quinta-feira, junho 07, 2007

Não se enganem no alvo






Tudo o que foi feito relativamente aos professores nestes dois anos pelo governo PS é coerente. Insere-se numa política de desmantelamento dos serviços públicos, neste caso da Educação. No caso dos professores, o novo estatuto, traz duas consequências de curto e longo prazo: redução substancial de direitos (horários, salários, etc) e uma descaracterização da profissão no sentido de melhor controlar os professores fazendo-os concorrer uns contra os outros.


Essas medidas directas em relação aos professores no seu estatuto estão (e virão a ser) acompanhadas de muitas outras no campo da rede escolar, da gestão, das condições de trabalho, da avaliação dos alunos, dos professores e das escolas (integrando-as em processos concorrenciais). A divisão de trabalhadores (o já antigo dividir para reinar), o asfixiamento do trabalho sindical e da própria existência de sindicatos é uma das estratégias utilizadas para que estas políticas possam ser levadas a cabo sem grandes contestações. Muitas das consequências destes processos estão ainda muito no começo sem se verem ainda os seus contornos todos desenhados.


A isto chama-se politica neoliberal na Educação. Muitos estudiosos estudam estas problemática há muito e em países onde elas estão bem mais avançadas. Leitura de autores como Almerindo Janela Afonso, Licínio Lima em Portugal, Jurjo Santomé em Espanha, Stephen Ball na Inglaterra ou Michael Aplle nos USA, fariam abrir os olhos a muitos professores.


Pensar que os nossos PS no governo ou no ME são apenas uns mauzinhos é uma leitura ingénua da realidade. Eles não passam de alunos e praticantes das directivas neoliberais da Comissão Europeia que tentam cumprir à risca: disso é preciso ter consciência.


E começar a dedicar tempos e discursos a zurzir nos sindicatos é algo talvez compreensível, pelas frustações acumuladas destes tempos cinzentos ou negros para tanta gente, mas só revela alguma desorientação. É que o alvo tem de ser as políticas e os que as protagonizam e não quem lhes pode fazer frente. Não se enganem no alvo, companheiros de jornada. E se querem criticar os sindicatos, metam-se dentro deles e ensinem-nos a fazer melhor do que fazem de momento.

16 Comentários:

Blogger João Paulo Silva disse...

Olá Henrique,

partilho da tua reflexão. Os sindicatos não são o problema claro.

Agora, para começarem a ser parte da solução, todos têm que se envolver.

E sejamos claros, sem sindicatos, os professores vão lutar como? A mandar e-mails?

Um abraço,
JP

6:28 da tarde  
Blogger SL disse...

Caro Henrique,

Concordo com tudo aquilo que diz. Tudo. Mas o Henrique é um acérrimo defensor dos sindicatos, enquanto eu não o consigo ser. Se me permite, explico porquê.

Fui sindicalizado durante uns 10 anos. Primeiro no SNPL, depois no SPZN, por fim no SPN.Durante todos esses anos nem por uma vez soube da existência de um plenário, de uma reunião, de uma acção de esclarecimento. Nunca recebi nenhum tipo de informação em casa. Nenhuma convocatória, nenhum folheto informativo, nada. Apenas recebi, num tom pouco cordial, "pedidos de esclarecimento" quando deixei de pagar as quotas. Precisei, por duas vezes, de assistência jurídica: uma para mim, outra para a minha esposa. No primeiro caso (SNPL), deram-me instruções que, a serem seguidas, teriam conduzido à minha exclusão do concurso (obviamente, excluí-me voluntariamente do sindicato logo a seguir...); no segundo caso (SPN), a minha esposa foi profundamente maltratada pelos colegas sincalistas a quem se dirigiu - por pertencer, na altura, ao sector privado, ao que parece.

Um colega, meu vizinho, acabou se desvincular do SPZN. Motivos: discordância com as práticas seguidas (fura-greves, conivência com o PS, etc.; quotas superiores a 140 euros anuais, o que é muito para um contratado). Imediatamente recebeu em casa uma carta num tom quase ameaçador pedindo satisfações pelo facto de ter cancelado os pagamentos mensais. Em 12 anos de associado NUNCA foi contactado pelo sindicato para uma única reunião; nunca recebeu um folheto informativo; nunca recebeu um e-mail ou uma notificação; mas bastou-lhe desvincular-se (deixar de pagar) para passar a existir...

Desculpe, Henrique, mas com este sindicalismo não admira que todos os gatos sejam pardos.

7:54 da tarde  
Blogger SL disse...

E já agora, leiam isto:
http://slashdot.org/~nunojsilva/journal/173803/

Há coisas fantásticas, não há?

