terça-feira, fevereiro 27, 2007

A manchete que não o foi nos média: "DESIGUALDADE AUMENTA"

"O Eurostat acabou de publicar dados sobre a repartição dos rendimentos nos países da União Europeia. Esses dados já abrangem o 1º ano do governo de Sócrates, ou seja, 2005. E eles revelam que as desigualdades na repartição do rendimento nunca foram tão elevadas em Portugal e nunca aumentaram tanto num único ano como sucedeu neste 1º ano de governo PS.
Em 2005, em Portugal, os 20% da população com rendimentos mais elevados receberam 8,2 vezes mais rendimentos do que os 20% da população com rendimentos mais baixos, quando a média na União Europeia (25 países) era, nesse ano, de 4,9 vezes, ou seja, em Portugal a desigualdade neste campo era superior à média comunitária em 67,3%. Se se analisar a variação da desigualdade nos últimos dez anos conclui-se que é precisamente em Portugal o país onde ela mais cresceu. Entre 1995 e 2005, este indicador baixou na União Europeia dos 15 países mais antigos, onde Portugal se integra, de 5,1 para 4,8, enquanto em Portugal cresceu de 7,4 para 8,2. Mas é precisamente em 2005, com o governo de Sócrates, que as desigualdades neste campo aumentaram mais. Enquanto a nível da UE25 passou de 4,8 para 4,9, portanto agravou-se em 2%, em Portugal aumentou de 7,2 para 8,2, ou seja, registou um agravamento de 13,8%, isto é, 6,9 vezes mais que a média comunitária E tudo se verifica num País onde a riqueza criada por habitante é bastante inferior à média comunitária. Em 2006,por ex., o PIB por habitante SPA português correspondia apenas a 69,8% da média da UE25. A riqueza produzida é pouca em Portugal mas está cada vez mais mal repartida, o que torna a situação portuguesa ainda mais grave (interessa recordar que dois milhões de portugueses vivem actualmente ainda abaixo do limiar da pobreza)."
Eugénio Rosa
Não é triste para um governo socialista ver este aumentar da desigualdade na nossa sociedade?
Onde apareceu esta notícia como manchete? Não tinha essa dimensão?
Que reflexos tem este aumento da desigualdade a curto e médio prazo na Educação?
É dificil de medir em números, não é? Mas os problemas daqueles que estão cada vez mais no fundo da tabela vão repercutir-se nas escolas. Disso não tenho dúvidas.

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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Ideias contrastantes

Ideias contrastantes em educação expressas numa conferência em Lisboa.

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domingo, fevereiro 25, 2007

Exclusões. Inclusões. Insucesso. Sucessos..

