Obsessões
Acabei de ler a versão para a nova avaliação do desempenho dos professores que este nosso cada vez mais inefável ministério da Educação acabou de apresentar. Embora deixe para mais tarde uma apreciação mais a frio desta versão, não posso deixar de dizer agora:
-deita por todos os poros uma obsessão por uma autoproclamada "avaliação" que é mais uma avalionite que invade e devora todo o espaço escolar em geral e o universo docente em particular;
-envereda por processos que tudo querem reduzir a coisas mesuráveis quantitativamente;
-não consegue, nem minimamente nem aparentemente, apesar da obsessão pela quantidade, qualquer arremedo de coisa da qual se possa dizer que é objectiva;
-revela um profundo alheamento do que é e deve ser a realidade concreta do ser professor. O modelo será talvez o de uma formiga acéfala que labuta, labuta, labuta e que quantas mais migalhinhas reais ou virtuais aportar para o seu curriculum, melhor;
-transformaria, se levada a cabo nesta versão, todo este processo numa tortura burocrática antecedida duma farsa grotesca.
Esta espécie de "avaliação" de professores levou-me a lembrar um óptimo livro de que possuo a versão castelhana de Gimeno Sacristan, chamado "La pedagogia por objectivos: Obsession por la eficiencia" cuja leitura recomendo: se estes senhores percebessem o mínimo de Educação saberiam que a versão tecnocrática da obtenção de resultados pelos resultados é um anacronismo obtuso e ineficiente.
Coitada da nossa Educação que tão mal tratada tem sido nos últimos anos.
PS1. Até quando professores deixareis passar sem resistência a valer estes políticos e políticas?
E senhores professores, será que vão deixar passar a lei da morte dos sindicatos docentes que está na Assembleia da República? Será que não vêem que isso será fatal para si próprios?
PS2. Que responsabilidades e de quem, o dos "resultados" tão negativos a Matemática nos exames do 9.º ano, depois de um ano de aplicação do célebre plano? Estou para ver a versão do ministério acerca deste "sucesso".
3 Comentários:
Henrique, são mesmo obsessões, 'eles' não conseguem enxergar mais nada, não têm uma migalha de lucidez no meio delas, e o pior é que vão mesmo pôr os professores também obcecados (e, no meio disto tudo, os alunos são reduzidos a números).
Subscrevo todo o teu post.
Quanto à lei sindical, eu ainda chamei a atenção (depois de ter ficado de boca aberta), mas os professores nem estão a dar pelo caso - como se os erros que apontam aos sindicatos (e eu não digo que não os cometem) fizessem com que o único meio que os professores têm de defesa não tenha importância.
Já perdi a paciência com este ministério da educação, mas também estou a perdê-la com a apatia ou conformismo da maioria dos professores (na blogosfera não se notará apatia ou conformismo, mas a blogosfera 'docente' representa uma parcela minúscula dos docentes)
Faço minhas as palavras do Henrique e da Isabel!
Só acrescento:
- a educação está a ficar tão mal educada! estão a transformá-la numa "menina" birrenta, egoísta, ressaviada...
Esta é uma questão importante, em especial porque se nota que os próprios sindicatos começam a ter dificuldade em imaginar como responder à sua própria certidão de "óbito activo".
Como resistir é uma boa questão, em especial num momento em que as tropas estão cansadas e as armas escasseiam.
Lamento não ter qualquer solução mágica, excepto tentar atrasar a sentença e esperar que em 2009-2010 seja possível limpar esta malta.
Mas e a seguir, quem virá?
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