sexta-feira, junho 23, 2006

Apelo de Velhos Resistentes franceses.

No momento em que vemos postos em causa o conjunto das conquistas sociais da Libertação, nós, veteranos dos movimentos de Resistência e das forças combatentes da França Livre (1940-1945), apelamos às jovens gerações que façam viver e transmitam a herança da Resistência e dos seus ideais sempre actuais de democracia económica, social e cultural. Sessenta anos mais tarde, o nazismo está vencido, graças ao sacrifício dos nossos irmãos e irmãs da Resistência e das nações unidas contra a barbárie fascista. Mas essa ameaça não desapareceu totalmente e a nossa cólera contra a injustiça está ainda intacta. Nós apelamos a celebrar a actualidade da Resistência, não em proveito de causas particulares ou instrumentalizadas por qualquer desejo de poder, mas para propor às gerações que nos sucederam de cumprirem três gestos humanistas e profundamente políticos no verdadeiro sentido do termo, para que a chama da Resistência não se extinga:
Nós apelamos primeiro aos educadores, aos movimentos sociais, às colectividades públicas, aos criadores, aos cidadãos, aos explorados, aos humilhados, a celebrarem em conjunto o aniversário do programa do Conselho Nacional da Resistência adoptado na clandestinidade em 15 de Março de 1944: Segurança Social e reformas generalizadas, controle das "feudalidades económicas", direito à cultura e à educação para todos, imprensa livre do poder do dinheiro e da corrupção, leis sociais operárias e agrícolas, etc. Como pode faltar hoje dinheiro para manter e prolongar estas conquistas sociais, quando a produção de riqueza aumentou consideravelmente desde a Libertação, período onde a Europa estava arruinada? Os responsáveis políticos, económicos, intelectuais e o conjunto da sociedade não se devem demitir, nem deixar-se impressionar pela actual ditadura internacional dos mercados financeiros que ameaçam a paz e a democracia.
Nós apelamos de seguida aos movimentos, partidos, associações, instituições e sindicatos herdeiros da Resistência a consagrar-se prioritariamente às causas políticas das injustiças e dos conflitos sociais, e não somente às suas consequências, a definirem em conjunto um novo "Programa de Resistência" para o nosso século, sabendo que o fascismo nutre-se sempre de racismo, de intolerância e de guerra, que, eles mesmos, se nutrem das injustiças sociais.
Nós apelamos enfim às crianças, aos jovens, aos pais, aos velhos e avós, aos educadores, às autoridades públicas, a uma verdadeira insurreição pacífica contra os meios de comunicação de massa que não propõem como horizonte para a nossa juventude mais do que o consumo, o desprezo pelos mais fracos e pela cultura, a amnésia generalizada e a competição de todos contra todos. Nós não aceitamos que os principais média sejam controlados pelos interesses privados, contrariamente ao programa do Conselho Nacional da Resistência e às leis da imprensa de 1944. Mais do que nunca, àqueles e àquelas que farão o século que começa, nós diremos com afecto: "Criar, é resistir. Resistir, é criar".
Signataires : Lucie Aubrac, Raymond Aubrac, Henri Bartoli, Daniel Cordier, Philippe Dechartre, Georges Guingouin, Stéphane Hessel, Maurice Kriegel-Valrimont, Lise London, Georges Séguy, Germaine Tillion, Jean-Pierre Vernant, Maurice Voutey.
Este é um texto recente de Velhos Resistentes. Neste tempo de pensamento único, impingido a torto e direito, mesmo por intérpretes que se reclamam de siglas que, para eles, perderam qualquer significado: eis uma Voz que não cala. Comovente mas lúcida. De quem luta para que a Razão e a Justiça prevaleçam.
Peço desculpa por algum erro na tradução do francês.

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