Desde o seu início até há algumas dezenas de anos os sistemas educativos das nossas sociedades ocidentais caracterizaram-se por usar, primeiro, o não acesso ou acesso diferenciado, depois as vias de educação diferentes em duração e prestígio, na devida estratificação dos públicos escolares em conformidade com as proveniencias de classe. A divisão de classes tinha nos sistemas educativos um dos mais fortes, entre outros, instrumentos de segregação social. Primeiro, entre aqueles que acediam à escola ou não acediam de todo. Depois entre os que completavam ou não a escola básica. Posteriormente entre os que tinham sucesso e prosseguiam estudos e entre aqueles que não tinham sucesso e não os prosseguiam. Depois ainda entre aqueles que tinham insucessos para prosseguir determinado tipo de estudos e eram remetidos para outros.
(Evidentemente aqui há um jogo entre as forças que dominam a sociedade e aquelas que, embora subordinadas, lutam por a transformar. As forças dominantes nunca estiveram interessandas em dar às massas trabalhadoras mais do que era requerido para a sua capacidade como forças produtivas na sociedade existente. Aliada essa formação laboral estava uma formação ideológica que tentava moldar e conter potenciais aspirações indesejáveis das classes trabalhadoras. Do lado destas, evidentemente, encontravam-se interesses diferentes: alcançar um nível escolar mais elevado, melhores remunerações e condições de trabalho; menores horários laborais.)
Actualmente há um novo tipo de segregação a que eu chamaria de diferenciação de sucessos: os "sucessos rascas" para um sector apreciável da população e sucessos de "qualidade diferenciada" para segmentos específicos e minoritários da sociedade. De facto para quê segregar através da marca do insucesso se podemos utilizar para todos a chancela do sucesso. Só que estes sucessos aparentemente iguais são mais iguais para uns do que para outros.
Tudo isto, ao fim ao cabo, segue as necessidades das nossas sociedades capitalistas de hoje: se as nossas sociedades são tão duais e tão segmentadas a começar pelo dito mercado de trabalho; e se a grande moda discursiva e real actual relativamente às políticas de educação é a de que estas devem estar ao serviço das necessidades do mercado de trabalho; percebe-se o rumo da educação:
-o nosso mercado de trabalho (refiro-me ao nosso mas utilizo em grande parte números provenientes de estudos norte americanos sobre as necessidades de trabalhadores) começa, em primeiro lugar por excluir uma quantidade considerável de trabalhadores - o desemprego dito estrutural- na ordem real dos 10 ou mais %, mantida quase indefinidamente nessa condição. Que necessidade tem os politicos "realistas" do nosso sistema capitalista de desenvolver um sistema educativo de qualidade para formar esses "párias"?
-apesar das balelas sobre a "sociedade do conhecimento" o nosso mercado de trabalho requisita e requisitará nas próximas décadas uma quantidade considerável de trabalhadores, especialmente na área dos serviços, cuja formação profissional específica requerida é muito reduzida. Bastam alguns dias para que os trabalhadores estejam formados para essas tarefas, desde que tenham adquirido anteriormente certas competências gerais básicas no sistema educativo. Para esse grupo substancial de trabalhadores, aquilo que se requer do sistema educativo não é muito exigente. Para uma convincente desmontagem desta questão ler aqui um texto esclarecedor.
-Restam no topo alguns grupos não muito numerosos de profissionais que requerem uma formação longa e de nível superior. Para esses o sistema educativo tem de dar respostas adequadas.
Para cada grupo de desempregados, de trabalhadores precários, de trabalhadores adaptáveis de formação reduzida, média ou superior é preciso encontrar o lugar, o acesso e o sucesso no sistema educativo. Mais do que o antigo não acesso ou insucesso, os sucessos relativos e específicos são, simultaneamente mais adaptados aos tempos modernos e mais digeríveis socialmente pelas opiniões públicas.
Repare-se em Portugal nos antigos e actuais números de exclusão e de insucesso na escola. Repare-se nas actuais (falo dos últimos 15 anos e da actualidade em particular) exigências de sucesso e nas medidas utilizadas para o obter. Não é isto que está a acontecer? Não é esta necessidade de conformar de forma suave o que se passa no sistema educativo às necessidades reais das nossas sociedades de mercado, o que se está a passar?
Por trás dos discursos há que ler as reais intenções.
Por trás das medidas há que desmascarar os motivos.
Aqui há uns anos o saudoso Rui Grácio dizia que o "insucesso escolar era o sucesso do sistema". Se estivesse vivo, com certeza veria necessidade de modificar essa expressão: agora o sucesso do sistema é mais subtil e vive de sucessos à medida.

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sábado, fevereiro 24, 2007

A imprensa livre!!!

¿Por qué el gran capital económico y financiero invierte en el mundo de la prensa que es un sector sumamente deficitario?

Es económicamente absurdo, pero ideológicamente es súper eficiente. El objetivo de esos inversionistas no es generar ganancias sino controlar el pensamiento y reducir el marco convencional del debate “democrático” permitido, marco que se vuelve cada vez más totalitario y superficial. Es totalitario en la medida en que no acepta los pensamientos alternativos, y superficial porque los análisis sobre estas maneras de pensar se quedan en la epidermis.

