EXAMES. Instrumentos para...
O Diário de Notícias de hoje tráz duas peças dignas de leitura e análise.
Uma a
"notícia" sobre o "facto" de os exames do 9.º ano aumentarem as percentagens de reprovação nesse mesmo ano lectivo. Outra (sem link), uma coluna de opinião da ministra em que este facto e esta notícia são salientados.
Aparte o facto do aparecimento aparelhado destas duas peças nos poderem soltar a imaginação sobre as relações entre os jornais e o poder, gostaria mais de tecer alguns comentários sobre aspectos que considero centrais no seu conteúdo:
-logo no título do escrito da ministra aparece: "Melhorar a escola é melhorar os resultados". A orientação sobre os resultados da ministra é o lema central do seu discurso;
-segundo ela estes resultados são negativos, -dos piores dos dez últimos anos, - mas (segundo o seu ministério) o seu conhecimento "objectivo" poderá ter consequências positivas no futuro;
-se não forem retiradas as devidas consequências da insuficiência das aprendizagens que os resultados nos exames demonstram estes continuarão a ser, e cito, "meros instrumentos de selecção e seriação dos alunos";
-a grande solução para a melhoria dos resultados será "a optimização da capacidade técnica e de inovação dos professores e de outros profissionais da educação". O discurso tecnocrata no seu explendor.
Destas ideias gostaria de fazer uma análise crítica que espero não abusiva:
-o que interessa são os resultados. Resultados, para já, no Português e na Matemática e avaliados pelos exames. Deitem-se fora todas as críticas fundamentadas feitas a esta forma tecnocrática de avaliar a educação, ou mais propriamente a instrução. Tudo aquilo que não puder ser avaliado por exames e traduzido em resultados (numéricos, presumo) é de dispensar;
-se os resultados forem melhores então de "meros instrumentos de selecção e seriação dos alunos" (aqui aplauda-se a sinceridade da ministra) passarão a instrumentos... que não meros;
-os exames não são nunca postos em questão como aferidores da qualidade das aprendizagens, são até o seu paradigma perfeito. Deite-se fora toda a crítica fundamentada aos exames como meios de avaliação.
Algumas perguntas que, aposto, a ministra não fará:
-como é que a sociedade e as políticas sociais dos governos podem ter influência nas escolas, na Educação e até, nos resultados dos alunos?
-como é que a desigualdade e a exclusão social cada vez maior na sociedade portuguesa têm influência nas escolas e nos resultados dos alunos?
-quem são os alunos, (quais as suas características, designadamente as sócio-económicas) que enchem os números redondos das reprovações?
-porque é que, estatisticamente, os que reprovam têm certas características e os que não reprovam têm outras?
-será que com os alunos que passam e passarão, com os critérios de resultados em exames, tudo está bem?
-que consequências tem para os processos educativos e para a formação dos alunos, esta centração em resultados, resultados, medíveis com exames?
EXAMES EM SI.
Sobre os exames como instrumentos de avaliação gostaria de deixar para já uma pergunta que lançaria a quem tenha estudado profundamente estes assuntos:
-Há quase um século que estudos científicos, nomeadamente os docimológicos, têm demonstrado a falta de validade, de fiabilidade e até de "objectividade" dos exames. Será que essas demonstrações foram desmentidas entretanto e/ou que estes instrumentos foram tecnicamente melhorados para ultrapassar as insuficiências que lhe eram apontadas? A pergunta não é retórica, nem fácil. Gostaria que alguém me respondesse.