segunda-feira, outubro 29, 2007

Saber dizer Não

Lembro-me que aqui há uns anos no longo consulado do PSD no Ministério da Educação, a propósito dos diplomas que regiam a avaliação dos alunos, houve mexidas constantes que surgiam já depois dos anos lectivos terem começado. Os professores e os alunos começavam os anos lectivos tendo que respeitar e programar o ano segundo determinadas leis e, já depois do ano começado, apareciam novos diplomas que traziam novas regras para a avaliação.
Eu e todos os professores de bom senso achávamos estas iniciativas legislativas retroactivas um perfeito disparate e desrespeito por todos, a começar pelos alunos.
Actualmente o mesmo se passa a uma escala ampliada: os professores vêem o seu passado avaliado segundo critérios criados ad hoc com efeitos retroactivos que desconheciam há um ano atrás; os alunos, já o ano começado vão reger-se por um novo estatuto do aluno; a nova avaliação dos professores vai valer já para este ano que já começou há mês e meio, baseado num diploma que só agora sai. Isto é o mais puro desrespeito por qualquer norma de direito e pelo simples bom senso.
Só que o que se verá da parte dos professores, da sua grande maioria, é o cumprir e calar. Como é triste o estado a que isto chegou.
Perante isto no entanto não há que desanimar. Todos aqueles que sabem que as coisas não se mudam por críticas de corredor têm o dever de lutar: denunciar o estado a que isto chegou; apresentar alternativas; resistir às medidas absurdas ou negativas que estão a ser tomadas; participar nas decisões sobre as formas de protesto a fazer e depois participar nelas convicta e empenhadamente.
A gente que desmanda na Educação e na Política em Portugal sabe que só com o silêncio e o consentimento pode continuar a fazer o que quer. Saber dizer Não com pensamentos, palavras e acção é a nossa obrigação.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Os ranking's de trazer por casa

Mais uma vez vêm atirar poeira para os olhos de muitos com a novela dos rankings das escolas. A associação das escolas do ensino privado, inchada pelo facto de o top ten estar quase todo preenchid0 por escolas privadas atreve-se a tirar a brilhante conclusão: "o Estado mostra que não tem vocação para ensinar". E um sujeito a proclamar a grande solução do cheque ensino: "quem paga é o estado, quem ensina somos nós os privados". Coisa que já foi aplicada em alguns lados e com o resultado de cavar mais o fosso entre os ricos e os pobres, que é coisa que em Portugal estamos a fazer cada vez melhor.
Os jornalistas a mando dos patrões dos jornais e televisões cada vez mais condicionadas às leis do lucro e dos interesses privados, vão às escolas da pretensa elite entrevistar meninos queques e professores de meninos queques ou directores de escolas de meninos queques, e perguntam-lhes: qual o segredo? E eles respondem: o segredo são os alunos e os professores daquelas escolas.
E os jornalistas vendidos à necessidade de fazerem pela vidinha não perguntam aos professores: será que vocês estariam no ranking como professores se estivessem em escolas rodeadas de contextos sociais desfavorecidos? Nem perguntam aos alunos: se vocês tivessem as condições de vida que muitos jovens têm, se os vossos papás não tivessem o dinheiro necessário que é mais que muito para vos meterem nesta escola e vos metessem nas escolas onde andam os outros, será que vocês fariam parte dos rankings?
Enfim, umas perguntinhas que nunca teremos a oportunidade de ver ou ouvir na nossa comunicação social pública nem privada. Isto está tudo muito bem combinado...

segunda-feira, outubro 22, 2007

Conselho aos Jovens

"No início do século XIX, alguns burgueses esclarecidos acreditavam que seria suficiente instruir todos os filhos de pobres para os arrancar a essa condição. Nenhuns ignorantes? Nenhuns proletários! Nenhuns proletários? Nem exploração nem miséria! Dois séculos de escola monstraram a vacuidade desta utopia. Mas se o ensino não pode mudar as relações sociais e económicas que dirigem o nosso mundo, ele pode pelo contrário levar aos que lhe sofrem as consequências a capacidade de compreender esse mundo e portanto de participar, colectivamente, na sua transformação. Tal é a nossa convicção, na "Apelo por uma Escola Democrática". Nós vivemos num mundo onde o diploma não garante um emprego e um futuro, mas somente uma mais ou menos boa posição competitiva num mercado de trabalho limitado e hierarquizado. Então, em vez de dizer aos jovens: "Trabalhem bem nos vossos estudos, cuidadosamente, afim de assegurarem o melhor futuro profissional", nós preferimos dizer-lhes: "Trabalhai! Estudai! Devorai os livros! Porque tudo o que vocês aprenderem hoje vos dará força, amanhã, para compreender o mundo, nele participar e contribuir a torná-lo melhor".
Nico Hirt da APED

