terça-feira, janeiro 01, 2008

Início de ano

Nos últimos dois anos o governo tem marcado a agenda fortemente com "reformas" que há muitos anos vinham sendo apregoadas pelo pensamento neoliberal. Nada melhor que um governo denominado de "socialista" para aplicar estas "reformas". A direita política nunca as tinha conseguido aplicar em pleno com o PS na oposição. Agora apoia-as incomodamente na oposição: o PS "roubou-lhe as políticas" como disse a Manuela Ferreira Leite. Por sua vez a direita social, essa, apoia esfusiantemente estas políticas: que cavalo de tróia melhor poderia haver que um PS como este?
A Educação não foi excepção: os piores cenários montados pela direita política nas últimas décadas (para quem não tem andado distraído) relativamente ao estatuto dos professores, da rede escolar, da organização e gestão das escolas, etc, encontram-se agora em ritmo pleno de execução. Como contrariar politicamente estas "reformas" aplaudidas de fora pela direita social, consentidas por dentro pela direita política incluindo o actual presidente da República e propagandeadas e amplificadas pela direita comunicacional dos média? Muito difícil mesmo.
Os professores, na sua grande maioria, ficaram primeiramente indignados pela campanha negra de difamação a toda uma mesma classe profissional e levada a cabo pelo ministério da Educação. Agora encontram-se, na sua esmagadora maioria, aturdidos, amedrontados, submetidos. Falam contra à boca pequena mas submetem-se e não conseguem muitas vezes traduzir sequer o seu protesto numa greve de um dia. Culpam muitas vezes de toda esta situação quem está mais à mão: os sindicatos que "não fazem nada".
Quem pensar que toda esta situação pode ser revertida facilmente está muito enganado: a força do lado das "reformas" é mesmo muita. Se os professores têm o sentimento de que estas reformas são negativas para o sistema educativo, contra si está a larga percentagem do poder político no governo ou na oposição à direita, a direita social do poder económico e a comunicação social subordinada a estes interesses por não passarem de vozes do dono. Todas as asneiras e foram muitas cometidas por este ministério da Educação ao longo deste tempo e que seriam suficientes para haver levado à sua demissão foram simplesmente almofadadas pelos tais poderes mencionados. A opinião pública tão cuidadosamente manipulada por estes poderes, mesmo assim, tem perdido a confiança na senhora dona Lurdes. As sondagens dão-na muito em baixo. No entanto os altos serviços prestados à nação continuam a ser recompensados.
Quem pensar, dizia eu, que tudo isto pode ser revertido facilmente está muito enganado. É que estas coisas que nos estão a acontecer são, em grande parte, uma vaga de fundo do que se passa internacionalmente. Quem quiser ter uma grelha de leitura das nossas políticas deve colocar os olhos na Inglaterra: são as políticas "socialistas" à inglesa que servem de exemplo ao nosso medíocre Sócrates. É claro que os exemplos vêm também de outros sítios: o tratado de "Lisboa" mas cozinhado previamente em Berlim e servido aos interesses da banca e dos grandes grupos económicos por um mordomo português é disso exemplo recente.
Para já aquilo que podemos fazer é: Resistir, tentar que não avancem ou que emperrem as ditas reformas; Demonstrar as suas malfeitorias para os interesses da Escola Pública Democrática e de Qualidade para Todos; Construir alternativas pois o que existe actualmente também não serve embora seja melhor do que o caminho para onde nos querem levar; Construir unidade entre todos aqueles podem encontrar-se em torno desta alternativa.
Esse é um trabalho de casa que nos cabe fazer individualmente e também colectivamente em torno de organizações que já existem e que os governos estão a tentar dizimar como são os sindicatos de professores. Com esse trabalho de casa feito podemos dar mais passos então para mudar o caminho das políticas educativas.
Esperemos por um 2008 capaz de introduzir algumas destas dinâmicas.
PS. Esta reflexão de início de ano foi inspirada numa dinâmica da blogosfera em torno da "discussão pública" do diploma sobre a gestão das escolas e que está a ser promovida, entre outros no blogue do Paulo Guinote, e que eu saúdo daqui.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Considero-me saudado e retribuo.
Oxalá o debate possa transbordar da blogosfera.

7:37 da tarde  
Blogger navegadora disse...

Obrigada por partilhar as suas ideias e por colocar com clareza, " preto no branco" o que se passa a nivel nacional, mas contextualizado a nível europeu.
Peço licença para o "copiar" para o meu blog. É que as boas ideias, quanto mais vezes repetidas melhor...pode ser a centelha necessária para despertrar para o debate.

11:47 da manhã  

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