domingo, setembro 28, 2008

Paul Newman - homenagem indirecta

Recolhi dos comentários do blog do Paulo Guinote um comentário da Fernanda que me diz muito do ponto de vista pessoal. Referia-se a um artigo da Pública de hoje.

"Fernanda 1 Diz: Setembro 28, 2008 at 1:52 pm
Tenho aqui o jornal. Mas ainda não li a entrevista.
Li o artigo sobre Paul Newman. E li e reli o começo do artigo. Dizia Paul Newman em 1959:
“Há alguns que são actores natos, intuitivos. Eu não. Representar, para mim, é tão difícil como dragar um rio.É uma experiência dolorosa. Não tenho, muito simplesmente, nenhum talento intuitivo. O meu trabalho inquieta-me e estou sempre a queixar-me das minhas representações.”
Muitos de nós poder-se-ão rever nestas palavras.
E não apenas naquele rosto perfeito e naqueles olhos azuis que enchem o ecran."

Paul Newman, digo eu, continuará vivo durante muitos, muitos anos, pois o que ele representa é da ordem do Humano e não da ordem do efémero. Coisa a afirmar num tempo em que alguns que não resistirão à espuma dos dias se consideram hoje, o máximo.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Citação com direitos de autor

Furtei à 3sa uma citação que sinto também pessoalmente e que faço questão de aqui a colocar:

Despite the formidable difficulties, I remain optimistic, perhaps because there is to me a contradiction in being simultaneously pessimistic and an educator. (A Place called School – John Goodlad, 2004 [1984], p. 361)

domingo, setembro 21, 2008

Para esquecer o Outono

A Isabel no Memórias Soltas foi um pouco mázinha e lembrou-nos a todos que o Verão está a fugir. Para esquecer esse facto e também outros personagens sinistros, deixo aqui esta canção.

sábado, setembro 20, 2008

Solidariedade com Cuba

"Amigos(as)
Aqui segue uma lista de instituições que se encontram a recolher os bens alimentares para ajuda ao povo cubano.O primeiro avião com alimentos parte no dia 24 de Setembro, na próxima 4ª feira. Ainda temos tempo para fazer chegar uma primeira ajuda a estes locais.Depois deste outros se seguirão.Toda a nossa disponibilidade solidária é importante!
Refiro os alimentos necessários:
- leite em pó
- massa
- arroz
- conservas
beijinhos a todos
Manuela Silva

locais de recolha de alimentos:
PORTOCOMCUBA
Rua Barão Forrester, 7904050-272 Porto
Telefones: 962 539 884 / 966 316 201 / 938 460 221
Casa Sindical de Vila do CondeRua do Lidador, 46 - R/C - 4480-791 VILA DO CONDE - Telef. 252631478
Sindicato do Comércio, Escritórios - CESP (Delegação Porto)Rua Fernandes Tomás, 626 - 4000-211 PORTO - Telef. 222073050Delegação do CESP na Póvoa de VarzimRua da Junqueira, 2 - 4490-519 PÓVOA DE VARZIM - Telef. 252621687
CASA SINDICAL (TVC)Av. da Boavista, 583 - 4100-127 PORTO - Telef. 226002377
Sindicato dos Professores do NorteRua D. Manuel II, 51-3.º - 4050-345 PORTO - Telef. 226070500
Sindicato da Construção e MadeirasRua de Santos Pousada, 611 - 4000-487 PORTO - Telef. 225390044
Casa Sindical de Santo TirsoRua Tomás Pelayo, - 4780-557 SANTO TIRSO - Telef. 252855470
União Local de FelgueirasR. dos Bombeiros Voluntários, R/C - Esq.-T. - FELGUEIRAS - Telef. 252631478
Casa Sindical USPRua Padre António Vieira, 195 - 4300-031 PORTO - Telef. 225198600
Casa da Paz - (Secretariado permanente da Campanha)
Rua Rodrigo da Fonseca, 56 - 2º - Lisboa (perto do Marquês de Pombal)
Contactos
Telefones: 213 863 375 / 213 863 575
Fax: 213 863 221
Telemóveis: 962 022 207, 962 022 208, 966 342 254, 914 501 963