8:10 da tarde  
Blogger henrique santos disse...

sl
eu defendo plenamente o sindicalismo, mas por dentro. Critico por dentro certas práticas sindicais e pode ver algumas desssas criticas em posts anteriores. No que diz respeito ao sindicalismo docente eu só reconheço os sindicatos da Fenprof como dignos desse nome. Os outros praticam uma coisa a que francamente não posso chamar de sndicalismo e fico-me por aqui. Quanto aos da Fenprof há aspectos criticáveis e é de todo necessário criticá-los, sempre que possivel por dentro. No SPN, que conheço bem, existe muito a melhorar, mas há que reconhecer que globalmente pratica um sindicalismo participado e que vai às escolas fazer verdadeiras reuniões: haja sindicalizados, activistas e delegados sindicais que as exijam e nelas participem. Sem sindicatos verdadeiros, activos, fortes, participados não há profissão que resista: daí a minha posição, ainda que crítica. E não confundo os alvos verdadeiros. Do ponto de vista pessoal, se eu estivesse numa situação como as que descreve, confesso que seria uma provação bem forte às minhas posições. Olhe, vou experimentar se neste processo de levar as reclamações, recursos e idas para tribunal a propósito do concurso dos titulares, o meu sindicato me apoia: sindicalmente e juridicamente. Não serei manso com eles se eles não se revelarem à altura. Por dentro, até que seja possível.

9:06 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Extremamente didáctico. Sempre arguto ... vou fazer uma chamada para aqui.
Abraço,
M.

12:19 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Henrique, estou totalmente de acordo com tudo o que escreveste, quer no post, quer em comentário. E é de facto muito importante que os professores não errem o alvo.
(Também só reconheço como dignos do nome de sindicatos de professores os da FENPROF. Sou a sócia n. 198 do SPGL, pela antiguidade acho que se vê que conheço bem os nossos sindicatos, críticas também tenho tido, mas exponho-as lá dentro. Penso que os professores não podem esperar ter quem os defenda como esperam sem se sentirem co-responsáveis por participar na definiçâo das linhas de acção do seu sindicato)

5:32 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Duas questões:
1. Um professor do quadro de escola tem pontuação para aceder a vaga de titular.
No entanto, um professor destacado tem pontuação superior.
Fica com a vaga de titular !!!

Mas o professor de quadro não ganhou esse lugar em concurso público ? Sim, mas...
Mas o professor de quadro não está nesse lugar por mérito, graduação, tempo serviço ? Sim, mas...

Desculpe? Percebi bem ?
Um destacado ultrapassa um professor do quadro da escola ?
Deve ser no sistema educativo do Burkina Fasso ???
E viva a ARBITRARIEDADE !!

2. É suposto os quadros estarem completos... Então agora entra um novo elemento para o grupo. O colega que esteva em último lugar, no grupo, continua a ter horário ou vai para supranumerário ?
Mas...ele não é do quadro da escola ?
Era...era....


ADEUS ......

7:29 da tarde  
Blogger João Paulo Silva disse...

Oi,
como certamente se recordam fui um dos publicamente me bati por uma das listas à Direcção da FENPROF. E apareci publicamente com esta posição porque, tal como o Henrique, prefiro perguntar o que é que eu faço pelo sindicato e não o que é que o sindicato faz por mim.

Meu caro SL, quero acreditar que se enganou quando se refere ao SPN... Pode fazer muitas acusações, mas sugerir que não informámos e que não estamos nas escolas, é falso.

Eu por mim, continuo a lutar por dentro.
JP

6:21 da tarde  
Blogger SL disse...

Não, não me enganei.Como não sou adepto de unanimismos, mas apenas de consensos, talvez isso explique esta situação.

Portanto, não é falso nada do que afirmei. Continuo a lutar por fora.

5:46 da tarde  
Blogger Setora disse...

Fui sócia fundadora do SPGL,mas na verdade há muito que me dessindicalizei. Já dei que chegasse para essa da luta por dentro.Luta absolutamente inglória. Só me custa entender como ainda se acredita nisso. Questões de fé.

11:46 da tarde  
Blogger SL disse...

Eu acreditaria no movimento sindicalista - se ele não fosse refém dos interesses político-partidários. E como não concebo uma associação representativa de uma classe profissional que esteja ou seja cativa dos reboques politiqueiros, continuo a correr por fora.
A isso chama-se democracia: a liberdade de expormos os nossos pontos de vista sem receio de sermos vilipendiados.

12:13 da manhã  
Blogger João Paulo Silva disse...

