terça-feira, julho 25, 2006

Pausa no blog

A menos que haja algo de substancial a acontecer na nossa Educação, este blog fará uma pausa que durará até fins de Agosto.
Boas navegações.

sexta-feira, julho 21, 2006

Acerca da ministra.

Acerca da prestação da ministra da Educação, na sua ida, dia 20 de Julho, ao parlamento, reproduzo uma parte de um post saído no blog Crackdown:
"Esta prestação da ministra deixou a nu a personagem - incompetência camuflada de exigência, prepotência disfarçada de seriedade, desrespeito escondido sob uma falsa capa de rigor, fraqueza onde alguns querem à força ver determinação. Os professores e as escolas já sabiam com o que lidavam, agora só não sabe quem não quis ver."
Como dizia o Miguel Pinto no seu comentário ao post: "na mouche".

quinta-feira, julho 20, 2006

Jornalismo de opinião.

Como é que um chefe de redacção do JN pode dar-se ao luxo de referir-se ao suposto "execrável corporativismo da classe docente", a que a ministra e o seu ME têm tido a "coragem de afrontar", com a sua "apreciável dinâmica reformista"? E isto num artigo em que critíca a mesma ministra.
A minha tentativa de interpretação é esta:
Este senhor pode dar-se a esse luxo dado que cair em cima dos professores é uma moda que pegou e que serve os interesses do dono da sua voz e dos que mandam na nação. Os senhores da sua voz e os que gerem actualmente o país têm de encontrar bodes expiatórios da crise em que nos colocaram. E um grupo com tanta gente, como os professores, que pela sua qualificação e reivindicação conseguiu garantir níveis decentes de salário e de direitos, é um alvo preferencial a atingir.
Dizer estas barbaridades pode, ainda, além dos senhores atrás referidos, contentar alguns daqueles que lêem jornais e que não auferem o mesmo nível de direitos dos professores. Esses não têm, se estiverem atentos, motivos nenhuns para contentamento. Os seus direitos, os poucos que vão tendo, estão a ser alvo (há mais tempo direi eu) da mesma erosão neoliberal que actualmente ataca os professores. É motivo para a união de todos aqueles que trabalham, (menos, por exemplo, daqueles que se prestam às tristes funções ditas jornalísticas) de emprestarem a sua voz a opiniões conveniente para a sua carreira.
A este senhor direi eu. Aplique-se mais em dar notícias. Deixe-se de qualificar profissionais de outras profissões que devem merecer o seu respeito e o do jornal. Jornal de que você é um mero funcionário, mais bem pago do que muitos jornalístas mais competentes mas menos dóceis, com certeza.

quarta-feira, julho 19, 2006

Afinal como é?

"a instabilidade, a insegurança, a desorganização e a paralisia que o actual governo está a provocar em toda a Administração Pública, contribuindo assim para um maior agravamento da crise económica e social em que o País está mergulhado, não é apenas consequência de uma "reforma" apressada e mal estudada (como efectivamente também é), mas tem um objectivo claro que é o seguinte: criar condições para que depois sejam entregues à exploração privada serviços públicos essenciais, pelo menos todos aqueles que possam dar lucros aos privados. E como se prova neste estudo isso tem graves consequências quer para os utentes dos serviços públicos quer para o Orçamento do Estado. "
Eis aqui um excerto de um estudo efectuado pelo economista Eugénio Rosa, que se pode ler aqui.
P.S. No site Resistir.info encontram-se vários estudos (1, 2, 3, 4, 5) deste mesmo economista sobre as questões da Segurança Social, contrariando os argumentos do governo e apresentando propostas alternativas. Pena que estes estudos não colham na comunicação social uma décima parte do tempo da propaganda do governo sobre esta matéria. Estes estudos têm a particularidade de serem claros e não escritos em jargão económico.

segunda-feira, julho 17, 2006

Dá para perceber...

Assim dá para perceber porque pagam "salários" e outras benesses a personagens como o nosso presidente do Banco de Portugal. "Notícias" destas são muito convenientes.
Pelos vistos os nossos salários nominais cresceram 3% nos últimos dois anos. A nossa produtividade é muito baixa, e como é muito difícil de contabilizar nos serviços públicos assume-se, simplesmente, que aí foi 0%. Os custos com salários estão a crescer enormemente na área Euro.
Ufa. Só pessoas pagas a peso de ouro podem conseguir tais malabarismos contabilísticos.
É o economês no seu "melhor", ao serviço do politiquês mais rasteiro.

sábado, julho 15, 2006

Compreender para transformar.

