sexta-feira, novembro 24, 2006

Corpo estranho.

Ontem, ao aprovar em conselho de ministros um "novo" estatuto à revelia de todas as organizações sindicais e da esmagadora maioria dos professores portugueses, que pressentem as gravosas consequências na profissão e na qualidade da educação, o ministério da Educação e o governo escreveram uma página negra.
Sobre uma apreciação em pormenor remeto para posições da plataforma sindical.
Para uma apreciação pessoal sobre o que todo este processo me provoca, quase visceralmente, eu direi:
-com governos destes, com maioria absoluta, que se dão luxo de rasgar promessas e enveredar por políticas que nunca anunciaram, cuidado, povo português!
-de governos destes, que se dizem de esquerda e praticam políticas cuja matriz está nos manuais da direita e que são elogiados pelos mais "desinteressados" representantes desta, livrai-nos, povo português!
-de governos destes, cujo líder, na campanha eleitoral e em debates televisivos demonstrava uma arrogância e uma falta de sentido de diálogo democrático e que depois neste pleno consulado mostra toda a sua prepotência, enganos são imperdoáveis, povo português!
-de governos destes, cuja "coragem" cai em cima de todos os que trabalham e sobretudo em cima de quem tinha alguns direitos conquistados, praticando um nivelamento por baixo que é exemplo para os de baixo mas neles procura apoios baseados em sentimentos mesquinhos, poupai-nos, povo português!
-de governos destes que se baseiam na mais reles demagogia, na manipulação e no insulto sobre classes profissionais que não se conformam com o conteúdo e a forma das suas "reformas", livrai-nos, povo português!
-de governos destes, que fecham escolas, maternidades, urgências, etc, que fazem pagar mais impostos a quem já paga bastante e não lhes pode fugir e que mantém livres deles aqueles que já deles fogem, poupai-nos, povo português!
-mas de governos de direita que defendem com mais coerência a prática destes governos ditos de "esquerda", livrai-nos também, povo português!
Eu não me sinto enganado por este governo. Ele nunca me enganou. Penso que enganou imensos professores que lhe passaram um cheque em branco.
Por muitas razões não é fácil a luta contra este ministério e este governo. Os seus aliados têm peso, tem poder.
Sei que há muitos professores que estão a pensar simplesmente neste momento (alguns sempre fizeram só isso) adaptar-se a este estatuto, da forma menos lesiva para si próprios. É "humano" dirão. Eu direi antes: é compreensível. O que é Humano e fez esta nossa espécie verdadeiramente conseguir vingar no mundo foi a sua capacidade de o transformar e de cooperar com os seus semelhantes para tentar tornar a vida melhor.
Amanhã e depois de amanhã é dia de continuar a lutar para que alguns senhores não consigam transformar as pessoas em "coisas" insultáveis, desvalorizadas e desvalorizáveis, ignoradas e ignoráveis, exploráveis, descartáveis.
É próprio dos professores ensinar e transmitir os valores humanos. E que tal se, como professores tentássemos ensinar a estes senhores valores como "Verdade", "Jogo Limpo", "Honrar compromissos", "Democracia". Estou convencido que com eles não teríamos a mínima chance de sucesso na aprendizagem. Mas se, como professor acredito que só quando os meus alunos aprendem é que eu realizo o meu ensino, aqui bastaria que se torne bem claro a todos quem é que não quer aprender. É que estes senhores que nos governam, a única coisa que podem aprender de nós é a dignidade de não sermos como eles.
Por favor colegas professores,
com memória, com paciência, com persistência, com criatividade e com união: como um corpo biológico, façamos tudo por rejeitar este "corpo estranho".

quarta-feira, novembro 22, 2006

Sobre as substituições no Secundário.

Admirou-me bastante que os alunos do ensino secundário não tivessem até há pouco tempo manifestado repúdio pelas "aulas" de substituição. Neste nível de ensino parece-me evidente que as substituições não são viáveis. Agora, os alunos começam a manifestar-se em força e a única coisa que os nossos governantes sabem fazer, mais uma vez, é culpar as escolas e os professores, além de insinuarem manipulações políticas nas iniciativas dos estudantes.
A senhora e os senhores que neste momento estão à frente do ministério da Educação causam-me tal estado de... que confesso grande dificuldade em sequer os ouvir e ver. Quando enxotam responsabilidades mais uma vez para cima das escolas e professores, sabendo eles que, da forma como legislaram estas actividades, elas não devem ser mais do que actividades de substituição, já que aulas devem estar dentro do horário lectivo.
Resta dizer que concordo com aulas ou actividades de substituição no ensino básico. Assim o ministério dê condições legislativas às escolas e professores para que estas sejam úteis.

domingo, novembro 19, 2006

O neoliberalismo está de luto.

