sexta-feira, novembro 28, 2008

Branqueamentos na Educação

Como argumento para avançar com este monstruoso modelo de avaliação de professores a senhora ministra e o seu secretário de estado reconhecem não existir nenhum modelo igual a este na Europa mas que também não existe nenhum país com os nossos índices de insucesso e abandono escolar.
Tal argumento mesmo para mau entendedor só pode significar: o problema estava nos professores. Enfim, já sabíamos que éramos, nós os professores, o bode expiatório dos males da nossa Educação. Esta foi apenas mais uma acha para a fogueira em que estes senhores andam a queimar os professores há mais de três anos.
Só que talvez não seja mau fazer um exercício de raciocínio comparativo. Como eram os índices de literacia, insucesso e abandono escolar (ou falta de acesso escolar) há 34 anos, por altura da revolução democrática que derrubou o fascismo? Não sei números exactos. Só sei que o novo regime herdou um histórico pesadíssimo neste campo e que se fizeram progressos assinaláveis nestas últimas três décadas.
A senhora ministra, apesar de socióloga, comete assim um erro de algibeira e um tremendo erro político inconcebível em alguém que é membro de um governo “socialista”: branqueou 48 anos de fascismo no que à Educação diz respeito. E para quem faz isso não é também de admirar o branqueamento da actividade de muitíssimos governos nas três décadas recentes, nas quais se incluíram muitíssimos anos de governação “socialista”. A culpa estava todinha na pretensa falta de avaliação dos professores. Ministros, legislação, administração educativa, programas, condições de trabalho, etc, tudo isso não influenciou e influencia os nossos resultados escolares. E além disso, o mundo da nossa Educação deveria ser um oásis no meio da nossa sociedade da cauda da Europa…
Enfim, ao que chega a argumentação de alguém para quem tudo serve para denegrir gente séria que trabalha nas escolas.

quinta-feira, novembro 27, 2008

97,74%

Depois da Escola o Agrupamento:

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE OLIVEIRA DO DOURO
VILA NOVA DE GAIA

Excelentíssima Senhora Ministra da Educação:
Com Conhecimento à:
Presidência da República
Governo da República
Procuradoria Geral da República
Plataforma Sindical
Grupos Parlamentares
DREN
Órgãos de Comunicação Social
Os Professores/Educadores abaixo-assinados, - representando 97,74 % do total de Professores/Educadores do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Douro, - reunidos em 19 de Novembro de 2008, voltaram a expressar o seu veemente repúdio face ao actual modelo de Avaliação de Desempenho e à obstinação de Vossa Excelência em querer manter esse modelo, contra quase tudo e quase todos, pelos motivos a seguir enunciados:
1. A aplicação do modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008 tem-se revelado inexequível, por ser inviável praticá-lo segundo critérios de rigor, imparcialidade e justiça, exigidos pelos Professores deste Agrupamento.
2. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 não tem em conta a complexidade da profissão docente que não é redutível a um modelo burocrático, cabendo em grelhas e fichas pré-formatadas numa perspectiva desmesuradamente quantitativa e redutora da verdadeira avaliação de desempenho dos docentes .
3. O modelo previsto no Decreto Regulamentar nº 2/2008, pela sua absurda complexidade, não é aceite pelos professores, não se traduzindo em qualquer mais-valia profissional e/ou pessoal.
4. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 afirma ter por objectivo melhorar a qualidade da escola pública. No entanto este pressuposto não pode ser alcançado devido ao clima de insustentável instabilidade e mal-estar resultante da sua própria tentativa de aplicação. Esse clima de mal-estar vinha já da implementação do concurso para Professor titular, que artificialmente fracturou a carreira docente e ainda por cima se baseou em parâmetros arbitrários, criando injustiças amplamente reconhecidas.
5. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 impõe quotas para as menções de “Excelente” e “Muito Bom”, e, com isso, desvirtua, logo à partida, qualquer perspectiva dos docentes verem reconhecidos os seus efectivos méritos, conhecimentos, capacidades, competências e investimento na carreira.
6. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 implica um enorme acréscimo de trabalho burocrático para os docentes, sem benefício correspondente para ninguém. Fica relegado para um plano secundário o processo de ensino aprendizagem prevendo-se graves consequências nas novas gerações e, naturalmente, no futuro do país.
7. O Decreto Regulamentar nº 2/2008 condiciona a avaliação do professor ao progresso dos resultados escolares dos seus alunos. Os professores deste Agrupamento consideram que mecanismos como a consideração directa do sucesso/insucesso dos alunos na avaliação dos docentes são incorrectos e injustos e estão em desacordo com as recomendações do Conselho Científico da Avaliação de Professores.
Pelo exposto, os Professores/Educadores abaixo-assinados decidiram suspender a participação neste processo de Avaliação de Desempenho, a começar pela não entrega dos objectivos individuais, até que se proceda a uma revisão concertada do mesmo, que o torne exequível, justo e transparente, ou seja, capaz de contribuir realmente para os fins que supostamente persegue: uma melhoria do exercício da profissão docente e das reais aprendizagens dos alunos no seio de uma Escola Pública de qualidade.
Vila Nova de Gaia, 19 de Novembro de 2008