En realidad, lo que se suele llamar “prensa internacional y democrática” es un mundo tiránico y reaccionario que ya no es el cuarto poder encargado de denunciar los desmanes de los poderes legislativos, ejecutivos o judicial.
Ahora, el mundo de la prensa responde a la agenda de grupos privilegiados y defiende los intereses de las elites económicas y políticas. Por ello, se puede decir con toda objetividad que la prensa dominante es una amenaza para la democracia.

Salim Lamrani, in entrevista no Rebélion.org

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Palavras de Eduardo Galeano

Na era vitoriana, as calças não podiam ser mencionadas na presença de uma senhorita.

Hoje, não fica bem dizer certas coisas na presença da opinião pública. O capitalismo ostenta o nome artístico de economia de mercado, o imperialismo chama-se globalização.

As vítimas do imperialismo chamam-se países em vias de desenvolvimento, o que é como chamar de crianças aos anões.

O oportunismo chama-se pragmatismo, a traição chama-se realismo.

Os pobres chamam-se carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos.

A expulsão das crianças pobres do sistema educativo é conhecida sob o nome de deserção escolar.

O direito do patrão a despedir o operário sem indemnização nem explicação chama-se flexibilização do mercado laboral.

A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria.

Ao invés de ditadura militar, diz-se processo.

As torturas chamam-se pressões ilegais, ou também pressões físicas e psicológicas.

Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões e sim cleptómanos.

O saqueio dos fundos públicos pelos políticos corruptos responde pelo nome de enriquecimento ilícito.

Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos automóveis.

Para dizer cegos, diz-se não visuais, um negro é um homem de cor.

Onde se diz longa e penosa enfermidade deve-se ler cancro ou SIDA.

Doença repentina significa enfarte, nunca se diz morte e sim desaparecimento físico.

Tão pouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares.

Os mortos em batalha são baixas, e as de civis que a acompanham são danos colaterais.

Em 1995, aquando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: "Não me agrada essa palavra bomba, não são bombas. São artefactos que explodem".

Chamam-se "Conviver" alguns dos bandos que assassinam pessoas na Colômbia, à sombra da protecção militar.

Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade a maior prisão da ditadura uruguaia.

Chama-se Paz e Justiça o grupo paramilitar que, em 1997, metralhou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, no momento em que rezavam numa igreja da aldeia de Acteal, em Chiapas.

O medo global

Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.

Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.

Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.

Os automobilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados.

A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer.

Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas.

É o tempo do medo.

Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo.


Este texto encontra-se em http://resistir.info/ .

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Correlação de forças

Na política como na Física as forças exercem entre si efeitos mutuamente interactivos. Vejamos como está a correlação de forças na Educação, especialmente entre a condição profissional dos professores e a política do ministério da Educação relativamente a eles.
A situação profissional, designadamente a do estatuto dos professores e da forma como estão a ser tratados neste momento depende de factores politicos conjunturais que pesam muito. Vejamos:
-há uma tendência geral das políticas europeias e mundiais, - com indicações da UE e da OCDE, designadamente- no sentido neoliberal, com a exigência de redução das despesas públicas, do número de funcionários públicos e privatização;
-o partido da maioria no poder aprovar essas políticas assim como toda a sua oposição mais à direita;
-o discurso da crise em torno da obsessão com o défice, estar a ser usado como argumento principal para poder alavancar um conjunto de reformas no sentido neoliberal;
-toda a comunicação social privada (dominada pelo capital que apoia a três mãos as “reformas” do governo) e a pública (dominada pelo poder) apoiarem o governo; esta comunicação social na esteira do ministério conseguiu influenciar muito negativamente a imagem que a população tem relação aos professores portugueses;
-o peso dos vencimentos e direitos dos professores no orçamento de estado ser substancial e a sua redução muito aliciante;
-haver um grande número de professores desempregados que constitui pressão negativa sobre os que estão no sistema (um verdadeiro exército de reserva disposto, naturalmente pela sua situação, a trabalhar a baixo preço e com poucos direitos).
-haver interesse da parte dos municipios em meter a mão no bolo da educação.
Contra isto os professores só podem contar consigo próprios e com os seus sindicatos (que conseguiram até agora estar unidos). E quanto a sindicatos existe a Fenprof. A FNE é uma coisa que volta e meia faz fretes aos governos e o resto nem paisagem é. O movimento sindical geral está enfraquecido, por razões objectivas, e em Portugal não consegue apoiar os professores na ofensiva do governo;
Ora os professores também não constituem uma massa unida nem politica nem socialmente. Às manobras divisionistas do governo deram respostas interessantes mas insuficientes, que como sabe, até agora não foram capazes de parar o ME. As greves tiveram adesões não massivas o que deu ao ME a oportunidade para avançar mais.
(Compare-se por exemplo com o que se passa agora com as urgências: o que obrigou o governo a parar? Compare-se a conjuntura, os factores, os apoios, a correlação de forças.)