Campanha de ajuda humanitária ao povo de Cuba


Porto mobiliza-se para a ajuda ao povo de Cuba

A PORTOCOMCUBA, organização promotora da campanha de ajuda humanitária ao povo de Cuba lançada em Portugal na sequência da dramática devastação provocada pela passagem de dois furacões e uma tempestade tropical, apelou hoje em conferência de imprensa, à mobilização de todos os portugueses em torno do objectivo de, até dia 24 de Setembro, se reunir o maior número de embalagens de Leite em pó, massa, arroz e conservas para a ajuda imediata ao povo cubano.

A PORTOCOMCUBA reafirmou que sempre esteve e sempre estará solidária com o povo cubano nos momentos mais ou menos difíceis da sua história, e que assumirá a ajuda fraterna nesta circunstância de maior necessidade. Apelou ainda à compreensão geral da população em relação a estas necessidades imediatas do povo cubano.
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A União de Sindicatos do Porto também se solidarizou com a campanha de recolha de alimentos para as vítimas dos furacões em Cuba, levada a cabo pela Comissão PortoComCuba."

sexta-feira, setembro 19, 2008

Ideia

Os sindicatos deveriam já estar no terreno, a auscultar os professores. A plataforma deveria ser ressuscitada. Os movimentos que entretanto apareceram não deveriam ser ignorados desde que não ignorem, por sua vez os sindicatos. Os blogs da coisa educativa, alguns dos quais atingem uma proeminência bem merecida, podem e devem estar envolvidos neste processo todo.
Penso estar a criar-se o terreno propício para poder levar a cabo dentro de algum tempo uma nova MegaManif fora de horário lectivo. A qual deveria anteceder-se de uma explicação cuidada dos seus objectivos aos pais.
O lema que me surge na cabeça é: DEIXEM-NOS TRABALHAR.
Penso que transmitiria uma mensagem de grande significado para a população. Não me importava de pagar direitos de autor ao senhor Silva.

Os alunos compensam

Final da primeira semana de aulas: muito trabalho mas os alunos compensam. E também compensam ter de continuar a aturar as malfeitorias mais do que nunca enfeitadas de Pinto de Sousa e da sua troupe.
Ser professor será sempre uma coisa mágica quando se estabelece uma relação de trabalho em que se pretende elevar todos os seus protagonistas.
Nós professores, acima de tudo, temos de não esquecer que os alunos não têm culpa do que eles andam a fazer à Educação e aos professores. Sejamos superiores. Saibamos cultivar a resistência pró-activa inteligente.
E digamos aos sindicatos que estamos cá para lutar, empurrando com ideias ou literalmente as suas direcções para uma atitude activa, que parta sempre de uma ampla e constante audição dos professores.

sábado, setembro 13, 2008

O socialismo dos ricos

Lá fora quando os bancos privados dão lucro são os privados a lucrar, quando dão prejuízos ou estão quase a ir à falência os governos neoliberais nacionalizam-nos fazendo pagar esses prejuízos a todos os contribuintes. Quando voltam a engordar privatizam-nos outra vez.
Por cá, vejam este relato de decisões recentes do partido "socialista" relativamente a grandes grupos económicos.
"Em Março de 2008, o actual governo aprovou a Resolução do Conselho de Ministros nº 55/2008, que passou despercebida à opinião pública e aos media, que vai determinar que a GALP pague menos 211,8 milhões de euros de IRC. Como os principais accionistas da GALP são o grupo Amorim com 33,34% do capital, cujo dono é o homem mais rico de Portugal como noticiaram os jornais, e o grande grupo económico italiano de energia ENI, também com 33,34% do seu capital, serão estes os grandes beneficiados com esta benesse do governo dada à custa das receitas do Estado. Para se poder ficar com uma ideia mais clara que interesses o governo de Sócrates efectivamente defende interessa recordar o seguinte: durante o debate do Orçamento do Estado de 2008, o grupo parlamentar a que o autor deste estudo pertencia apresentou uma proposta com o objectivo de aumentar os escalões do IRS em 3% relativamente aos valores que vigoraram em 2007 devido ao facto da taxa de inflação em 2008 aumentar 3%, e não o 2,1% previsto pelo governo. Apesar desta medida determinar uma redução de receita fiscal que estimamos em apenas 60 milhões de euros, mesmo assim o governo de Sócrates recusou-se aceitá-la. No entanto, oferece de mão beijada 200 milhões de euros do IRC à GALP, quer dizer ao homem mais rico de Portugal e ao grupo económico italiano ENI. É evidente que serão depois principalmente os trabalhadores e os reformados a ter de pagar com os seus impostos este “buraco” criado nas receitas fiscais."
O autor é o economista Eugénio Rosa