O que mais me motiva nas leituras e pesquisas que faço é tentar compreender o mundo em que vivo e tentar participar nele mais lucidamente.
No caso da Educação sempre fiz uma distinção entre aquelas leituras que me permitiram conhecer melhor o mundo da educação e aquelas que nada ou pouco me diziam.
Nos últimos anos tenho tido o prazer de conhecer (pela leitura das suas análises e propostas) um grupo de educadores Belgas (francófonos) que fomentam um site "L'École democratique", onde regularmente promovem encontros e desenvolvem análises sobre a Educação.
O interesse tem-me levado a adquirir até alguns dos livros (excelentes) que um dos membros desse grupo, Nico Hirtt, tem escrito.
Esse grupo produz regularmente uma publicação trimestral. Alguns dos números estão online.
Deixo aqui um exemplar já com alguns anos mas com ideias que permanecem muito actuais.
O único problema é que é preciso dominar a lingua francesa. Se for esse o caso, desejo-vos o mesmo prazer e interesse que tenho tido ao navegar pelos textos desse grupo de professores belgas que não se resignam aos ditames do pensamento único (pedagógico ou outro).

sexta-feira, julho 14, 2006

Lá como cá...

Ao navegar na net deparei com um site de um sindicato do ensino, espanhol, que, a propósito de uma proposta de alteração ao ECD de lá, acusava o ME de lá, de querer, à pressa, aprovar um ECD inquietante, regressivo e hierarquizante.
Parece que para já tinham conseguido suster para já as intenções do ME de lá.
Lá como cá... as semelhanças políticas são enormes. Nos conteúdos e nas estratégias.
Professores de todos os países... unam-se enquanto é tempo...

quinta-feira, julho 13, 2006

Sobre os resultados dos exames do 9.º.

Uma das coisas que estes resultados me parecem demonstrar é a facilidade com que o nível de resultados pode mudar de um ano para o outro na ordem das dezenas de pontos percentuais.
É interessante verificar como na Matemática a "coisa" subiu significativamente e no Português desceu bastante. Interessantes e talvez convenientes estas dinâmicas inversas.
Quanto a exames ou a avaliações já vários disseram que, muitas vezes, elas medem mais os próprios instrumentos de medida ou os avaliadores do que aqueles que se pretendem medir: os avaliados.
Mesmo não sendo professor de Matemática, faz-me muita impressão ver as contas "estatísticas" que se fazem, fazendo médias quantitativas de níveis qualitativos. A mistificação dos números para pacóvio embasbacar é e continuará a ser um grande instrumento da demagogia.

"A perigosa linguagem dos números"

Em Maio o blog Precessão publicou um texto de Santana Castilho que eu achei particularmente interessante pela desmistificação que fazia de certas evidências tão apregoadas e que usam só os números que lhes interessam.
Acho que merece ser lido ou relido. Por isso aqui o republico.
"A perigosa linguagem dos números