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Zeca Afonso - Professor

Zeca Afonso foi professor. Num livro sobre ele, ele referia a dado momento que, para ele, o que significa ser professor é tentar contribuir para fazer com que os alunos um dia os superem. Enfim, uma concepção humanista e cultural da nossa profissão dum Ser Humano e Artista digno de registo. Tão longe das concepções mesquinhas e apouquinhantes que seres dignos de repulsa estão a conseguir edificar nas nossas escolas.

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O Rolo Compressor I

O que se passa em Portugal (e na Educação e na Saúde em particular) é que o rolo compressor do neoliberalismo está a funcionar melhor do que nunca.
Já o disse e repito: os actuais gerentes da politica de direita que está a ser aplicada em Portugal são os seus intérpretes ideais: nominalmente socialistas, portanto de "esquerda", seriam insuspeitos para aplicarem politicas de direita. No entanto basta ver os apoios da direita de facto, dos senhores do capital, para ver o real sentido das politicas.
Esse apoio verifica-se principalmente através dos seus meios de comunicação social. E àqueles que se atiram aos jornalistas como os responsáveis pelas mentiras e ocultação das verdades eu direi: de facto, os jornalistas têm a sua parte de culpa, mas é preciso não esquecer que eles estão sujeitos, na sua imensa maioria, aos ditames editoriais dos grupos económicos que, cada vez mais concentradamente, mandam nos meios de comunicação social privados, ou, no caso dos média públicos, às influências do poder. Os jornalistas são um grupo profissional estritamente controlado e mantido na linha através da pressão do desemprego, dos despedimentos, de certas leis e das linhas editoriais e chefias redatoriais cujos critérios, muito mais do que competência técnica, envolve fidelidades de interesses. Ser jornalista sério em Portugal (e não só) é tarefa dificílima quase impossivel, digo eu, que conheço o jornalismo do lado de fora, embora sempre tenha lido bastante sobre as questões do jornalismo.
Para quem tenha uma visão cândida das formas como o capital e o poder usam os meios de comunicação social, transcrevo aqui uma parte dum texto tão "actual" que Einstein escreveu há cerca de 60 anos, intitulado "Porquê o socialismo?":
"O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são escolhidos pelos partidos políticos, largamente financiados ou influenciados pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses das secções sub-privilegidas da população. Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, directa ou indirectamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objectivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos."
Resumindo: no caso de Portugal contemporâneo, a golpada neoliberal em curso está a ser feita a todo o vapor sob disfarce de políticos ditos de esquerda e com todo o apoio da direita de facto, usando o instrumento fundamental da comunicação social. A mentira, a ocultação, são usados diariamente em doses maciças, pelo governo e pelos seus acólitos. Com a comunicação social dominada não é de admirar a dificuldade que quem contesta esta política tenha imensa dificuldade em chegar à população portuguesa. A propaganda maciça utilizada explica em larga medida as sondagens positivas obtidas neste momento em Portugal pelo partido socialista, apesar das medidas nefastas para a maioria da população e de contestações sectoriais.
Duas mentiras de base (com algo de verdade como convém às mentiras funcionais) são largamente utilizadas e têm funcionado até ao momento:
-a 1.ª a de que existe uma grave crise económica cuja origem advém do défice (acima dos 3%) e de dívida pública excessiva- a chamada "obsessão pelo défice" como a designa a oposição à esquerda do PS;
-a 2.a a de que não há solução para a crise senão a preconizada pelo ideário neoliberal: redução das despesas públicas; privatizações; incentivo ao mercado; reformas da segurança social, saúde e educação no sentido de redução de direitos e de despesas; redução do número de funcionários públicos; desregulamentação das leis laborais e liberalização dos despedimentos.
