domingo, outubro 29, 2006

Desabafo em três tempos.

Uma das coisas que se pode permitir a quem só a si se representa é a figura do desabafo.
1- Que triste ser governado por uma cambada de mentirosos, que foi eleita tendo por base uma série de promessas todas elas já viradas do avesso, que usa o nome de socialista e neste momento contenta verdadeiramente os interesses dos grandes senhores do dinheiro e os seus interessados apaniguados; governo que usa a arte da política e da propaganda no seu sentido mais reles; governo que para combater o défice calunia e depreda profissões e profissionais que as exercem há anos de forma inexcedível;
2- Que sina parece ter esta profissão docente de não ser exercida na sua larga maioria por profissionais com sentido de classe, que não sendo só trabalhadores tivessem orgulho nessa condição de trabalhadores e de funcionários servidores públicos (como lhe chamam os brasileiros); profissionais que conseguissem ser solidários consigo mesmos e com os restantes trabalhadores; profissionais que levassem a indignação à sua mais longa consequência recusando-se a trabalhar enquanto os pretensos homens e mulheres de Estado não soubessem respeitar a sua profissão; profissionais que não pensassem primeiro nos tostões que perdem no imediato em dois dias de greve.
3- Que pena não termos sindicatos que consigam estar acima da consciência (ou falta dela) profissional dos professores e soubessem realizar o milagre das rosas negocial e reivindicativo, não cedendo coisas fundamentais em troca de tostões que afinal não chegam e dão azo a manobras demagógicas e mentirosas de um primeiro ministro indigno; sindicatos que tivessem também o sentido pleno da solidariedade entre sindicatos e trabalhadores.
Pois é. Mas isto não passa de um desabafo. Amanhã é Segunda-Feira, é preciso estar nas escolas e mostrar aos alunos a dignidade da nossa profissão. Mostrar como é sublime ensinar e aprender e como somos, professores e alunos, aprendizes e artífices da condição e dignidade humana. Apesar de todas as cambadas que pululam na nossa sociedade e a apoucam apoucando os seres humanos que nelas vivem e em primeiro lugar os mais frágéis, os professores têm oportunidades únicas de demonstrar todos os dias como as mulheres e homens podem melhorar. Enfim, nem todos... mas quase todos e principalmente as crianças e jovens.
Hoje à noite tem de ser tempo de digerir o desabafo. Pela manhã é dia de trabalho, não na sua origem etimológica de tripalium mas como actividade que pode transformar o mundo e nos transformar a nós próprios. Num bom sentido, espero...

8 Comentários:

Blogger soledade disse...

Num bom sentido... Coragem!

9:33 da tarde  
Blogger zoltrix disse...

idem

1:07 da manhã  
Blogger Maria Lisboa disse...

Podes juntar-me ao teu desabafo. Assim já não te representas apenas a ti. E um desabafo quando passa a ser colectivo tem tendência a tornar-se num protesto e a sair para a rua. Já lá estivemos, com sol e com chuva! Enquanto sentirmos que temos razão e nos sentirmos espezinhados não podemos deixar que o protesto volte a ser apenas desabafo individual (embora, por vezes, ao encararmos a "nossa realidade quotidiana", pareça que somos os únicos a ter vontade de desabafar).

2:48 da manhã  
Blogger «« disse...

Sabes Henrique, ainda ontem pensava o que faz com que muitos dos nossos colegas continuem tal como autistas, sorrindo e cantarolando felizes pelas escolas enquanto somos tratados abaixo de excremento de cão? A diferença está na paixão, é porque a única coisa que não se escreve quando se tenta reflectir acerca das qualidades de um bom professor é isso, viver a educação compaixão, só assim é que educar se torna, como dizes e bem, num acto sublime.

2:37 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

O novo conceito de "educação compaixão" (inventado pelo miguel) faz todo o sentido.
Há muito que a educação só vai empurrando até ao nono ano, com muita pena, todos os que não reuniam condições para ter passado do 1ºciclo.
Será isto a "educação compaixão"
E de nós, alguém tem "compaixão" de nós?

6:01 da tarde  
Blogger Unknown disse...

Toda a razão, tem toda a razão! Excelente reflexão.

7:24 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

também sou a favor da paralização total!! Se não prestamos, não fazemos falta; se não fazemos falta, não trabalhamos...
Mas era uma paralização mesmooo! Como se de repente deixasse de haver professores em Portugal! Afinal de contas,toda a gente parece perceber tanto de ensino e pedagogia (até nos podem avaliar), para quê ir à escola?

9:42 da tarde  
Blogger João Paulo Silva disse...

Eu só não vou na história da paixão. Eu não quero ser apaixanado na minha PROFISSÃO: quero ser Profissional.
Obviamente, gostando do que faço, mas com racionalidade. Porque só sendo racional se pode perceber o que esta gente do ME quer... É que de paixões pela educação ando eu farto ehehe

Um abraço Henrique!

12:39 da manhã  

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