Milton Friedman, o grande teorizador/divulgador do neoliberalismo morreu. Leia aqui um interessante artigo sobre este movimento agora hegemónico no nosso mundo.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Ditaduras e democracias

O que se fez em tempos só através de ditaduras faz-se agora em "democracia". Assim vão os tempos. Ler no blogue de Emir Sader.
As semelhanças não são meras coincidências.

terça-feira, novembro 14, 2006

Nova vaga de contestação

Começa esta semana uma nova vaga de iniciativas de contestação ao ECD. Contestação com apoios políticos de todos os quadrantes, incluíndo do interior do PS, e de vários sectores sociais. A criatividade vai ser também marcar presença na vigília. A participar.

sábado, novembro 11, 2006

Professores em greve há 6 semanas.

Os professores gregos estão desde há seis semanas em greve, em luta contra as medidas neoliberais do seu governo para a Educação.
Porque é que os nossos média não divulgam esta luta de professores na tão amada União Europeia?
Talvez com medo que os professores portugueses lhe sigam o exemplo.

Há números que não enganam

Onde é que o ministério da Educação vai poupar em remunerações com pessoal 355,5 milhões de euros, em 2007, tal como consta no orçamento de estado para o próximo ano?
A ler neste estudo de Eugénio Rosa.

sexta-feira, novembro 10, 2006

A ler em...

Depois da iniciativa da ida ao parlamento por parte da plataforma de sindicatos de professores:
-algumas brechas no partido do governo quanto ao ECD proposto pelo ministério e bons argumentos do Paulo Sucena (porta-voz da plataforma) em resposta à demagogia do governo sobre a matéria. A ler em...

segunda-feira, novembro 06, 2006

A luta está apenas no começo...

Os professores devem ter a noção clara que a luta está apenas no começo e que sem ela, sem a persistência nela, o Estatuto que nos querem impor será de facto uma realidade. Não duvido que a grande maioria dos professores tem a noção do mal que este "novo" estatuto trará à profissão, aos professores, às escolas e à Educação. A indignação nos professores é muita.
Não há que esconder a dificuldade da situação: perante um governo autista e autoritário, de maioria absoluta, que para combater o défice nos elegeu como um dos alvos prioritários a abater, a tarefa não é fácil. No entanto há que referir que parecia e era mais difícil ainda há uns meses atrás. Entretanto um caminho já se fez. Os professores já fizeram algumas iniciativas coroadas de sucesso. O governo e a ministra, com os seus "casos" já saíram do estado de graça. Os próprios órgãos de comunicação social e fazedores de opinião começam por dar sinais de dissonância e crítica.
A dificuldade da tarefa deve ser motivo para cerrar fileiras e usar todos os meios ao nosso dispor para defender um Estatuto profissional condigno. A plataforma dos sindicatos deu hoje mais um sinal ao apontar o caminho próximo a seguir. Mas há que lembrar que os passos desse caminho temos de ser nós, professores, a dá-los.
A ministra numa recente entrevista à rtp2 lembrava que Roberto Carneiro teve de "sofrer" com 14 dias de Greve. Não sei se foi essa a contabilidade, pois habituei-me a não acreditar na ministra. Mas ela disse uma grande verdade: o Estatuto que temos ainda, na sua globalidade, foi arrancado a ferros a um governo de maioria absoluta. Com muita luta. Com muitas greves e com dinheiro nelas "perdido". Os professores nesse tempo, a pouco e pouco, foram consciencializando a necessidade e a inevitabilidade da luta, para serem devidamente considerados pelo governo.
Será que os professores de agora, que numa parcela significativa, são os mesmos desse tempo, esqueceram os ensinamentos desse tempo? Penso que não. Espero bem que não. E espero que transmitam aos mais novos esses ensinamentos. E que, se porventura, alguns se esqueceram deles, haja professores mais novos que lhes recordem com o exemplo, a dignidade de lutar por aquilo em que se acredita, não apenas por si próprios, mas pela profissão de que se faz parte. E eu espero muito que se acredite na importância de um Estatuto que valorize realmente os professores.
E que esse acreditar se traduza na luta necessária e inevitável.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Parabéns Alberta

