Sou um incondicional do sindicalismo: acho-o imprescindível. Sou um participante crítico e construtivo do sindicalismo docente: sei por fora e por dentro como ele precisa de mudar. Refiro-me à Fenprof. Embora tenha achado e ache importante a unidade recentemente conseguida dos mais de dez sindicatos de professores existentes, não confundo a Fenprof com grupúsculos não representativos nem com sindicatos que tantas vezes fizeram fretes ao poder.
Actualmente existem duas candidaturas a secretário geral da Fenprof. Alguns dos colegas dentro do sindicato e fora do sindicato estão preocupados com o facto. Realmente seria bom que neste momento em que o ME/Governo deveria estar sobre fogo dos sindicatos/professores, seja dentro da própria Fenprof que as lutas se travam. Só que, meus caros colegas, eu próprio que não sou forte nas pelejas, reconheço a necessidade de um abanão na Fenprof. A Fenprof como projecto e prática sindical esmoreceu: de dificuldades naturais perante um poder imenso e bem para além da gesta pedagógica até a acomodações pessoais, tudo acontece um pouco nesta nossa Federação. A Fenprof que, quando surgiu, o fogo de Abril ainda aquecia os corações, encontra-se agora perante um arrefecimento que tolhe muitos dos seus protagonistas, outrora os mesmos.
A Fenprof precisa dum novo fogo. Precisa de saber colocar perante os professores, - grupo em que floresceram certas franjas acomodadas por um tempo mais propenso a dádivas e que hoje se encontra, todo, sob um ataque sistémico - uma responsabilidade pessoal e colectiva: a de defenderem a Educação Pública de qualidade, defendendo o valor (e para já a própria dignidade) de uma profissão.
-Para isso tem de chegar aos professores e, sejamos francos, há muitos anos que não chega convenientemente. Falta uma ligação mais directa aos professores, que os confronte com a sua responsabilidade no diagnóstico e na análise dos problemas e na proposição das respostas sindicais. (Sindicalismo, entenda-se, bem para além do tratamento de questões laborais como o poder têm tentado remetê-lo).
-Para isso tem também de trabalhar mais e, digámo-lo, há falhas nesse capítulo. Há evidências crescentes de um sindicalismo preguiçoso e acomodado.
-Para isso tem de cuidar a imagem e comunicação, a qual, muitas vezes, não tem sido a melhor escolhida na intervenção pública.
Dentro de dias vai dar-se a confrontação na indicação de duas personalidades para o cargo de secretário geral da Fenprof. Não tenhamos ilusões que outras questões irão assumir foros de cidadania nesse congresso. O que nele se discutirá será quem irá ser o novo secretário. Nem sei mesmo se tal será uma realidade pois quem lá estará já terá formado a sua opinião sobre tal decisão e assim o jogo estará já feito.
Eu tenho também uma opinião sobre quem é que queria ver no cargo máximo da Fenprof. Conheço os dois candidatos: ambos têm grandes qualidades. O Mário Nogueira já mostrou capacidade de liderança. A Manuela Mendonça ainda não mas nada a impedirá de um dia a vir a ter. Eu acho que neste momento o Mário merece vir a ser o próximo secretário geral da Fenprof. Provavelmente não o será, pela força das inerências e das duas direcções dos sindicatos que apoiam a Manuela. Se ganhar não terá a vida facilitada nos tempos mais próximos e é fácil saber porquê. A Manuela, que provavelmente ganhará, talvez tenha a vida mais facilitada na Fenprof. Por motivos que para mim não são os melhores. Atrás da Manuela arrasta-se muito do que critiquei acima na Fenprof e que persistirá na nossa federação. Não percebo algum entusiasmo de renovação com a candidatura da Manuela, sabendo que a imensa maioria dos protagonistas sindicais são os mesmos. O mesmo acontece, aliás, com o Mário, embora me pareça que possa protagonizar maior renovação.
Já ouvi dizer a alguns colegas com ar de saudade que nada será como dantes na Fenprof . Se fosse no bom sentido, como eu gostaria que isto acontecesse. É que a Fenprof precisa urgentemente de mudar para melhor.
Estranharão alguns que eu não tenha referido até agora as reais ou pretensas intromissões partidárias nestas questões de candidaturas. Meus amigos, é sincera esta minha forma de ler a questão. Os problemas da Fenprof são, neste momento, iminentemente sindicais. Não tenho ilusões: imagino como há movimentações partidárias (e não de um partido mas de vários). Elas são inevitáveis. Só que o importante aí é que os protagonistas saibam intervir no terreno político que é o sindicalismo e o saibam distinguir do terreno político-partidário. E, neste momento, o momento da Fenprof e os problemas da Fenprof são mais da natureza da prática e da reflexão sindical, onde os artífices, os sindicalistas, precisam de melhorar bastante e alguns, retirarem-se ou serem convidados, fraternalmente, a fazê-lo.
A Fenprof, infelizmente, prevejo, não será agora que encontrará um elan sustentado. No entanto afirmo, com orgulho, que nela me revejo, nela me apoio e a apoiarei, pois é, sem dúvida uma âncora que todos os professores deveriam acarinhar. Precisamente nestes tempos difíceis. E particularmente porque é aquela que, apesar de tudo, melhor representa os professores portugueses.
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