sexta-feira, setembro 12, 2008

Que nojo

Quanto à operação de propaganda que o governo fez hoje, dia do diploma e do "cheque", deixo a sua desmontagem para a conferência de imprensa da Fenprof que, em conjunto com dois investigadores da Educação, foi bastante esclarecedora.
Da minha parte em relação a esse assunto só posso expressar o meu profundo nojo pelas manobras demagógicas e nocivas do governo.
Para compensar passei a tarde numa acção de formação sobre Educação Intercultural. As minhas expectativas não eram grandes. Felizmente agradou-me a forma como a temática foi tratada.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Mandatos escolares paralelos

Todos nós sabemos, os que andamos nas escolas, que os mandatos que têm caído em cima das escolas e dos professores são descomunais e impossíveis de responder. Os professores e escolas, na sua grande maioria, tentam responder a estes mandatos excessivos para os quais não estão preparados e não têm meios necessários. As soluções reais passarão evidentemente por mudanças sociais que respondam às necessidades que não deverá caber às escolas resolver. As crianças quando vêm para a escola, deverão vir bem alimentadas, vestidas, bem alojadas, bem educadas em famílias que também elas tenham os recursos necessários para os fornecer às suas crianças. Enquanto isto não acontecer as escolas e os professores irão tentando tapar remendos, fazendo tantas vezes o impossível e sendo acusadas de não conseguir aquilo que se lhes torna inviável conseguir.Que solução proponho para tudo isto: acho que as escolas e os professores, individualmente e colectivamente devem simultâneamente denunciar, propor e agir. Denunciar tudo aquilo que a nível das políticas sociais gerais e educativas geram problemas que caem em cima da escola; exigir mudanças a nível destas políticas; propor soluções verdadeiramente educativas como profissionais que são; agir da forma mais responsável e profissional, ajudando as crianças e jovens que nos cabe educar e que não têm culpa nenhuma das situações difíceis em que tantas vezes estão colocadas. Ainda que pense que um professor possa só querer intervir conscienciosamente dentro da sua escola penso que só no seio duma dinâmica mais geral os problemas educativos se podem resolver. Pensar de outro modo é, na minha opinião, ingenuidade.

Recreios escolares

Hoje ouvi o Eduardo Sá e a Isabel Stilwell no seu programa de rádio da Antena 1. Confesso que não sou grande adepto do estilo e das ideias um pouco melífluas dos dois mas desta vez concordei com o que lá foi dito, especialmente pelo Eduardo Sá, sobre os recreios escolares.
Disse ele e penso eu também que são espaços onde deve haver regras de segurança e onde deve haver uma vigilância não concentracionária de algum agente educativo: apontou ele, por exemplo, animadores. Quanto às regras de segurança disse, inclusivamente, que os pais se deveriam queixar à ASAE relativamente a falta de condições de segurança no sentido de que o ministério/escolas as assegurasse. Quanto à vigilância disse também que ela deveria ser feita por pessoas e não por máquinas de videovigilância.
Quanto à Isabel, começou por dizer que havia demasiada escola, demasiados dias e horas em que as crianças passavam na escola (e deu os exemplos dos países nórdicos, com mais tempos de férias escolares intercalares), ao que o Eduardo lhe respondeu, concordando, que também pensava que mais escola não era necessariamente melhor escola.
P.S. Hoje, li e concordei totalmente com o editorial do José Manuel Fernandes no Público. Coisa inédita para mim.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Lá como cá.