Olá,
todos podem (e devem!) poder dizer o que pensam...claro.

Mas por isso mesmo estão sujeitos ao contraditório: eu apenas me manifestei contra os factos. O SPN ( e quase poderia falar pela FENPROF) procura informar e está nas escolas! Isto são factos.

Agora, se trabalham bem, representam bem, etc... etc... É outra história.

Mas, se me permitem devolvo o argumento: mas se os sindicatos não servem, serve o quê? Isto é, acham que deve haver ou não uma voz colectiva? Ou acham que é melhor cada um por si?

JP

4:19 da tarde  
Blogger SL disse...

Caro jp,

Não escrevi que o SPN não está nas Escolas. Não escrevi que o SPN não informa. Não escrevi que o SPN não trabalha bem. Não escrevi que o SPN não representa bem.

Escrevi, e peço-lhe que confirme, que me desiludi com os sindicatos porque tive duas ou três más experiências; que fui (fomos) antipaticamente recebidos (por uma senhora sindicalista) quando a minha esposa precisou de ajuda. É um facto. Aos sindicalistas pode custar muito ler este tipo de coisas - mas à minha mulher custou-lhe o emprego.
Escrevi que durante anos NUNCA me chegou a casa nenhuma informação sobre reuniões, plenários, etc, etc, etc. A única carta que me chegou a casa vinda do SPN foi um "pedido de esclarecimentos" sobre as razões da minha desvinculação. É um facto.

Consequentemente, a minha crença no sindicalismo neste momento está no nível zero.

Acredito que existam sindicalistas que lutam e dignificam a pofissão: na internet encontram-se vários - e o Henrique, que julgo ser sindicalista e que não precisa dos meus elogios para nada, é um deles. Mesmo que nem sempre estejamos de acordo - o que acontece mais raramente do que poderá supor. Mas, e desculpem a insistência, não tenho boa imagem do sindicalismo em geral. Nem penso que defendam a classe da melhor forma -- mas há constrangimentos que desconheço, pelo que prefiro não me pronunciar.

Portanto, reporto-me apenas a factos: as minhas experiências com o SPNL e com o SPN foram péssimas, e os sindicatos da fenprof nem esse nome deveriam ter. Coerentemente, não sou sindicalizado.

8:52 da tarde  
Blogger SL disse...

Cruzes, canhoto! Cometi um erro monumental pelo qual tenho de pedir desculpas a todos os envolvidos! Quando no último parágrafo escrevi "os sindicatos da fenprof nem esse nome deveriam ter", deveria ter escrito " os sindicatos da FNE nem esse nome deveriam ter"! Mil desculpas: se há sindicalismo docente sério em Portugal, deve-se à fenprof; pelo contrário, os sindicatos associados à FNE é que nem merecem ser reconhecidos como tal -- como aliás se verifica, agora, e mais uma vez, com as vergonhosas "negociações" estabelçecidas entre o governo e a UGT sobre o regime de avaliaçõa dos funcionários públicos.
Que fique esclarecido o erro: se ha sindicalismo sério, é o da FENPROF e não o da FNE. O meu pedido de desculpas a quem se tenha sentido visado. Foi um lapso lamentável.

9:58 da manhã  
Blogger henrique santos disse...

sl
já fui elegado e dirigente sindical do SPN. Actualmente sou apenas professor e sindicalizado. Acho o sindicalismo docente, aquele digno desse nome, fundamental. É função de todos, por dentro ou por fora, fazer com que ele cumpra a sua missão: defender a profissão e os professores no seio de uma Educação para todos, democrática e de qualidade. Abomino o corporativismo que não se pode comparar com o sindicalismo.
Setora
a colega demonstra, e terá talvez razões para isso, um absoluto desprezo pela acção colectiva organizada dos sindicatos: perdeu a fé, dirá. Quanto a isso só tenho a dizer-lhe que a sua posição levará os professores como classe profissional para uma posição insustentável, levados pela enxurrada neoliberal que nos submerge actualmente. É isso que quer? Eu acho que não. Pela minha parte creia que não tenho fé nos sindicatos: apenas vejo neles uma organização de classe absolutamente indispensável nos tempos que correm. e olhe que não deixo de os criticar, mas no sentido de os melhorar, não de os destruir. Essa é a intenção dos governos neoliberais que vamos tendo.

1:49 da tarde  
Blogger SL disse...

Já agora, Henrique, segui o seu conselho e encomendei o "blues por um humanismo educacional" de Álvaro Gomes. Logo que possa, leio-o e digo-lhe qualquer coisa.

Cumprimentos,

SL

2:42 da tarde  

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