"É mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo", diz um provérbio popular.
Apanhar um mentiroso que seja ministro não me parece ser assim tão fácil, mas foi o que conseguiu ontem uma jornalista de seu nome Alberta Marques Fernandes.
Num tempo em que os jornalistas estão cada vez mais transformados em "cães de guarda" do poder, uma luz brilhou no noticiário da 2:. Parabéns Alberta.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Dedicado aos neoliberais

"Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério."

António Aleixo

quarta-feira, novembro 01, 2006

Fisólofos. Sim eu disse fisólofos.

Em primeiro lugar quero dizer que não comprei o livro Eduquês... do Nuno Crato. Li-o mas não o comprei. Eu que gasto tanto dinheiro em livros e que já enfiei alguns barretes, este não enfiei. Mas por dever de ofício li-o. Literatura levezinha e demagógica, cuja desmontagem foi feita, em grande parte e de forma superior, num livro de Álvaro Gomes, recentemente saído e que foi tema dum recente post aqui no blogue.
Mas o senhor Nuno Crato, embalado pelo sucesso de vendas, resolveu, talvez convidado pelo dono da Gradiva, embarcar num outro projecto editorial, agora mais virado para o campo do ensino da Matemática. Desta vez estou a fazer o mesmo. Estou a lê-lo sem o comprar. Já li a introdução do Nuno Crato e um primeiro capítulo dum intitulado filósofo actual, inglês.
Do senhor Nuno, que além a introdução assina mais um ou dois capítulos, parece nada de novo surgir, a não ser o carpir do costume, as receitas do passado e as fórmulas já reditas. Mas agora encontrou um conjunto de colaboradores que corroboram as suas grandes ideias. Continua a bater na "pedagogia romântica" a que chama de dominante. Este senhor não sabe mesmo de nada do que se passa nas nossas salas de aula. Dominante! a pedagogia romântica nas nossas escolas? Deixem-me rir. O que é bem dominante ainda, para o bem e para o mal, é a pedagogia tradicional, até porque as condições de trabalho a induzem. Ou o senhor Nuno Crato pensa que o que manda nas nossas aulas são as teorias pedagógicas. Se eu não começasse a desconfiar já dum "realismo" de negócios editoriais diria: que "romântico" que este senhor está a ser.
Como disse vou ainda no segundo capítulo. Vou hoje comentar algumas "pequenas coisas".
O "filósofo" parece ter lido, pelo menos, um livro de cada um dos autores que critica. Do Rousseau leu o Emílio, do Dewey leu o Education and Democracy. Enfim, ganha ao Crato que parece que só conhece umas citações dos criticados e por interpostas pessoas. Mas uma coisa me deixou agoniado. Não é que o senhor referiu a sua indignação pela "acusação" de fraude com que foi "premiado" o psicólogo Sir Cyril Burt. "Acusação" essa difundida pelos "teóricos da educação", considerada como uma calúnia por este "filósofo". Que besta de ignorante é este que não sabe que o psicólogo Cyril Burt foi desmascarado, sem margem de dúvidas, pela comunidade científica, no que respeita aos seus "estudos" sobre a inteligência inata, com gémeos verdadeiros, pela fabricação de dados e até de colaboradoras que se verificou nunca terem existido. Eu estava habituado a ver nos filósofos actuais, designadamente aqueles que se debruçam sobre as questões da ciência, um grande conhecimento de base destas coisas que discutem. E este "filósofo" convocado pelo Crato, vem aqui dar um exemplo de ignorância desmedida, apelando parolamente à condição de Sir do psicólogo Burt.
Começa mal este livro. Mal digo eu. Provavelmente vai ser outro sucesso de vendas.
Para quem quiser aprofundar um pouco a questão da fraude do Sir aconselho dois bons livros:
"A falsa medida do homem"
de Stephen Jay Goud, da Editora Quasi - Recente
"Genética e Politica"
de R. C Lewontin, Steven Rose e Leon J. Kamin, Edições Europa-América. Já saiu há vários anos.
Quando ler mais uns capítulos talvez volte a falar do livro.