Rui Grácio: citações sobre insucesso escolar.
Rui Grácio dedicou vários textos ao tema do insucesso escolar. Valem pela sua leitura total. Aqui reproduzimos algumas citações que respigamos num desses textos incluídos nas suas Obras Completas.
"1. O insucesso escolar dos alunos exprime-se institucionalmente em fenómenos de repetência e abandono prematuro do sistema educativo. Ambos traduzem uma inadaptação dos alunos às normas da instituição escolar, inadaptação que pode manifestar-se em dificuldades de aprendizagem e em desvios de normas disciplinares (do alheamento profundo à grave insubordinação), dificuldades e desvios que frequentemente se combinam e mutuamente se determinam e reforçam. A inadaptação e, portanto, o insucesso escolar, são pois conceitos relativos: só têm sentido em relação a uma determinada instituição escolar, a um certo momento do percurso escolar nessa instituição, a certas normas e expectativas desta. Por outro lado, está subentendida outra relação: a que compara os resultados de um aluno com os de outros implicados nos mesmos estudos"...
"... existe uma copiosa literatura sobre os aspectos afectivos, emocionais, personalísticos do comportamento dos alunos, bem como sobre a importância da trama de relações interpessoais que o implicam..."
"... certas experiências e inovações da pedagogia escolar vieram realçar a importância das atitudes e comportamentos do professor na natureza e qualidade da relação pedagógica; tais estudos e experiências comprovaram a influência favorável no aproveitamento escolar dos alunos - portanto na remoção ou minoração do insucesso escolar - de certas atitudes do professor: aceitação da pessoa do aluno, empatia com relação às suas dificuldades, encorajamento dos aspectos positivos da sua conduta. Tais atitudes seriam o suporte de uma relação pedagógica produtiva, porque valorizadora da identidade pessoal do aluno, e, assim condição basilar da sua evolução favorável, do seu construtivo progresso, do seu sucesso escolar."
"1. O insucesso escolar dos alunos exprime-se institucionalmente em fenómenos de repetência e abandono prematuro do sistema educativo. Ambos traduzem uma inadaptação dos alunos às normas da instituição escolar, inadaptação que pode manifestar-se em dificuldades de aprendizagem e em desvios de normas disciplinares (do alheamento profundo à grave insubordinação), dificuldades e desvios que frequentemente se combinam e mutuamente se determinam e reforçam. A inadaptação e, portanto, o insucesso escolar, são pois conceitos relativos: só têm sentido em relação a uma determinada instituição escolar, a um certo momento do percurso escolar nessa instituição, a certas normas e expectativas desta. Por outro lado, está subentendida outra relação: a que compara os resultados de um aluno com os de outros implicados nos mesmos estudos"...
"... existe uma copiosa literatura sobre os aspectos afectivos, emocionais, personalísticos do comportamento dos alunos, bem como sobre a importância da trama de relações interpessoais que o implicam..."
"... certas experiências e inovações da pedagogia escolar vieram realçar a importância das atitudes e comportamentos do professor na natureza e qualidade da relação pedagógica; tais estudos e experiências comprovaram a influência favorável no aproveitamento escolar dos alunos - portanto na remoção ou minoração do insucesso escolar - de certas atitudes do professor: aceitação da pessoa do aluno, empatia com relação às suas dificuldades, encorajamento dos aspectos positivos da sua conduta. Tais atitudes seriam o suporte de uma relação pedagógica produtiva, porque valorizadora da identidade pessoal do aluno, e, assim condição basilar da sua evolução favorável, do seu construtivo progresso, do seu sucesso escolar."
"Os contributos, científicos e experienciais, da pedagogia são enriquecedores para a compreensão e eficácia do processo educativo escolar. Esses contributos não devem, porém, circunscrever-se às dimensões individuais e relacionais que isolam a vida escolar e, mais amplamente, o subsistema educativo, do sistema social englobante. Na verdade a psicopedagogia, por si só, não pode explicar o carácter maciço e socialmente determinado do fenómeno do insucesso escolar, carácter impossível hoje de contestar."
"... Pela dupla função selectiva e ideológica, a escola colaboraria, assim, na "reprodução" da divisão social e técnica do trabalho e das relações de hierarquia social. Assim, diremos que é só aparente paradoxo afirmar-. "o insucesso escolar é um sucesso do sistema"".
"... numa sociedade estratificada o professor é, no ofício, o "cúmplice inocente" da função reprodutora da instituição escolar."
"... não basta ao professor ser consciencioso (e tecnicamente habilitado); cumpre que seja consciente do facto de que o honesto propósito pode fracassar em escolas de contingente escolar socialmente heterogéneo, pela interferência insidiosa de atitudes e comportamentos docentes que desvalorizam, e penalizam, os alunos dos meios populares: desinteresse pelo seu capital específico de experiência social e cultural; desencorajamento "repressivo" das tentativas de afirmação e expressão dessa experiência, bem como dos correspondentes códigos linguísticos; instauração na escola, sobretudo na aula, de uma rede de interacções verbais, bem como de formas não verbais de comunicação, que privilegiam os alunos das camadas médias e superiores, olvidando e marginalizando os alunos das camadas populares. Deixados ao abandono, eles abandonarão mais cedo as escolas..."
"Não obstante a mobilização de vultuosos meios financeiros e de elaborados meios pedagógico-didácticos, os resultados não se revelaram suficientemente compensadores. Os sistemas educativos continuaram a mostrar-se fortemente selectivos, como o comprovaram e comprovam os estudos estatísticos de demografia escolar, exercendo-se a selecção por forma socialmente diferenciada: o insucesso escolar penaliza sobretudo as crianças dos meios populares, ou, de outro modo dito, "o sistema educativo privilegia os privilegiados".
" O professor, os professores, são o eixo de articulação de tais estratégias, (de combate ao insucesso escolar) condenadas ao fracasso sem a sua conveniente mediação."
"Não obstante a mobilização de vultuosos meios financeiros e de elaborados meios pedagógico-didácticos, os resultados não se revelaram suficientemente compensadores. Os sistemas educativos continuaram a mostrar-se fortemente selectivos, como o comprovaram e comprovam os estudos estatísticos de demografia escolar, exercendo-se a selecção por forma socialmente diferenciada: o insucesso escolar penaliza sobretudo as crianças dos meios populares, ou, de outro modo dito, "o sistema educativo privilegia os privilegiados".
" O professor, os professores, são o eixo de articulação de tais estratégias, (de combate ao insucesso escolar) condenadas ao fracasso sem a sua conveniente mediação."
"O professor é o eixo de articulação de qualquer estratégia que pretenda prevenir ou minorar o insucesso escolar, o qual depende muito menos do que se julga das metodologias didácticas empregadas e muito mais da natureza e qualidade das relações educativas que o professor polariza.
Estas citações foram retiradas do texto "Insucesso escolar, composição socialmente hetrogénea dos alunos e atitudes dos professores" que se pode encontrar a partir a página 447 das Obras Completas deste autor, Edição Calouste Gulbenkian.
É interessante ver como numa síntese brilhante e muito bem informada, Rui Grácio integra dialecticamente a crítica à teoria dos dons escapando ao fatalismo de algumas teorias da "reprodução". Neste texto aos professores é apontado um papel incontornável e um espectro de acção largamente possível, papel esse tão negado ou desvalorizado nas teorias atrás citadas.
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