Continuação da citação do post anterior:
"... Lamentavelmente, nem todos os advogados da reforma reconhecem esta verdade. É que nos anos seguintes à publicação, em 1983, de A Nation at Risk, quando o nosso debate nacional sobre educação se tornou um evento mediático "público", fechámos virtualmente os olhos à natureza, aos usos e ao papel do ensino. Não foi bem assim: increpámos com azedume a profissão docente como inqualificada, e concentrámo-nos na amplificação das suas qualificações e competências para ensinar. O ensino tem sido tratado como um mal necessário; quem dera que tivéssemos computadores para o fazer. Alienámos assim, provavelmente, o nosso maior aliado na reforma."
Comentário: há significativas ou quase totais semelhanças em relação às "reformas" nos países capitalistas avançados e com uma diferença de duas décadas em relação a nós. Porque é que isto acontece?

sábado, setembro 06, 2008

Leitura fundamental - Jerome Bruner


Jerome Bruner, reputadíssimo psicólogo e homem que desde sempre esteve envolvido com as questões da Educação escreveu páginas que penso inspirarem qualquer educador que goste de caldear as práticas com as teorias da Educação. É preciso não esquecer que ele foi um dos homens mais envolvidos nos contextos da reforma da Educação americana a partir dos anos 60 e que desde aí acompanha o que se passa nesta área.

Nestas férias tive oportunidade de o conhecer melhor. Gostei especialmente da leitura de um dos seus livros mais recentes, penso eu, "A Cultura da Educação" que data de meados dos anos 90.

Desse livro, que recomendo, vou retirar pequenos excertos que provavelmente irei colocando aqui, no meu cantinho. Começo por este que acho bem significativo para começar.

"Não há reforma educativa que avance sem um adulto activa e seriamente participante - um professor empenhado e preparado para dar e partilhar a ajuda, para confortar e construir apoios. A aprendizagem na sua plena complexidade implica a criação e negociação do significado comum numa cultura mais ampla, e o professor é em geral o representante da cultura. Não é possível um plano curricular à prova de professor, como o não é uma família à prova de pais. E uma tarefa importante no contexto de um esforço de reforma - sobretudo do tipo participativo que atrás sublinhávamos - é trazer os professores ao debate e à configuração da mudança. É que eles são os agentes últimos da mudança. Foi um dedicado corpo docente que, ao fim e ao cabo, transmitiu os ideais da Revolução Francesa - ao longo de quase um século de dedicação." pag 118

sexta-feira, setembro 05, 2008

Continuando a corrente


Vou de seguida referir quais os blogs que frequento. Não sou propriamente um navegante no que a blogs se refere. Só fujo da minha lista quando vejo referências que considero interessantes.
Então e por ordem alfabética:

O blog da Isabel Campeão, pela sensibilidade fina e pela revelação de ricos conteúdos, processos, relações que só uma professora com a sua qualidade nos pode transmitir;


O blog do José Matias Alves pelos conteúdos e referências variadas e principalmente quando nele transparece a vertente crítica;


O Blog do Miguel Pinto, hábil colocador de questões/debates, um perfeccionista da blogosfera e um amigo que ultrapassou a rede;


O do Paulo Guinote, incontornável local de crítica e informação abundante e incisíva.



Os Blogs e site do Ramiro Marques pelo seu activismo, informação actualizada e abundante.


O blog dos bonecos geniais do WEHAVEKAOSINTHEGARDEN.