sexta-feira, outubro 19, 2007

Grandiosa manifestação

Ontem uma forte corrente humana de 200 000 pessoas, trabalhadores de todo o país, percorreu em grandiosa manifestação promovida pela CGTP as avenidas de Lisboa. A comunicação social televisiva cumpriu largamente o seu papel: silenciou quanto pode esta tremenda vaga humana.Se os trabalhadores portugueses tivessem a mínima consciência (e perdessem o medo) do que poderiam conseguir com uma acção consequente de dizer não em massa, tal como ontem tiveram estes 200 000, a política mudaria, não tenho dúvidas. Certas personagens que ditam leis no nosso país seriam varridas do mapa. Entretanto vamos acumulando forças. É de coisas como aquelas que aconteceram ontem que nos tornamos colectivamente mais fortes.
Ao voltar da manif, já noite dentro ouvi no rádio que os senhores da política europeia festejavam com "champanhe português" a assinatura do tratado. Tratado, relembre-se, que estes senhores não tiveram nem têm a coragem de submeter ao sufrágio popular pelos seus próprios povos. Festejam com champanhe num país cada vez mais submerso em pobreza e desemprego. Festejam a ordem perversa, em que quem tem dinheiro manda, em que a maioria das pessoas são peças descartáveis duma economia ao serviço de poucos.
Nos dois dias que se seguiram profusos sorrisos postiços dos políticos de turno e largas "reportagens" sobre o êxito de Lisboa.
200 000 nos quais eu me incluí souberam dizer não nas ruas ao conteúdo não popular desta cimeira de políticos neoliberais. Não houve, que conste, nem um milhar de pessoas a festejar nas ruas o "êxito". Ninguém festejou nas ruas, apenas nos luxuosos salões de conveniência povoados por estes políticos que cada vez mais fazem dizer e pensar ao comum das pessoas que os políticos não passam duns sujeitos que se governam e tratam da vidinha.
Como eu desprezo esta forma de tratar uma coisa tão nobre: a Política.

domingo, outubro 14, 2007

Adriano

Tejo Que Levas As Águas


Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas

Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas
casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais

Afoga empenhos favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas

Leva nas águas as grades ...

Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo

Tejo que levas nas águas


Adriano Correia de Oliveira
letra de Manuel da Fonseca

Como a crítica pode ser poética...

sábado, outubro 13, 2007

Jejum de excelências

Nos tempos mais próximos vou deixar de falar das excelências que mandam e desmandam em Portugal na Educação e na política geral. É que só pensar nelas e no que elas fazem deixa-me mal de figado. Não vou deixar de contestar. 18 de Outubro lá estarei na manifestação da CGTP contra as políticas das tais excelências e reclamando por outras, mas quanto a pensar e falar nas excelências aqui no blog, farei jejum.
Há tanta coisa bonita, valiosa e a salientar na vida. Não vou perder tempo e figado com tristes pensamentos.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Quando?

A senhora ministra da Educação anda desaparecida e calada.
Não esteve na cerimónia do 5 de Outubro. (Será por ter lido antecipadamente o discurso do presidente onde se dizia que era preciso acarinhar os professores?).
Não tem dito nada nos últimos dias. (Será que é pelas acusações de falta à palavra dada que sindicatos de professores e o deputado do CDS Diogo Feio lhe fazem por ter dito que os quadros de supranumerários não eram para professores e agora recentemente essa ser uma realidade que está a avançar na legislação?)
Os tribunais recentemente deram razão à Fenprof no que concerne à possibilidade de reunião sindical fora dos locais de trabalho anulando um "diploma" "valteriano" como alguns lhe chamam, que recusava essa possibilidade.
A táctica do silêncio é uma táctica possível. E realmente quando se está calado pelo menos não se dizem asneiras. Só que o silêncio perante coisas como estas equivale a assumir que se errou ou que as coisas não são boas para as suas bandas principalmnte naqueles que, como a senhora ministra e seu séquito ministerial, são tão expeditos em propagandear as mais mínimas "notícias" que consideram positivas para a sua imagem.
Quando aparecerá e falará sua Ex.a a senhora ministra da Educação? Confesso que não estou sedento de suas palavras ou imagem. É um direito que me assiste neste Portugal pós-Abril, pontuado de factos indignos da Democracia.

sexta-feira, outubro 05, 2007

"SE A EDUCAÇÃO É CARA, EXPERIMENTEM A IGNORÂNCIA"

Há uns anos, de modo a responder a políticas economicistas do governo da altura, a Fenprof lançou o slogan que constitui o título deste post.
Hoje, foi com estupefação que ouvi o máximo responsável do governo actual, que em relação à educação tem sido dum economicismo incontestável, dizer: "para quem diz que a educação é cara, gostaria que tentassem a ignorância."
Eu bem sei quem lhe terá talvez bufado ao ouvido esta boca: um assessor informado das bandas sindicais. Podia ao menos ter dito ao senhor primeiro-ministro que deveria pagar direitos de autor.
Senhor primeiro-ministro, deixe de nos fazer de ignorantes, a nós professores, que sabemos mais de Educação do que V.Exa porventura alguma vez saberá de boa política de Educação.