Hipocrisias
Ao escrever o post anterior, confesso que estava longe de pensar que ele iria ser colocado de imediato na agenda política portuguesa. Foi-o através de uma iniciativa colateral ao "Roteiro pela Inclusão" promovido pelo presidente da república.
Assim, um economista, Farinha Rodrigues, veio afirmar o que constava há muito tempo dos escritos do economista Eugénio Rosa e que reproduzi no post anterior sobre desigualdade em Portugal. Nada afirma de novo, mas parece que tudo de novo afirma: Daniel Bessa, uma das sumidades dos pensamento económico dominante português, a moderar o debate, disse-se mesmo "esmagado"!
Para além do economista que revelou neste momento estes dados e para além da iniciativa pela inclusão que, talvez não intencionalmente, abre uma caixinha de dados deprimentes para muitos economistas e políticos portugueses, eu saliento a hipocrisia de muitos:
-a de Cavaco e Silva que durante o seu mandato de primeiro ministro cavou o fosso das desigualdades e que agora, como se nada tivesse a ver com esse facto, vem promover a inclusão. Repare-se quais as soluções que este chefe de Estado propõe: baseiam-se, em grande parte, em iniciativas caridosas centradas em organizações não governamentais ou nas próprias famílias. Senhor presidente, estes problemas têm origens fundamentais nas políticas económicas do Estado e é nele que muitas das soluções efectivas poderão concretizar-se.
-A dos economistas do regime que tão liberais são no apontar dos caminhos económicos e que, depois, perante números indesmentíveis sobre as consequências humanas desses caminhos, se sentem esmagados... Enfim, mais vale sentirem-se esmagados do que nem sequer sentirem nada como muitos outros. Mas da hipocrisia subjacente aos seus pensamentos e actos ninguém os livra certamente.
-A hipocrisia do governo socialista de agora que cavou a desigualdade em Portugal.
Para poder ler melhor os números e argumentação que recomendo aponto novamente para os textos de Eugénio Rosa referidos no post anterior.
Etiquetas: Hipocrisias
3 Comentários:
Não deixa de ser interessante o facto de os mesmos indicadores utilizados pelo Prof. Farinha Rodrigues para os últimos anos, quando referentes ao consulado cavaquista, revelam uma diminuição da pobreza e das desigualdades sociais. Basta ir aos dados do Eurostat, se não acredita!
Ele há surpresas difíceis de engolir!
Caro anónimo fui ao Eurostat e a única coisa que consegui ver foi que em 1994 o indice de gini, um índice de desigualdade, em Portugal era de 0,37 o maior ou um dos dois maiores da Europa de então. Exactamente no fim do consulado cavaquista. Não consegui aceder a dados importantes, como por exemplo, comparar os valores de 87/88, quando Cavaco entrou para o governo e os de quando saiu. Se me puder dar alguma referência agradeço.
Estou mesmo curioso de saber qual foi o "efeito" cavaco na desigualdade em Portugal.
De facto, pelo que li até agora sei que a desigualdade diminuiu de 1995 até 2001 e depois voltou a disparar.
Entretanto remeto-o para um post informativo interessante: http://reapn-imprensa.blogspot.com/2006/01/portugal-permanece-o-pas-mais-desigual.html
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