Um outro modelo de avaliação
Tudo tem o seu contexto. A questão da avaliação de professores, para esta Ministra e para além das suas declarações de circunstância, em vez de ser considerada um importante meio de desenvolvimento profissional dos professores no seio das escolas, foi constituída em arma de arremesso contra eles no sentido de fazer vingar uma carreira restritiva e dividida que poupe na despesa e controle ferreamente a sua autonomia. Para demonstrar as suas reais intenções economicistas de vista estreita basta ler o conjunto das propostas de Regime Legal que mais não é do que um cortar a direito de direitos que os professores tinham conquistado havia anos no seu, devidamente denominado, Estatuto da Carreira Docente.
Quanto à questão da avaliação do desempenho penso que os professores, como classe profissional, têm a responsabilidade de rejeitar esta proposta de avaliação burocrática, competitiva, punitiva e que serve outros interesses que não os educativos, e de apresentar propostas construtivas dum outro modelo de avaliação. Avaliação que sirva o desenvolvimento profissional, que torne os professores e as suas competências melhores, apontando para além de objectivos mínimos de desempenho da profissão.
Deixo aqui como um primeiro contributo de reflexão, uma longa citação do livro de Gonçalo Simões, "A avaliação do Desempenho Docente. Contributos para uma análise crítica". Texto Editora, 2000.
"... a história da avaliação dos professores podia ser descrita em termos de uma tensão entre dois tipos de propósitos, formativos e somativos. Enquanto que a avaliação com propósitos formativos se relaciona com o desenvolvimento profissional e a melhoria do desempenho do professor, a avaliação sumativa encontra-se orientada para a tomada de decisões: contratar, seleccionar, remediar, promover, reter ou demitir (Haefele, 1993; Cousins, 1995).
Os críticos das escolas públicas argumentam que os professores devem ser responsabilizados, partilhando, por isso, uma perspectiva controladora/sumativa da avaliação no sentido de verificar se, de facto os professores estão realmente a desempenhar bem as suas funções. Para responder a esta preocupação pela prestação de contas, garantindo que os professores são profissionais competentes, gastou-se nas últimas décadas muita tinta e escreveu-se muito sobre o assunto (Hughes, 1995). Segundo Duke (1995) a exigência de avaliações dos professores baseadas na prestação de contas contém dois tipos de inquietações: uma diz respeito ao receio que os professores incompetentes continuem a leccionar; a outra relaciona-se com o dispêndio de dinheiro e com a fraca visibilidade das melhorias alcançadas.
Por sua vez, os adeptos da perspectiva formativa ou de desenvolvimento profissional consideram que a maioria dos professores são competentes e que por isso os recursos devem ser utilizados para ajudar os bons professores, em vez de serem usados para demitir alguns professores incompetentes. Além disso, a maior parte dos professores experientes tira pouco ou nenhum proveito de avaliações sumativas, baseadas na prestação de contas.
Os resultados de alguns estudos sobre a problemática dos propósitos da avaliação dos docentes, concluem que os professores manifestam uma atitude mais favorável em relação à avaliação quando os resultados desta são empregues de modo formativo, ajudando-os a melhorar o seu desempenho. Pelo contrário, revelam sentimentos mais negativos quando os resultados da avaliação são usados sumativamente para a tomada de decisões relacionadas com o trabalho..."
Os críticos das escolas públicas argumentam que os professores devem ser responsabilizados, partilhando, por isso, uma perspectiva controladora/sumativa da avaliação no sentido de verificar se, de facto os professores estão realmente a desempenhar bem as suas funções. Para responder a esta preocupação pela prestação de contas, garantindo que os professores são profissionais competentes, gastou-se nas últimas décadas muita tinta e escreveu-se muito sobre o assunto (Hughes, 1995). Segundo Duke (1995) a exigência de avaliações dos professores baseadas na prestação de contas contém dois tipos de inquietações: uma diz respeito ao receio que os professores incompetentes continuem a leccionar; a outra relaciona-se com o dispêndio de dinheiro e com a fraca visibilidade das melhorias alcançadas.
Por sua vez, os adeptos da perspectiva formativa ou de desenvolvimento profissional consideram que a maioria dos professores são competentes e que por isso os recursos devem ser utilizados para ajudar os bons professores, em vez de serem usados para demitir alguns professores incompetentes. Além disso, a maior parte dos professores experientes tira pouco ou nenhum proveito de avaliações sumativas, baseadas na prestação de contas.
Os resultados de alguns estudos sobre a problemática dos propósitos da avaliação dos docentes, concluem que os professores manifestam uma atitude mais favorável em relação à avaliação quando os resultados desta são empregues de modo formativo, ajudando-os a melhorar o seu desempenho. Pelo contrário, revelam sentimentos mais negativos quando os resultados da avaliação são usados sumativamente para a tomada de decisões relacionadas com o trabalho..."
5 Comentários:
Depois da definição das finalidades da avaliação – seleccionar, classificar, formar,… - há que perceber a perspectiva - normativa ou criterial - que comanda o nosso olhar.
Creio que começa a ficar definido um quadro para assentarmos a discussão. :)
Eu ainda ando ressacada, a procurar libertar-me de um sentimento que não estava habituada a ter senão momentaneamente e que até acho pouco racional, que é o de uma enorme zanga com esta ministra, pelo que ainda não consigo dizer nada com jeito. Excepto uma coisa, parece-me: acabe ou não em classificação ou em selecção, nenhuma avaliação faz sentido se não for, pelo menos primeiro, formativa. E já estou a dizer isto com muita cedência, se não soubesse que não estou em condições para reflectir, diria apenas formativa, e ponto final.
Eu ainda não consegui digerir as intenções do Governo...
1 - restringir a progressão na carreira.
2 - restringir a progressão na carreira.
3 - restringir a progressão na carreira.
4 - poupar dinheiro.
5 - impedir autonomia pedagógica.
6 - "robotizar" a profissão docente.
7 - garantir sucesso estatístico.
8 - burocratizar a profissão docente, baixando a qualidade do ensino ministrado.Mediocratização forçada!
9 - esvaziar a escola pública.
10 - promover o ensino privado.
não sei se a ordem é esta mas não devo estar muito longe dos objectivos. Que acham?
Zoltrix
acho que fizeste um análise muito realista dos objectivos por detrás do modelo de avaliação proposto pelo ME. Eu acrescentaria:
-divisão e balcanização dos professores nas escolas;
-criação de um clima de competitividade artificial entre os docentes;
-impedimento da reflexão e do trabalho verdadeiramente colectivo entre professores.
Se calhar estou a dizer por outras palavras o que tu disseste.
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