sexta-feira, novembro 21, 2008

A incultura da senhora ministra

trago-vos aqui uma prosa que li hoje do Fernando Dacosta no JN.
"Sem memória não há ideias, sem ideias não há pensamento, sem pensamento não há criatividade e sem criatividade não há futuro."
"Agora as pessoas, sobretudo as que nos governam, estão perversamente a apagar a memória e a vender o seu peixe. É por esta razão que os grandes criadores portugueses estão a dar grande importância à memória".
"Há medo, nunca vi tanto medo no meu país".
Ao ver a senhora ministra com muita habilidade política (no sentido da "porca" da política como salvo erro se lhe chamava em Portugal no século XIX) e escassa cultura a anunciar "aquelas coisinhas", só me lembrei de duas coisas. Ir ler o Leopardo do Lampedusa que para vergonha minha ainda não li, mas sei que tem uma frase do género "É preciso que algo mude para que tudo fique na mesma". E a seguir reler Maquiavel que aconselhava o Príncipe a ser mau mas com bom gosto.
Triste dum país cujos ministros confiam na incultura do seu povo para governar.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Riso momentâneo

Já nutri vários sentimentos pela actual equipa do ministério da Educação. Selecciono dois, ilustrativos: o pior foi o nojo que senti, por várias propostas repetidas, anti-constitucionais, as quais prejudicavam os professores doentes. E esse facto não é história, veja-se a proposta recente de concursos em que os destacamentos por doença estão na cauda da fila. Nojo também pela mentira repetida à exaustão que a equipa usa abundantemente.
Ontem este trio maravilha resolveu brindar-nos com um despacho (feito ao domingo e assinado pela senhora ministra). Mais uma vez enxota responsabilidades para cima dos professores e com formulações tão caricatas que me deu, momentaneamente, vontade de rir. Só momentaneamente, garanto. É que ir ao fundo das questões isso não é com esta gente. Eu tenho um aluno que está em casa com uma doença que o impede sequer de sair de casa. O que era preciso era haver condições para apoiar verdadeiramente alunos como este. Não é com provas de recuperação que assumam a treta de um "formato e um procedimento simplificado, podendo ter a forma escrita ou oral, prática ou de entrevista." Deixei em acta a necessidade de a escola ter meios para poder apoiar este aluno. Tretas como os despachos e o actual estatuto do aluno são soluções de papel para os reais problemas.

domingo, novembro 02, 2008

Imparável, mas...

Basta que os professores queiram e o movimento de suspensão deste iníquo processo dito de avaliação dos professores é imparável. As reacções simultaneamente ridículas, autistas, ziguezagueantes e por fim "ameaçantes" da "tutela", revelam que neste campo, perderam o pé. Haja capacidade dos professores de manterem inteligentemente a pressão, sem desgastes desnecessários imediatos.
Só que a questão da avaliação do desempenho, por muita importancia que tenha, e tem-na, é apenas parte de um todo. Tenho por teoria pessoal que em grande parte, este monstro burocrático foi levado a termo para nos entreter e fazer gastar forças. É que se eles conseguirem: manter a carreira dividida e o bloqueamento da sua progressão para a maioria dos professores; instaurar o modelo hierárquico-autocrático de gestão das escolas; manter aparências de que conseguiram avaliar os professores... eles abdicam de muitos trocados. E convenhamos... muito do que consta do modelo de avaliação do desempenho é de uma falta de sutentabilidade tão atroz que "mais cedo do que tarde" teria que cair. Por isso não esqueçamos as verdadeiras bandeiras da luta: contra o ECD do ME; contra o Modelo autocrático de gestão das escolas.