sexta-feira, dezembro 08, 2006

"Déjà vu" ou não, infelizmente.

No último dia duma acção de formação contínua em que participei, ouvi da voz do director do centro, várias possíveis novidades:
-que os professores iriam ter muitas dificuldades para cumprir a regra de realização de 50% das 25 horas anuais (e agora 75% no "novo" estatuto) na área das didácticas específicas já que a oferta dos centros de formação é escassa nessa área;
-que fruto de falta de fundos comunitários, vários centros iriam fechar;
-que provavelmente as acções iriam ser pagas, no futuro, pelos próprios professores.
Da plateia em que eu estava só vi um silêncio daqueles que significam: lá vamos ter de nos submeter a tais situações consumadas.
Naqueles breves momentos, na minha cabeça ecoava uma frase: eu já passei por estes filmes, só que os protagonistas eram outros e os finais foram diferentes.
Lembro-me como no início da criação dos centros de formação e do modelo entretanto existente de formação contínua, no virar dos anos 80/90, também a ideia de fazer pagar a formação profissional dos professores pelos próprios também andou no "ar" e só não vingou porque os professores desse tempo não deixaram.
Lembrei-me também dum filme em que o ministério da Educação, na altura da responsabilidade de um governo PSD, apresentou uma carreira com 3 níveis hierárquicos de professores com conteúdo e perfil profissional diferenciados. Essa estrutura da carreira não vingou e desse filme resultou o primeiro estatuto dos professores e uma grelha remuneratória valorizada em relação ao que existia anteriormente. Do filme fazia parte uma candidatura entre o 7.º e o 8.º escalões, "cena" que seria cortada anos depois, fruto de anos de "luta" dos professores e de uma negociação com um governo PS. Nesse acordo foram estabelecidas alterações à avaliação do desempenho e o número de anos para chegar ao seu topo diminuiu.
Actualmente um filme parecido foi produzido, realizado e imposto na 5 de Outubro segundo ditames do governo. Esse filme corta direitos e vencimentos, aumenta deveres e horários, anos de carreira, estabelece hierarquias arbitrárias e altamente condicionadas, desvaloriza objectivamente os professores. Para conseguir a realização do filme a produção andou dois anos em campanha de insulto e achincalhamento do grupo profissional dos professores. Apesar duma resistência activa dos sindicatos de professores, unidos todos numa plataforma e de parte muito significativa de professores, o ministério conseguiu realizar o filme que irá "começar" a ser visto no próximo ano civil. O ME e o governo de maioria absoluta ganharam uma batalha e obtiveram para já o que querem. Iniciar a poupança de dinheiro de todas as formas com os professores e controlar de todas as formas possíveis a sua autonomia. Embora o filme principal tivesse sido o do estatuto, houve e haverá outras curtas e médias metragens que se destinam a completar a big picture: as substituições; a contratação; os supranumerários; a gestão das escolas; etc. As sequelas serão feitas por muitos actores desmoralizados e ofendidos. Muitos dos espectadores destes filmes embarcaram na "nouvelle vague": ao verem os professores apontados como os maus da fita, lançaram-lhes mais pedras. Os argumentistas da nação, aplaudiram a mãos ambas a produtora. Um dos principais "escolhedores" do elenco, rejubila. Decididamente estes filmes não estão a acabar da mesma forma como aqueles tentados e abortados anos atrás.
Do ponto de vista dos actores, neste caso os professores, que são e serão directamente atingidos,
é tempo de fazer um balanço. De protagonistas principais, juntamente com os alunos, dos processos educativos, foram remetidos para o papel de vilões. À "industria" neste caso a do Ensino Público, não se auguram coisas boas, bem pelo contrário.
Apetecia-me por vezes dizer: tirem-me deste filme. Mas tenhamos calma e persistência: a máscara destes produtores erigidos a protagonistas irá cair. O grande público, demagogicamente usado como apoio contra os supostos "privilegiados", sem ver benefícios próprios desta grande operação de nivelamento por baixo mas que deixa intactos os verdadeiros privilégios, irá desconfiar. As maiorias absolutas talvez não sejam obtidas.
Uma palavra para os professores: temo que estes actores, enredados numa manobra tremenda de divisão que é a estrutura e o funcionamento do seu "novo" estatuto se dividam mais do que muitas vezes estão; temo que o medo, a intensificação de trabalho, o conformismo e a ausência de memória levem à acomodação. Há muitas teias a tecer-se para enredar os professores, actualmente. Aceitam-se sugestões para esmagar esta "Viúva negra".

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