quinta-feira, abril 12, 2007

A DESIGUALDADE EM PORTUGAL

Ontem ao ver aquela representação de Sócrates na RTP, quando se chegou à parte das perguntas sobre a governação, eu, sofri. Pedi insistentemente aos jornalistas que perguntassem ao socialista chefe do governo como explicava o aumento da desigualdade em Portugal, cavada ainda mais no período em que ele governara até ao momento.
Pedi. Voltei a pedir. Nada adiantou. Essa pergunta que eu achava fundamental não foi feita.
Há perguntas que não se fazem quando não se quer perguntar, quando não se quer saber a resposta ou quando não se sabe sequer que é uma pergunta a ser feita.
Eugénio Rosa é um economista com larga obra produzida. Ultimamente tem dedicado muito do seu tempo a produzir estudos sobre questões económicas de actualidade indiscutível. Não é mediático nas televisões e quando o convidam não lhe dão tempo para falar. Os seus estudos são, no entanto, extremamente claros e tantas vezes demolidores para com os economistas do regime.
Num resumo dum seu estudo recente ele mostra claramente como a DESIGUALDADE é imensa em Portugal e como tem aumentado nos últimos tempos.
Os jornalistas que entrevistaram Sócrates ontem e tantos outros que entrevistam ministros não lêem Eugénio Rosa. (Para bem das suas "carreiras" como jornalistas, diremos nós, que imaginamos como o poder económico e político que nos governa é tão implacável com jornalistas sérios e que não lhes façam fretes. Para mal da informação dos portugueses, dizemos nós também)
Repare-se na clareza deste resumo do estudo a que me referi:
"O Eurostat acabou de publicar dados sobre a repartição dos rendimentos nos países da União Europeia. Esses dados já abrangem o 1º ano do governo de Sócrates, ou seja, 2005. E eles revelam que as desigualdades na repartição do rendimento nunca foram tão elevadas em Portugal e nunca aumentaram tanto num único ano como sucedeu neste 1º ano de governo PS.
"Em 2005, em Portugal, os 20% da população com rendimentos mais elevados receberam 8,2 vezes mais rendimentos do que os 20% da população com rendimentos mais baixos, quando a média na União Europeia (25 países) era, nesse ano, de 4,9 vezes, ou seja, em Portugal a desigualdade neste campo era superior à média comunitária em 67,3%. Se se analisar a variação da desigualdade nos últimos dez anos conclui-se que é precisamente em Portugal o país onde ela mais cresceu. Entre 1995 e 2005, este indicador baixou na União Europeia dos 15 países mais antigos, onde Portugal se integra, de 5,1 para 4,8, enquanto em Portugal cresceu de 7,4 para 8,2. Mas é precisamente em 2005, com o governo de Sócrates, que as desigualdades neste campo aumentaram mais. Enquanto a nível da UE25 passou de 4,8 para 4,9, portanto agravou-se em 2%, em Portugal aumentou de 7,2 para 8,2, ou seja, registou um agravamento de 13,8%, isto é, 6,9 vezes mais que a média comunitária E tudo se verifica num País onde a riqueza criada por habitante é bastante inferior à média comunitária. Em 2006,por ex., o PIB por habitante SPA português correspondia apenas a 69,8% da média da UE25. A riqueza produzida é pouca em Portugal mas está cada vez mais mal repartida, o que torna a situação portuguesa ainda mais grave (interessa recordar que dois milhões de portugueses vivem actualmente ainda abaixo do limiar da pobreza)."
Se quiserem ler o estudo todo, lêem-no aqui.
E se quiserem escolher e ler muitos dos estudos desta pessoa notável, podem a eles aceder aqui, por exemplo.
Muito aprendi e aprendo com este economista!

10 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Henrique
Acho bastante importante divulgar os estudos de Eugénio Rosa já que não são artigos de opinião, mas estudos mesmo. Por acaso tenho um post em draft há mais de um mês sobre outro estudo dele relativo ao investimento de Portugal na saúde comparativamente a outros países da EU (em draft, mas porque esqueci de apagar, ando com um ataque de falta de paciência para esta política, nem ouvi o Sócrates)- o estudo vê-se logo clicando no teu segundo link (o título é "A saúde e os custos da saúde em Portugal"). Já deves ter lido, mas deixo aqui a chamada de atenção.

12:09 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Henrique, posso publicar este seu post no meu blog?

9:13 da tarde  
Blogger henrique santos disse...

Claro Morie
nem precisa de pedir

9:36 da tarde  
Blogger henrique santos disse...

Desculpe "Moriae" ter escrito Morie. É assim que se escreve o nome mas já é a segunda vez que escrevo como presumo que se lê em latim? Da próxima não erro.

9:39 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Obrigada Henrique :)
Quanto ao nome, não faz mal. E sim, latim :)
Um abraço, excelente texto!

9:41 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

10:03 da tarde  
Blogger João Paulo Silva disse...

Henrique,
deixa-me fazer minhas as tuas palavras sobre o Eugénio Rosa. Se me permites uma piada: apesar do Marques Mendes contrariar a minha teoria, os Homens querem-se pequeninos como o Eugénio Rosa ehheeh

Um abraço,
JP

Nota: vais estar no congresso?

12:42 da manhã  
Blogger henrique santos disse...

JP
Infelizmente não. A reunião onde foi a eleição de delegados coincidiu com um dia muito "trabalhoso" na escola e por isso não fui. Não sei se teria sido eleito mas na verdade gostaria imenso de lá estar. Penso que é um congresso fundamental para a Fenprof como já há muito tempo não havia. Olha, espero que, independentemente de quem ganhar, saibam todos respeitar-se e trabalhar no sentido de um sindicalismo mais esclarecido,combativo, empenhado e a exigir mais participação real dos professores.
Bom congresso.

10:47 da tarde  
Blogger Maria Lisboa disse...

http://jn.sapo.pt/2007/04/15/nacional/apoios_estado_contra_pobreza_pouco_e.html

4:17 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Quando é o próprio Primeiro-Ministro a não admitir o tratamento desigual que teve durante o seu percurso académico, é normal que não entende o conceito de desigualdade!!!

1:30 da tarde  

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