A ministra da Educação classificou de excessivo o peso dos salários no orçamento do ministério, no momento em que se procede ao habitual concurso de colocação de docentes, desta feita para valer por três anos e com quase 123.000 candidatos. Esse excesso, recorde-se, resulta, segundo números da OCDE recentemente divulgados, de um peso de 93 por cento dos salários relativamente à totalidade da massa monetária em apreço, quando a média respectiva dos outros países se fica pelos 75 por cento. Esta relação tanto pode ser alterada pela diminuição do número de assalariados como pelo aumento do orçamento, mantendo o valor global dos salários. Ou, ainda, se se quiser, pela diminuição do valor dos salários, mantendo inalterável o orçamento e o número dos contratados. Nunca se usou tanto a linguagem dos números para documentar opiniões e sustentar teorias, procurando com isso fazer passar a ideia de que as argumentações são sólidas, tendo tão pouco presente o aforismo de Bertrand Russell, segundo o qual "a matemática é a única ciência exacta em que nunca se sabe do que se está a falar nem se aquilo que se diz é verdadeiro". Voltemos à tese inicial da ministra da Educação (e da OCDE): 93 por cento para salários e sete por cento para o resto é um desequilíbrio mau; 75 por cento para salários e 25 por cento para investimento é um equilíbrio melhor. Provavelmente sim. Provavelmente não. A mesma fórmula resulta disparatada se aplicada por igual a uma escola de Timor (onde falta tudo) e a uma escola da Suíça (onde já sobra muito). Outro exemplo? A estafada invocação de que Portugal é dos países que mais dinheiro consagra à Educação. Talvez sim, ou talvez não. É que essa afirmação resulta sustentável por referência percentual ao produto interno bruto. Mas já o caso muda de figura se repararmos que temos um produto baixíssimo e sete por cento de 100 são sete, enquanto cinco por cento de 300 são 15. Outro exemplo ainda? O Governo teria cometido a proeza, que a sua central de propaganda não cessa de nos vender, de ter baixado o défice de 6,8 para seis por cento. Mas quem assim fala serve-se de quê? De uma previsão do governador do Banco de Portugal que, de tão dramaticamente repetida, acabou retida pela opinião pública. Comparar uma previsão com um exercício efectivo é um disparate. Mas tem sido feito. Quando comparamos o que é comparável, o défice não diminuiu, aumentou. Com efeito, o défice de 2005, cifrado em 6,02 por cento, só pode ser comparado com o de 2004, de 5,2 por cento (descontadas as receitas extraordinárias). E a isto acresce que o actual Governo conseguiu os 6,02 com um aumento brutal de impostos. Querem maior evidência de mau desempenho? O anterior é uma demonstração clara da possível manipulação dos números. Mas pior que isso é a pura ignorância maliciosa da sua expressão, para mentir. Lá vai exemplo: até à náusea tem sido propalada a ideia de que temos uma insustentável percentagem de funcionalismo público, por referência aos activos totais. As estatísticas oficiais da União Europeia dizem o contrário. Dizem que essa percentagem se cifra em 17,9 por cento, comparada com 33,3 da Suécia, 30,4 da Dinamarca, 28,8 da Bélgica, 27,4 do Reino Unido, 26,4 da Finlândia, 25,9 da Holanda, 24,6 da França, 24 da Alemanha e por aí fora. Em toda a Europa, só dois países têm menos funcionários públicos que nós, por referência à totalidade dos activos. São o Luxemburgo (16 por cento) e a Espanha (17,2 por cento). Uma palavra agora para a resignação algo acéfala que vamos evidenciando perante as teorias económicas de organismos internacionais. É o caso da OCDE, que já cansa. Se muito tem de aceitável, muito tem de questionável. Recordam-se da chamada directiva Bolkenstein, em boa hora barrada (por enquanto), segundo a qual os trabalhadores do espaço europeu seriam pagos nos países da prestação do trabalho segundo os valores praticados no país de origem (um canalizador suíço e um canalizador polaco, ambos a trabalhar na Suíça e a fazer exactamente a mesma coisa, poderiam ganhar o primeiro 20 e o segundo dois)? Pois bem, a OCDE aplaudia. Têm presente o CPE de Villepin (tratamento completamente desregulado dos jovens à procura do primeiro emprego) retirado por força da indignação que suscitou? Pois a OCDE defendia-o com paixão. Para concluir esta passagem pela utilização da linguagem dos números, seria bom que tivesse tido mais relevo algo que o nosso primeiro- ministro constatou numa visita que recentemente fez a uma escolinha da sua celebrada Finlândia. Desmistificar-se-iam, assim, representações erradas da realidade. Nessa escola há um professor para cada 11 alunos e um segundo para coadjuvar o trabalho do colega, sempre que apareçam crianças com necessidades especiais; cada aluno tem o seu próprio computador; o custo do ensino é completamente suportado pela autarquia (materiais e refeições inclusas). Portugal não é a Finlândia. Mas não é bonito mistificarem-se dados, divulgar uns e outros não.Professor do ensino superior
SANTANA CASTILHO
8 Maio 2006 - Publico"

quarta-feira, julho 12, 2006

Indigência, demagogia, politiquês...

Assim vai a política educativa em Portugal. Esta reacção do Senhor Secretário Valter Lemos, aos resultados dos exames do 9.º ano é uma pérola da "estação estúpida".
Não percam.

Constatações e perguntas.

