Uma Fenprof mais forte
Já estive em vários congressos da Fenprof. Neste que com certeza será um dos mais importantes, não vou estar. Marcaram a reunião de eleição de delegados na última semana de aulas, numa tarde em que eu, como director de turma, ao faltar iria prejudicar muito a preparação de uma actividade em que a minha turma estava envolvida. Resultado: não fui à reunião nem pude sequer ser candidato a delegado.
Soube que na DREL colocaram entraves legais à dispensa dos delegados ao congresso. Mais uma sacanice a que estamos habituados por este ministério que desgoverna a Educação.
Cada vez mais me convenço que isto só muda, designadamente estes atentados aos direitos cívicos dos professores, se nós, professores, vencermos o medo, a resignação, e lutarmos persistentemente e em força. Com greves mais fortes, com manifestações mais duras. Haja professores para isso.
Àqueles que apontam o caminho da luta jurídica eu digo: tudo bem, mas não chega. Até porque estes sacanas estão a fazer uma profunda contrareforma jurídica que desbasta direitos elementares. Quando as leis disserem amém aos ditames destes sacanas o que faremos?: submetêmo-nos sem mais. Lutamos só aí. Por mim acho que será tarde.
Também não sou adepto de lutazinhas repetidas que, pela rotina, podem desgastar mais do que motivar. Também sei que as greves bem conseguidas não nascem por geração espontânea ou por decreto e que são os sindicatos e os sindicalistas que devem estar na primeira linha para a mobilização. Mas sei que uma boa greve ainda é a forma de luta mais forte.
Uma Fenprof revitalizada para a luta precisa-se. Venha ela.
Etiquetas: Sindicalismo
4 Comentários:
Sou apenas um observador externo, mas acho que a greve não é uma forma de luta possível para os professores. A dinâmica da greve aplica-se a muitas situações, foi parcialmente destruída pela política das centrais sindicais, mas resiste, em certos sectores, contudo, está completamente desajustada da estrutura social que são os professores.
Imaginar que os professores podem fazer uma greve que abale o governo o o próprio ministério é algo que não tem sentido.
Por isso acho que a Fenprof tem de se reinventar, em todos os sentidos. Não sei como. Não tenho soluções. Mas verifico que a associação do professorado a uma massa operária que, com uma greve de luta, abala o funcionamento da fábrica e assusta o patrão, está completamente desajustada.
Caro Henrique
É preciso dizer em primeiro lugar que eu abomino o corporativismo e só concebo o sindicalismo, neste caso o docente, subordinado a interesses mais globais: são eles para mim a equidade e justiça social e a qualidade da educação para todos no âmbito de um sistema público muito mais desenvolvido do que aquele que temos. Por isso só concebo greves quando estão em causa a Educação Pública de qualidade e dentro dela os seus constituintes básicos de que os direitos e deveres dos professores são uma parcela importante. Actualmente o ataque sistemático deste governo aos direitos dos professores (que tem e terá repercussões negativas na tal Educação Pública de Qualidade que defendo) que utilizou uma campanha negra para conseguir seus fins é merecedor do mais vivo repúdio dos professores e não só. Esse repúdio pode e deve utilizar muitos meios. A greve de professores, quando feita massivamente e por tempos prolongados é extremamente contundente na sociedade: eu acho que é muito mais preocupante para as famílias (para mim é) não terem escolas onde "deixarem" os filhos em segurança do que os transportes ou as fábricas estarem fechadas. Saiba o Henrique que muitos professores, aqui como noutros países, quando houve greves prolongadas ficaram numa angústia pessoal muito grande: por um lado sabem da necessidade da luta pela melhoria das condições de trabalho, etc, por outro lado sabem que de certo modo "abandonam" os seus alunos, ainda por cima, alunos de meios desfavorecidos. Sabem estar a lutar pela melhoria do próprio sistema educativo com reflexos positivos para os alunos, designadamente os mais carentes, mas a angústia é grande. Pelo lado do poder, creia que ele não gosta nada de greves ninguém nem dos docentes e assusta-se com elas, quando elas assumem grandes dimensões.
Em 2002 em França houve greves deste tipo que assumiram dimensões imensas e cujos lemas aliás transbordavam em muito questões de condições do ensino.
Por último quero dizer-lhe que me sinto imensamente solidário com os mais humildes operários. Participei na última manifestação da Função Pública e foi com emoção que estive junto a pessoas que pouco mais ganhavam do que o ordenado mínimo e davam lições de dignidade, sabedoria e carácter a tantos professores que conheço.
Ninguém põe nada disso em causa.
Mas continuo a achar que não vai haver nunca uma greve de professores com impacte suficiente para afectar o Governo ou o Ministério. Por isso me parece que a FENPROF tem de se reinventar a si própria na forma de actuar.
Henrique
na verdade já houve esse exemplo no passado. Houve greves de professores que mudaram politicas sectoriais de Educação do governo. Foi o caso de um governo forte de maioria como o do Cavaco em 89/90.
A reinvenção, e aí estamos totalmente de acordo, é essencial. Em tudo na vida há uma tendência para a cristalização, para a acomodação. Há que criar mecanismos que despoletem a inovação. Eu acho até que o problema principal da Fenprof actualmente é esse: a acomodação de alguns dos protagonistas principais. Só que continuo a ver nas manifestações e greves instrumentos importantíssimos dos sindicatos e dos professores. Mas ninguém diz que elas devem ser rotineiras. As grandes greves de professores de 2002 em França, usaram slogans e lemas duma originalidade e riqueza que achei espantosas quando li sobre isso há uns dias. Pensei: de facto nós aqui precisamos de mais criatividade, mas dentro das próprias greves e manifs.
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