Premissa 1: em primeiro lugar quero dizer que tenho bem presente que na actual correlação de forças - altamente desfavorável aos professores como em post anterior mencionei, - os professores por si só, mesmo que muito unidos e em torno de sindicatos também unidos, dificilmente conseguirão travar eficazmente no imediato a vaga de retrocesso dos seus direitos e de ataque à escola pública. É que tal vaga, ainda que tenha seleccionado um grupo profissional como o nosso por razões objectivas e subjectivas assinaláveis, pretende atingir muito para além dos professores e da Educação Pública. Pretende atingir todo o mundo do trabalho (no sector público como exemplo e no sector privado como seguidor do exemplo) e tudo aquilo que no actual Estado é direito dos trabalhadores e Serviço Público;
Premissa 2: pelo que disse atrás, penso ser necessário e imprescindível reunir/criar todas as plataformas de união em torno de questões concretas (e refiro-me às questões dos direitos dos trabalhadores e dos direitos à Educação e à Saúde), que podem e devem congregar muitos portugueses (tendo a consciência que as políticas de retrocesso social em curso são transnacionais: no nosso caso são políticas neoliberais promovidas pela União Europeia);
Premissa 3: perante este actual estado de coisas, que os professores e as escolas vivem: um novo estatuto que dizima direitos, que desfigura e desvaloriza a profissão; uma regulamentação que divide os professores em duas carreiras (menorizando o trabalho em sala de aula) e utiliza critérios absurdos e contra todas as regras de um estado de direito; medidas a nível dos concursos que os desregulamentam largamente e dão lugar à arbitrariedade; medidas previstas para a nova formação de formação que abastardarão o nível dessa mesma formação; um aumento da violência contra professores e um cavar da perda de autoridade que derivam claramente da forma como foram tratados pelo ministério da Educação nos dois últimos anos, etc;
Acção imediata: os professores não podem ficar calados neste momento mesmo que no imediato não possam travar eficazmente as medidas em curso. Os sindicatos, como imprescindíveis representantes dos professores, além de tomar medidas em várias frentes, das quais a frente legal em relação ao rol extenso de ilegalidades cometidas por este ministério é importantíssima, têm de promover uma batalha no imediato. Têm de convencer os professores a fazer algo que, apesar de tudo, há que afirmá-lo, ainda não fizeram frente a este ministério: dar-lhe luta verdadeira. Têm de dizer aos colegas que falam contra as medidas do ministério mas não fizeram as greves marcadas que se deixem de conversa. Têm de ser capazes de mobilização: de marcarem legalmente greves a doer; greves de muitos dias que paralisem as escolas; greves que mandem uma mensagem clara àqueles que ainda estão do outro lado da opinião, muitas vezes envenenados pela propaganda do governo e dos seus acólitos; greves dizia, em que os professores mostrem que não estão a brincar e que o que os move não são meros interesses corporativos ou laborais.
Quem não se sente não é filho de boa gente. Os professores hoje, mais do que sentirem têm de agir para demonstrar que não admitem estas políticas e que, contra elas, são capazes de lutarem aguerridamente, mesmo à custa de parte substancial do seu salário. Caso os professores e os seus sindicatos não consigam passar essa mensagem, outra, mesmo sem o quererem, estão a passar: o caminho continua aberto aos abutres!
Os professores mantêm as escolas. O trabalho que lá se faz é feito ou dirigido pelos professores. O que lá se faz de melhor a eles se deve em grande parte.
Há uma paz podre nas escolas. É tempo de partirmos para um novo patamar da luta.
Fazê-lo não assegura nenhuma vitória imediata. Não o fazer, significa desde já, uma triste capitulação.
P.S. Espero que a Fenprof e os seus sindicatos membros, saibam estar à altura neste momento tão crucial. Entretanto algo está a assentar praça no sistema educativo. A própria regulamentação dos titulares prejudica ignominiosamente os colegas dos sindicatos que estiveram a tempo inteiro nos últimos anos. É uma manobra inadmissível para quebrar a acção dos sindicatos.
Aos colegas que não estão muito virados para a figura da greve, eu direi: é simplesmente a medida legal que os trabalhadores dispõem com mais força para exprimirem as suas posições, desde que a façam maciçamente. Neste momento não vejo outra mais eficaz. Se souberem digam.
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