Evidentemente há muitos mais blogs brilhantes, mas os anteriores foram aqueles com quem fui estabelecendo uma relação mais estável.

quarta-feira, setembro 03, 2008

A máscara de Sócrates

As máscaras colocam-se e retiram-se, no caso dos artistas. No caso de "políticos" como Sócrates, a coisa funciona de forma diferente. Andam com elas permanentemente e, volta e meia, estas vão caindo, especialmente quando alguém lhes aponta os reais problemas ou quando obstáculos reais são colocados às suas limitações políticas.
Foi o que aconteceu agora, nas colocações de professores, com o desemprego de 40 000 pessoas que têm em comum serem formados na profissão de professores.
Sócrates, tal como eu previra em post recente, descartou-se deste real problema com a receita já conhecida: as escolas não são agências de emprego. E para acabar com as perguntas incómodas que ameaçavam desvirtuar o 1.º dia de propaganda virtual do governo na área da Educação rematou com a frase: "Acabaram-se as facilidades". Descartou assim, com penada cínica, o problema/drama de 40 000 pessoas e suas respectivas famílias. Nunca o vi reagir assim, por exemplo, em relação às centenas de milhares de portugueses que estão actualmente no desempego e que vão agora engordar mais, com mais alguns milhares de professores. Aí, a receita demagógica foi: vamos criar 150 000 empregos.
Na Educação, tal é a crispação que lhe faz cair a máscara, Sócrates reage assim, sem o mínimo de compaixão que se poderia pensar ser normal num "socialista".
Nos artistas as máscaras são recursos fundamentais e apreciáveis. Nos "políticos" como Sócrates são artifícios que me fazem desligar a televisão.

terça-feira, setembro 02, 2008

Agradecimento

Agradeço sinceramente ao senhor primeiro ministro e à senhora que vocês sabem por perder cada vez menos tempo, quase nenhum, com a porcaria da televisão.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Contra a corrente