Estamos ainda em plena crise económica como lhe chamam. Os bancos em 2005 tiveram lucros 30% superiores ao ano anterior, no qual já tinham sido enormes.
Porque é que eles têm tantos lucros em plena crise? De onde lhes vêm essses lucros? Porque é que a questão da isenção fiscal aos prémios dos jogadores portugueses do mundial ocupa muito mais tempo nas televisões do que esta? Afinal não passam de uns trocos em comparação... No caso dos trocos falam dois fiscalistas. No caso dos lucros milionários fala o presidente da associação dos banqueiros. Porquê?
Nunca como agora se produziu tanto, nem houve tanta capacidade produtiva. A crise actual é de sobreprodução ou de sobrecapacidade produtiva. O desemprego aumenta. Deixou de ser necessária tanta mão-de-obra. Há fome (e gente a morrer por isso) no mundo, no primeiro mundo. Além de fome, há muita gente com falta de cuidados básicos de saúde, saneamento, água potável, educação básica.
Não haverá aqui grandes contradições? Será que estamos a morrer por causa da fartura?
Se esta crise não é, basicamente, por falta de capacidade de produção, o que seria compreensível, então por que será que o problema não se resolve mais fácilmente? Afinal nem seria necessário o milagre das rosas ou o da multiplicação dos pães.
As Nações Unidas fizeram as contas e chegaram à conclusão, já por várias vezes, que bastaria canalizar uma porção mínima de certos gastos supérfluos do primeiro mundo para que se conseguisse satisfazer as necessidades básicas das populações do Terceiro Mundo.
Porque é que isso não é feito? Afinal, há tantas pessoas caridosas, principalmente nos estratos ricos.
O Bono até é compincha do Bush. "Make the poverty history, with the money of the rich guy's." Enfim, não abusemos... "with some money of the rich guy's"
Se grande parte da capacidade produtiva dos países fosse canalizada para a satisfação das necessidades das populações o problema não ficaria resolvido? E assim não se teria de incomodar tantas vezes os ricos caridosos.
Segundo os "inteligentes" o problema com a segurança social tem a ver com a questão demográfica, isto é, quando passarem a existir menos activos por cada um dos não activos, devido à queda da mortalidade e à da natalidade,(desculpem o economês mal digerido) a sustentabilidade não será possível.
Duas perguntas: então, e se a natalidade, por suposição, aumentasse, e assim a relação activo passivo aumentasse o problema ficaria resolvido?
Os inteligentes provavelmente mudariam o discurso e da demografia passariam para a crise estrutural do desemprego.
Mas, digam-me lá, para que trabalham os homens, a maioria dos homens?
Para poderem ganhar dinheiro e adquirir os bens e serviços de que têm necessidade, dirá a maior parte.
Então e para produzir esses bens e serviços que são necessários às populações, não é necessário que se trabalhe dando emprego às pessoas que precisam de dinheiro para os adquirir?
Se, como me dirão , o facto de os homens trabalharem 40 horas é demais para que se produzam tais bens e serviços de que se falava anteriormente, então não será de diminuir o tempo de trabalho (ganhando o mesmo), distribuindo-o por todos os que precisam dele para ganharem o seu sustento?
Agora reparo. Eu estou a partir do pressuposto que não há para aí uns intermediários habilidosos (rico eufemismo) que ficam com grande parte da maquia produzida pelo trabalho da maioria. Assim não há pobreza, segurança social, demografia nem trabalho que resistam.
Afinal quem estará a mais? Os reformados, os desempregados, os inválidos, os inactivos, os pobres, ou este sistema que está a limitar a capacidade produtiva e criativa da nossa sociedade em nome do benefício de alguns?

segunda-feira, julho 10, 2006

Da Relação com o Saber...

Bernard Charlot é um dos autores incontornáveis para todos aqueles que gostam de reflectir e problematizar o que se passa nas escolas, consigo e com os seus alunos, nas actividades de ensino e de aprendizagem.
É um autor verdadeiramente inovador neste campo, pois trouxe à questão do(s) insucesso(s) escolar(es) novas ideias e conceitos, que compreendendo e tentando explicar os problemas pela positiva, poderiam realmente ajudar nas soluções.
Tem a particularidade de ser um autor francês que se encontra actualmente a viver no Brasil, falando e escrevendo também na nossa língua, em que existem vários livros seus publicados.
Para aqueles que ainda não o conhecem e para aqueles que já são seus leitores aqui deixo o texto de uma interessante entrevista.
Para quem ficar a gostar tenho a dizer que na net se encontra muita coisa, principalmente para quem ler francês, mas não só.

sexta-feira, julho 07, 2006

E "Se os tubarões fossem homens"

Aqui vai mais um texto interessante de Bertolt Brecht, especialmente dedicado ao companheiro da blogosfera Zoltrix.
Podemos lê-lo no site Resistir.info.