Quanto à primeira mentira um desmentido histórico e uma visão diferente da interpretação neoliberal pode ser lida aqui, a qual demonstra que no nosso país, têm coincidido períodos de grande défice com crescimento económico. As politicas recessivas centradas na limitação das despesas públicas, designadamente com o investimento, a tal obsessão com o défice, não têm nitidamente dado os resultados que oficialmente são esperados. Mas não sejamos ingénuos. E se os resultados que efectivamente se queriam obter fossem outros? E se o que se pretendia era uma reconfiguração do estado, diminuindo drasticamente as despesas públicas, privatizando o que ainda é público e é aliciante para o mercado, passando o mais possivel para a esfera do privado os actuais serviços públicos actualmente existentes (Educação e Saúde em particular)? E se o objectivo dessas medidas fosse trucidar os actuais direitos à saúde e à educação dos cidadãos fazendo-os pagar "a la carte" como mercadorias de qualidade variável em função do poder de compra de cada individuo/família? Tal seria uma jogada de mestre, não? Conseguir um objectivo inconfessado e inconfessável, usando argumentos falsos, e fazendo os actores jogar um jogo com o resultado viciado...
É interessante fazer um paralelo. Nos países do terceiro mundo, a onda neoliberal usou o jugo da dívida, obrigando os governos a seguirem a receita única do FMI e do Banco Mundial: privatizazações; limitar drasticamente os gastos públicos; liberalizar mercados; desregulamentar direitos sociais; facilitar os despedimentos. (Dívida que, lembre-se, foi instigada pelos próprios bancos e países credores e que depois assumiu proporções gigantescas por efeito de bola de neve, pelo aumento dos juros (e juros dos juros)). Essa receita, dizia, foi aplicada em todos os países independentemente da sua história e tradições, da sua economia e cultura. Os técnicos do FMI levavam em "diskete" a receita para o país onde serviriam de consultores, por vezes, mesmo sem se atreverem a sair dos hoteis em que estavam instalados no período de consultadoria. Os resultados foram e são devastadores em África e na América Latina.
Nos países do primeiro mundo (Refiro-me principalmente à União Eiropeia), já que o problema da dívida não existe com a mesma dimensão, inventou-se uma justificação similar: o problema do défice. Em nome da sua redução (do dito défice) estão a aplicar-se na União Europeia, o mesmo género de receita que os países do 3.º mundo tiveram que aplicar nas últimas décadas com efeitos sociais devastadores do ponto de vista geral e com o aumento da desigualdade social. E se nos países do terceiro mundo os Estados são entidades actualmente despidas de recursos (embora alguns, como sabemos, donos de recursos naturais consideráveis e por isso subjugados por guerras imperiais) já nos países do centro os Estados são entidades com gorduras altamente apetecíveis para um emagrecimento que as transvase para as entidades privadas.
Relativamente à segunda mentira, a de que não há outra solução senão a neoliberal, vejamos. Aparte uma preocupação com uma redução de desperdícios ou gastos supérfluos, que qualquer pessoa de bom-senso considera adequada, outras poderiam e deveriam ser as medidas a adoptar se a preocupação com a justiça social e a igualdade fossem faróis fundamentais das políticas. Por exemplo, olhando do lado das receitas e sabendo que, segundo estimativas realistas, a nossa economia paralela ronda os 20% da economia real, medidas a médio prazo de luta contra esta realidade seria fonte de receitas bastante significativa. Se actualmente as dívidas ao fisco são imensas a fuga aos impostos é ainda muito maior. Medidas no sentido de as combater trariam proventos consideráveis. Ainda no campo fiscal sabemos que há sectores muito rentáveis em Portugal, banca e grandes empresas que pagam muito pouco ao fisco e têm benefícios fiscais que mais ninguém tem. Que moral tem os nossos governantes para exigirem austeridade aos vários segmentos de trabalhadores quando mantêm ou mesmo aumenta benefícios fiscais para quem já apresenta lucros descomunais, mesmo, ou sobretudo, em tempo dito de crise? Quanto à politica de privatizações é de perguntar porque se privatizam (e privatizaram) empresas altamente rentáveis que dão lucros de milhões ao erário público e só fica aquilo que não é rentável? É certo que muitas destas medidas são condicionadas, sabemo-lo, pela União Europeia. Esta união, em grande parte não é mais do que a federação de grandes interesses económicos. O neoliberalismo está no seu seio, nas medidas que obriga ou sugere aos estados componentes para aplicar. Grande parte do conteúdo da até agora fracassada constituição (projecto) está aí para o demonstrar.
Quanto ao rolo compressor na Educação em Portugal que estamos actualmente a viver fica para um próximo post que este já vai muito longo.