Entrevista muito interessante a Dermeval Saviani:
«No último Cole (Congresso de Leitura), realizado na Unicamp, foi consensual a opinião de que a escola está há muito deixando de lado o seu papel de educar e de formar o cidadão. O senhor concorda?
O que eu tenho constatado e também tem sido um dos vetores das lutas que travamos desde a segunda metade da década de 70, é uma certa tendência a deslocar aquilo que me parece ser o papel principal da escola. Entendo que ela tem a ver com o saber sistematizado, com a cultura letrada, com o saber científico. Não com o senso comum, o saber espontâneo, o saber da experiência, ou aquilo que é chamado de cultura popular. Por quê? O que se pode constatar é que, para desenvolver a cultura popular, não se precisa da escola. Agora, na medida em que se desenvolveu uma tendência que desvalorizava ou secundarizava a cultura erudita e valorizava a cultura popular e, por conta disso, passou-se a taxar a escola como alienante, como instrumento de dominação por estar ligada à norma culta, comecei a me perguntar: em que grau isso é realmente transformador? Em que grau isto não vai fazer o jogo da dominação existente? A escola seria uma forma do homem do povo ter acesso ao saber elaborado, sem o que esse tipo de saber fica privilégio das elites.
Houve reação a esta posição?
Passei a me bater contra a tendência a diferenciar as escolas: a das massas e a das elites, esta última qualitativamente mais desenvolvida. Isso me colocou num certo momento num embate com os seguidores do Paulo Freire, que viam nas minhas formulações uma contraposição a esse educador, embora minha crítica não se dirigisse propriamente a Paulo Freire, mas a essa visão de escola que secundarizava a importância do saber elaborado.
Como o senhor reagiu?
Essa visão de escola sempre me intrigou, porque era como se você nas escolas devesse fazer discurso político. Como esse discurso vai se sustentar se não existe conteúdo das várias áreas que os alunos viriam a dominar? Então esse discurso acaba deixando os trabalhadores sempre na dependência dos intelectuais. Isso me chocava. Os defensores da escola centrada no saber elaborado eram acusados como tendo uma visão vanguardista. A crítica era na seguinte direção: o povo é que deve estar na direção do movimento e os intelectuais têm que se deixar dirigir pelas próprias massas. É aí que reside o problema: como as massas podem exercer a função de dirigentes se elas não estão instrumentalizadas? A democracia deve ser buscada, mas ela não está no ponto de partida e sim no ponto de chegada.
O senhor poderia explicar?
Quando vou, por exemplo, me relacionar com os analfabetos, é uma falácia acreditar-se que posso ter uma relação democrática com a criança ou aluno. Não há democracia aí porque ele está numa posição em que depende do meu auxílio para adquirir determinados instrumentos. O processo pedagógico é que deve elevá-lo. No ponto de chegada, sim. Uma vez alfabetizado, ele se torna capaz não apenas de se expressar oralmente, como também por escrito. E o que funda a relação pedagógica é exatamente essa diferença. Aí sim a diferença é removida e a igualdade se estabelece. Aí pode ser travada uma relação democrática. É claro que essas coisas têm níveis diferentes de análises. Foi essa discussão que se travou nas décadas de 1970 e 1980.
E na década de 1990?
Ao longo da década de 1990, esses problemas tenderam a se deslocar para um plano secundário, ou até mesmo foram superados. Aí surgiu esse fenômeno que está sendo constatado agora, ou seja, os próprios agentes governamentais assumindo essa visão de que a escola deve ter mais uma função assistencial do que propriamente de formação intelectual, de preparo cultural.
O senhor poderia exemplificar?
A função assistencial não é específica da escola. Se você considera que é preciso políticas sociais nesse campo porque as famílias não estão mais dando conta de sobreviver, trata-se de política compensatória que você pode fazer via secretarias de assistência social.
O senhor acha que existe essa confusão hoje no Brasil?
Não só acho que há uma confusão, como acho que as políticas educacionais governamentais no nível do MEC têm estimulado esse viés assistencialista. Acho que há aí um componente econômico-financeiro associado ao ponto de vista ideológico. Do ponto de vista econômico-financeiro, como se trata de ajustar o país à hegemonia do capitalismo financeiro, que envolve fazer ajustes e garantir o serviço da dívida, os recursos têm que ser canalizados para essas prioridades. E como é que você atende às necessidades sociais? Você apela para a comunidade, para o voluntariado... Há um componente ideológico também no seguinte sentido: entende-se que a integração da população se daria por esses mecanismos, mais ou menos informais, porque numa sociedade que atingiu alto nível de desenvolvimento tecnológico, transfere-se para as máquinas boa parte dos processos de trabalho, de produção, de comunicação. E o gerenciamento dessas máquinas, assim como a direção do processo social, depende de um conjunto relativamente restrito de técnicos, de intelectuais...A população de um modo geral não precisa ter acesso aos conhecimentos sistemáticos e nem é conveniente que tenha porque isso é custoso e não seria necessário.
O senhor acredita que essa política é deliberada?
Sim. Um outro componente dessa visão ideológica é que os conhecimentos que a população precisa dominar são mais os do dia a dia. O importante não é estar empregado, mas ser empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e capacidade de adaptação. E você se adapta na medida em que você convive, se relaciona. Então os conhecimentos sistemáticos tendem a ser secundarizados. A questão que se põe, que precisa ser pensada, é se isto tenderia a alterar substantivamente o caráter da escola. Se isto é um indicador de que a sociedade está mudando e que, com a mudança da sociedade, a natureza da escola também está mudando.
O que pode ser feito?
Termos que resistir a essa tendência dominante. Mas essa resistência vinha se manifestando a meu ver de forma passiva e individual. Então eu postulei a resistência implicando duas características: 1) que ela seja organizada e coletiva e 2) que ela seja propositiva. Não adianta resistir na base do não concordo. O governo baixa um decreto e eu manifesto minha discordância. Isso não se impõe. Quando muito, pelo que tenho observado, se a grita é mais ou menos geral, o governo faz recuo tático. Para dar eficácia a esse movimento de resistência, propus a estratégia que chamei de resistência ativa. E é um pouco nessa linha que o Coned –Congresso Nacional de Educação- se organizou para discutir o Plano Nacional de Educação, contrapondo uma proposta àquela do governo. De minha parte fiz algo parecido: formulei as linhas básicas do Plano Nacional de Educação, ao mesmo tempo em que confrontei a proposta do MEC com a posição que surgiu no Coned, com a qual a minha proposta tem várias afinidades e objetivos comuns, mas tem alguns aspectos diferenciados, seja do ponto de vista das diretrizes e de algumas medidas... « http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2002/unihoje_ju194pag05.html