quinta-feira, julho 06, 2006

Frenesim

Este ministério não pára de me surpreender.
No blogue O Cartel, tive a oportunidade de deparar com mais um documento do ME sobre horários do próximo ano lectivo, datado de 29 de Junho, com indicações novas para o próximo ano lectivo. Estas indicações parecem-me apresentar já algumas diferenças em relação a anteriores indicações e despachos. Por exemplo na questão das substituições, ali fala-se em substituir a aula em falta ou trocá-la por outra disciplina e só em caso de não possibilidade dessas soluções é que se ocupa educativamente os alunos de outra forma. Fiquei sem saber se as ideias anteriores sobre a apresentação de justificação e do plano de aula pelo professor em falta, 5 dias antes da aula, e da sua possível não justificação, irá mesmo para a frente. Será que já não é bem assim?
Mais uma vez se nota nestas indicações a grande preocupação, quase única diria eu, em poupar nas horas de trabalho dos professores, mandando para a componente não lectiva de estabelecimento tudo o que puderem.
Nota-se também, mais uma vez, a preocupação com todos os pormenorzinhos para que os conselhos executivos executem ao milímetro estas indicações.
Esta produção sobreposta, umas vezes com o formato de despachos outra com a forma de não sei bem o quê, está a atingir um tal frenesim que me parece demonstrar já um evidente desgoverno.

quarta-feira, julho 05, 2006

SOBRE A VERDADE...

"Quem, hoje em dia, quizer combater a mentira e a ignorância e escrever a verdade tem de vencer, pelo menos, cinco obstáculos:
-tem de ter a coragem de escrever a verdade, muito embora, por toda a parte, esta seja reprimida;
-tem de ter a argúcia de a reconhecer, muito embora, por toda a parte, ela seja encoberta;
-tem de ter a arte de a manejar como uma arma;
-tem de ter capacidade de ajuizar, para seleccionar aqueles em cujas mãos ela será eficaz;
-tem de ter o engenho de a difundir entre estes."

Bertolt Brecht in Estudos sobre Teatro

domingo, julho 02, 2006

Sobre o sindicalismo... designadamente o docente.

"É sabido, que ao longo da história internacional do movimento sindical sempre se verificou uma duplicidade de perspectivas da sua actividade e tipo de intervenção: a participação e envolvimento dos trabalhadores ou uma actividade burocratizada de cúpula."
In A Saúde, as Políticas e o Neoliberalismo
Mário Jorge Neves, Presidente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul.
No sindicalismo docente esta duplicidade é também visível. Primeiro entre sindicatos. É absolutamente distinguível a prática de sindicatos que adoptam mecanismos de decisão onde são envolvidos exclusivamente os seus organismos (ou mesmo indivíduos) de cúpula e aqueles que abrangem muito maior participação.
Em Portugal os únicos sindicatos que promovem regularmente reuniões nas escolas em que os professores podem participar livremente ou activamente são os pertencentes à Fenprof. Todos os outros se distinguem pelo encerramento nas suas "cúpulas" que, muitas vezes se representam a si mesmas, com o beneplácito do poder que tanto jogou e joga no "dividir para reinar". (Nunca, até hoje, o poder respondeu ao repto da Fenprof para medir a representatividade sindical docente no nosso país. Tal não lhes interessa.)
Se a distinção anteriormente feita, para mim é pacífica, não é menos verdade que penso ser necessário nos sindicatos da Fenprof um salto qualitativo ao nível da participação dos professores. As suas decisões têm de ser a resultante de um ainda maior envolvimento real dos professores através de mecanismos mais directos de formação de decisão, tanto a nível das suas propostas como das formas de luta.
A Fenprof como representante de um tipo de sindicalismo de participação deve ser capaz de ir por aí. As propostas do ME para diminuição das horas de redução para acção sindical visam claramente diminuir a acção sindical combativa que só se encontra na Fenprof. Penso, no entanto, que este ataque ao sindicalismo, pode ser um contributo externo para que a Fenprof, através de uma resposta que invista em formas organizativas diferentes, - em que o envolvimento dos professores seja maior e mais directo, - se renove positivamente.
Adenda: além das suas próprias propostas apresentadas no dia 14 de Junho, a Fenprof apresenta agora o seu parecer quanto às propostas do ministério. É de salientar que, nos últimos tempos, a Fenprof tem demonstrado capacidade, tanto no campo das propostas como no da mobilização dos professores.