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Coincidência? Não acredito.

A propósito das próximas eleições para a presidência da republica francesa, a candidata do partido socialista francês Ségolene Royal prometeu aumentar o orçamento da educação, designadamente, repor a parte que os actuais governantes de direita cortaram e estão a cortar. São promessas e lá, como cá, todos nós sabemos como as promessas dos políticos de turno no poder não valem nada.
Lá, os actuais governantes de direita, reprovaram ao seu sistema educativo (utilizaram como argumento) o facto de o dinheiro nele "investido" não se ver traduzido em resultados alcançados nem maior equidade (reparem na semelhança com os argumentos da ministra portuguesa). Vai daí e à conclusão teórica seguiu-se a prática dos cortes substanciais nos orçamentos. Cortes nos salários dos professores, que têm perdido poder de compra nos últimos anos na ordem dos dois digitos; cortes nos lugares de professores; congelamento nas progressões nas carreiras, etc. Ainda relativamente aos professores, quem tiver lido nos últimos anos as "opiniões" dos governantes e dos "opinadores" franceses. (tanto do PS como da direita) notou as críticas ao absentismo docente, à malandrice dos mesmos...
Lá em França como cá, em Portugal, o que se passa é uma ofensiva neoliberal, levada a cabo pelos políticos tanto da direita assumida como da direita disfarçada, e que estão a reorganizar o Estado no sentido dos ditames neoliberais: menos estado social, mais privatizações, desregulamentação laboral, etc.
O que se passa de mal com a Educação e com os professores é o facto de serem tradicionalmente públicas e terem interiorizado uma cultura de educação como direito. Por isso, para que a educação saia da esfera dos direitos concedidos pelo estado; para que ela seja vista como uma mercadoria como qualquer outra, cujo consumo seja feito em função do poder de compra dos individuos; para que essa mercadoria passe a ser oferecida numa espécie de mercado com indicadores de concorrência; dois alvos são a abater: a Educação Pública e os Professores com cultura de Educação Pública. Tal faz-se com o arsenal de meios que temos visto: aqui, em França e noutros países bem mais avançados nessa escalada de destruição da Educação como Direito Social.

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sábado, fevereiro 17, 2007

Os riscos de uma certa autonomia.

Sou daqueles que quando vejo alguém a dizer melhor do que eu aquilo que eu gostaria de saber dizer, remeto-me para as suas palavras e divulgo-as na maior medida possivel.
Vem isto a propósito de um texto excelente sobre os riscos da privatização encoberta que a autonomia, ou o que nos vendem por autonomia, nos traz. Incontornável.

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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Aberração a instituir-se.

Sobre a aberração do novo "concurso" a professor titular sugiro a leitura do post da Isabel no "Memórias soltas de professor" e também do post do Paulo Guinote no "Educação do meu umbigo".

