Post Aberto à Ministra da Educação
Ex.ma Senhora Ministra da Educação
sou professor e tenho acompanhado de forma muito atenta e muito crítica o seu discurso e acção no campo da Educação (do Pré-Escolar ao Ensino Secundário).
O seu estilo e o conteúdo das suas palavras e produções legislativas, revelam uma forma que é ou se pretende activa, dura e determinada. Tem prescindido do diálogo com os professores e com as suas organizações representativas. Muitas das suas afirmações acerca das escolas e dos professores parecem-me ser, a todos os títulos, ofensivas da dignidade profissional dos professores portugueses. Os meios que tem utilizado, que chegam ao extremo de imposição de catálogos de acções a usar nas escolas, revelam uma desconfiança profunda em relação à capacidade das escolas e professores em resolver os seus problemas, e passam para a opinião pública esse sentimento. Os professores têm sido apresentados no seu discurso como os culpados do Estado da Educação em Portugal.
Sei que tem uma necessidade muito concreta imposta pelo seu Governo: poupar. Sei que é nos professores e em medidas que tenham a ver com horários, vencimentos, progressões e reformas que pretende dar o seu contributo. Esse fim parece justificar todos os meios que tem usado. Penso que irá seguir este seu desígnio, até porque acha que a boa governação actual no campo da Educação se faz por cima dos professores, contra os professores, encontrando aliados preferênciais principalmente fora da escola. E, fazendo parte de um Governo de um Partido Socialista, conseguirá de muito mais fácil modo levar a cabo políticas tradicionalmente de Direita.
Acho que esta estratégia, do ponto de vista eleitoral, lhe trará dividendos a curto prazo. Penso também que a descredibilização que está a lançar em relação a uma classe profissional, é uma maneira eficaz, a curto prazo, de lhe permitir reformas que trarão poupanças no orçamento respectivo.
Só que estas suas "reformas" são feitas à custa da desprofissionalização, do achincalhamento, da perda de autonomia e de identidade dos professores. Não sei se está consciente do mal que isto fará à Educação em Portugal. Se o estado desta em Portugal não é boa - como poderia aliás sê-lo se todos os outros indicadores são também maus? -a sua governação deixará as escolas nos tempos próximos, talvez com professores mais obedientes, mais calados, com alunos com rédea mais curta. Mas essa forma não produzirá cidadãos esclarecidos e intervenientes numa sociedade democrática. Talvez a sua concepção de Democracia e de Educação passe por aí. Penso também que, infelizmente, o seu "Sucesso" será o regresso a outros tempos em que todos liam pela mesma cartilha, em que as Contas Públicas estavam saudáveis, em que não havia protestos sociais nas ruas. Tempos esses que, pelo menos, não tinham a veleidade de se proclamar Democracia.
5 Comentários:
E para que quer este capitalismo gente que pense? Isso era o fim da globalização económica, das políticas neoliberais, etc.
Quanto menos gente a pensar, melhor!
Mas o problema passa mesmo por aí. As pessoas não podem deixar de pensar: só que se pode pensar de forma crítica ou não. Até as categorias do pensamento e as palavras que se utilizam podem condicionar ou libertar o pensamento. Como professores devemos estar atentos a estas contradições e usá-las no nosso trabalho pedagógico com os alunos e connosco mesmos. Para que o sistema social mude e o sistema educativo (que é um dos seus "aparelhos ideológicos" de sustentação) mude também, não basta a intervenção pedagógica. É preciso obter consensos sociais com todos aqueles que dentro de um país ou no mundo alargado, (vitima da "mundialização do capital") não se sentem confortáveis: uns, a maioria, pelo desconforto material expresso tantas vezes em miséria, outros que não se acomodam a um conforto material pessoal vendo tantos a passar tão mal. Uns e outros devem estar unidos por objectivos comuns e esses objectivos só se mutualizam por um incontornável esforço de "pensamento" e acção. Daí a pertinência do seu comentário. Daí a necessidade de desmascarar as contradições do sistema e dos seus actores, designadamente Ministros.
Encontrei hoje, com atraso, este "Post Aberto à Ministra da Educação", vou referi-lo com link no meu cantinho, pois subscrevê-lo-ia se fosse para enviar pelo correio para o gabinete da Ministra :)
Henrique, tens mais uma subscritora da tua carta.
Pego na afirmação "-a sua governação deixará as escolas nos tempos próximos, talvez com professores mais obedientes, mais calados, com alunos com rédea mais curta. Mas essa forma não produzirá cidadãos esclarecidos e intervenientes numa sociedade democrática."
Verdade, Henrique, mas a dita senhora esquece-se que nós, filhos da democracia, nós, que lhe vivemos o nascimento, já não vamos calar-nos na sala de aula. Nós temos o dever, perante os nossos alunos, de levar-lhes a luz. Pode haver só um manual, pode haver uma conspiraçãozinha generalizada, mas enquanto tiver os meus alunos à minha frente, não poderei calar.
Este ano tenho uma direcção de turma de 5º ano. Estou com eles cerca de doze horas por semana. E posso garantir-te que, consegui despertar-lhes o interesse por questões sociais e ambientais sobre as quais eles nem sabiam falar.
E quando um aluno me diz:«Não diga mais nada, stôra, nós já percebemos!», eu encho-me de orgulho cá por dentro e sinto que valeu a pena.
Gostei do teu espaço. Voltarei.
ic e teresa, obrigado por se disponibilizarem para subscrever a carta aberta caso fosse enviada à Ministra. Só que a nossa Ministra seria a última pessoa a quem enviaria esta carta. Ela sabe o que está a fazer embora não confesse as suas reais intenções. A carta não lhe traria novidade nenhuma. Há é muita gente que não sabe disso. Daí que a carta seja aberta.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial