro de acção largamente possível, papel esse tão negado ou desvalorizado nas teorias atrás citadas.

domingo, abril 16, 2006

Rui Grácio: um dos nossos melhores...

Também no campo da Educação e das suas ciências, o desconhecimento é sinónimo da repetição dos mesmos erros ou de não "passar da cepa torta" como diz o povo.
Vem isto a propósito dessa grande figura da nossa Educação em Portugal, que foi, que é, Rui Grácio.
Atrevo-me a dizer que é uma ajuda incontornável para compreender a nossa Educação, o seu passado e o seu presente, e pressentir o seu futuro, o conhecimento da obra teório-prática de Rui Grácio.
Ao dispor dos que queiram percorrer esses caminhos estão, designadamente, as suas Obras Completas publicadas pela Fundação Gulbenkian.
É sempre com grande proveito que o revisitámos nas suas obras. Esperamos que outros tenham o mesmo prazer intelectual e a admiração que a lucidez serena de Rui Grácio nos transmite, repetidamente, na sua obra.

sexta-feira, abril 14, 2006

A Matemática vista do exterior

Nem sempre no meu percurso escolar tive uma boa relação com a Matemática. No entanto essa relação foi melhorando, acabou bem e deixou laços que me fazem periodicamente revisitá-la.
Uma das coisas que mais gosto de fazer nessa revisitação é ler acerca da História da Matemática, o que dá uma visão humanizada e não abstracta desta ciência.
Ao navegar na net sites relacionados com Matemática deparei com um site do Professor Jaime Carvalho da Silva, dedicado em grande parte à história da Matemática, designadamente em Portugal. Foi uma oportunidade para aprofundar algumas informações que já conhecia parcialmente. Confesso que é emocionante saber, por exemplo, o denodo (a coragem a todos os níveis) com que os nossos melhores matemáticos em Portugal (e alguns com nível internacional) lutaram pelo desenvolvimento do conhecimento matemático e da sua democratização a todos os níveis; como se preocuparam com a educação matemática da nossa juventude, apontando caminhos para realizar essa educação. Significativa foi a reacção da ditadura fascista de Salazar a essas iniciativas, no campo da Matemática e doutros campos cientificos: limitar; proibir; chegando ao extremo de prender e exilar muitos dos nossos melhores professores universitários. De facto, enquanto uns anos antes, a Goebels apetecia "puxar do revolver sempre que ouvia a palavra cultura", uns anos depois (e antes também) os nossos fascistas tinham o mesmo relacionamento com os nossos homens de cultura. Salazar sabia que a verdadeira Cultura e Ciência podem ter um carácter revolucionário, daí tudo ter feito para as sufocar.
Uma pergunta me assalta: será que agora existe, nos nossos universitários no campo da Matemática a mesma relação social com a disciplina?; será que as iniciativas ao nível universitário neste campo, têm identicas preocupações com a democratização do conhecimento e, passe o pleonasmo, com a democratização da nossa democracia?

quarta-feira, abril 12, 2006

Opiniões e "interactividade"

É interessante e significativo que as "opiniões" derramadas abundantemente em meios de comunicação ditos de referência ou em simples blogs, sobre educação ou outros assuntos, permitam tão pouca interactividade. Aqueles que simplesmente pensam de forma diferente têm bem poucas hipóteses de contraditar, mesmo que em tempo inoportuno, o "opinion maker".
Na blogosfera, para referir o mundo em que nos estamos a mover, há até blogs que nem possuem a possibilidade de comentários ou que fazem uma triagem dos que lhe convém sob a capa de "moderação". O que significa isto? Arrogância? Auto-suficiência? Medo do contraditório?

terça-feira, abril 11, 2006

O insucesso escolar em números...

"A cultura da nossa sociedade parece tolerar com demasiada facilidade, ou mesmo com uma fria indiferença, o facto de, anualmente, o sistema educativo português "chumbar" cerca de duzentos e cinquenta mil alunos"
A citação anterior foi retirada de um parecer sobre a avaliação formativa, ainda em fase de trabalho, elaborado por Leonor Santos e Domingos Fernandes para a Associação de Professores de Matemática (consta do site da APM). O conteúdo deste parecer de trabalho parece-me muito interessante e todos aqueles que se interessam sobre Educação, principalmente por dentro, encontrarão nele largos motivos de reflexão. Por mim, deixo algumas das minhas interrogações:
-perante estes números e outros que conhecemos, onde está o verdadeiro "facilitismo" que muitos apregoam existir no nosso sisema educativo, e que se constitui como a "verdadeira causa" dos males da educação moderna?
-quem serão os alunos por detrás destes números? Não estará na sua "tipologia" a razão da atitude tolerante ou mesmo fria da nossa sociedade?
-avançar números globais sem a discriminação que propús na pergunta anterior, ou sem avançar com interpretações críticas para com este fenómeno, não será contribuir pouco para a resolução do problema? Acrescento que não faço esta acusação aos autores do documento citado, mas é esta uma forma recorrente de colocar o problema, designadamente pelos políticos de turno. Quantas vezes, e temos exemplos bem recentes, como acusação virada para com um dos actores da Educação: hoje os professores, ontem os alunos, amanhã os pais?

domingo, abril 09, 2006

Definições

Definições:
"Si definimos, no discutiremos, decia Balmes."
Citação do livro "Las tareas de la profesión de enseñar" de Miguel Fernández Pérez.