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terça-feira, fevereiro 13, 2007

"Qualquer coisinha de Esquerda"

Aqui há uns anos, num filme de Nanni Moreti que não me recordo agora qual, Moreti, ao ver na televisão o lider do governo italiano da altura, Massimo D'Alema, ex membro do partido comunista italiano, repetia suplicante qualquer coisa parecida com isto: "vá lá, diz, diz qualquer coisinha de esquerda, por favor".
O nosso primeiro ministro deve ter visto o filme. Mais: aprendeu qualquer coisinha com o filme. Ao contrário de D'Alema que nem sequer dizia "uma coisinha de esquerda", o nosso político diz umas coisinhas de esquerda e até se meteu numa causa tradicionalmente considerada de esquerda. Ele é um mestre em maquilhagem política.
Há algum tempo me vinha a lembrar desta história, a propósito das peripécias (que não acabaram) do referendo. Oque me fez sorrir ainda mais e confirmar a minha suposição foi o exposto nesta peça jornalística sobre declarações de hoje do nosso político progressista de esquerda. Sócrates dizia aí que a vitória no sim o fez "sentir que o PS é um partido progressista". De facto é preciso "coisinhas" como esta para o PS se sentir progressista e de esquerda.
Tenho de confessar que uma das coisas que menos me agradou no referendo foi a forma como ele serviu e continua a servir para desviar a atenção das políticas reais de direita deste governo... através de uma bandeira "progressista" cuja concretização prática, vamos lá a ver como se fará no terreno.

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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Outra IVG

Interrupção Voluntária deste Governo, precisa-se. Antes que ele acabe com o que nos sobra de Estado social que ainda vamos tendo.

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sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Máscaras

Quem tiver algumas dúvidas sobre a deriva neoliberal dos nossos "socialistas" é só ver o teor das medidas que tomaram, tomam e querem tomar. Seguem a cartilha neoliberal na perfeição.
Agora querem redefinir as funções do Estado deitando para fora da função pública a Saúde e a Educação.
Usurpadores do nome de "socialistas" quando não passam duns neoliberais disfarçados que querem fazer retroceder socialmente o nosso país. Chamam-lhes reformas quando estão a liquidar direitos duramente conquistados pelos trabalhadores.
A direita, a dos partidos e principalmente a direita de facto dos grandes grupos grupos económicos rejubila. Haver politicos com o nome de "socialistas" a fazer o seu trabalho sujo, trabalho esse que nunca seria possível à direita fazer em Portugal sem contestação imensa nas ruas ou sem ditadura, é um maná que lhes caiu dos céus.
Não os paremos nas ruas e com todos os meios possiveis e ficaremos nas ruas da amargura.
Não lutemos e quando acordarmos já será demasiado tarde.

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

"A escola da ignorância"

Eis aqui um excerto de um livro com o mesmo nome que, principalmente na primeira parte, me parece atingir plenamente o alvo das críticas que actualmente se devem fazer aos nossos sistemas educativos integrados nos nossos sistemas sociais.
Retirado do blog Quomodo.blogspot.com.

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"Hoje sou o único na minha turma"

Relato de um aluno iraquiano de onze anos. "Hoje sou o único na minha turma". Retirado do diário da net de informação alternativa Rebelión.org.

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Árvores e Florestas

Não é possivel analisar a situação da Educação sem a contextualizar na sociedade em que ela se integra. Esta é uma afirmação que penso ninguém negará nos tempos que correm. No entanto quantas vezes se fazem análises essencialistas em que se critica a Educação sem se fazer essa contextualização necessária?
Critica-se actualmente a Educação em Portugal pelas suas deficiências em conseguir qualificar os recursos humanos. Embora este tipo de crítica seja em si mesma discutível em certos aspectos, não sou eu que vou negar que a nossa Educação e o sistema Educativo que temos padece de problemas de qualidade e de eficácia. (Não podemos esquecer a necessidade de definir a eficácia e a qualidade).
Mas peço-vos para que me acompanhem num raciocínio relacional (da Educação com a Sociedade) colocando a seguinte questão: o que aconteceria socialmente se, no actual modelo social que temos, a nossa Educação fosse de óptima qualidade e produzisse uma qualificação de recursos humanos abundante e de excelente formação?

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