sexta-feira, julho 20, 2007

Bandeirinhas

"... qualquer balanço actual do neoliberalismo só pode ser provisório. Este é um movimento ainda inacabado. Por enquanto, porém, é possível dar um veredito acerca da sua actualidade durante quase 15 anos nos países mais ricos do mundo, a única área onde os seus frutos parecem, podemos dizer assim, maduros. Economicamente, o neoliberalismo fracassou, não conseguindo nenhuma revitalização básica do capitalismo avançado. Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objectivos, criando sociedades marcadamente desiguais, embora não tão desestatizadas quanto queria. Política e ideologicamente, todavia, o neoliberalismo alcançou êxito num grau com o qual os seus fundadores provavelmente jamais sonharam, disseminando a simples ideia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm que se adaptar a suas normas. Provavelmente nenhuma sabedoria convencional conseguiu um predomínio tão abrangente desde o início do século como o neoliberalismo hoje. Este fenómeno chama-se hegemonia, ainda que, naturalmente, milhões de pessoas não acreditem em suas receitas e resistam a seus regimes. A tarefa de seus opositores é a de oferecer outras receitas e preparar outros regimes. Apenas não há como prever quando ou onde vão surgir. Historicamente, o momento de virada de uma onda é uma surpresa."

Isto foi escrito em 1995 por Perry Anderson.

PS. O ministro das finanças anunciou hoje que para o próximo ano prevê-se a privatização dos CTT, dos Portos e do Transporte Ferroviário. Depois será a vez da TAP, da Ana e...
Hoje no debate da nação um senhor do PS dizia que há pessoas maliciosas que afirmam que o PS não é de esquerda e deu como exemplos das políticas de esquerda do PS a despenalização do aborto... e mais umas bandeirinhas. De facto somos muito mal intencionados: é típico dos governos de esquerda destruírem direitos dos trabalhadores, liberalizarem despedimentos, asfixiarem sindicatos, privatizarem a esmo... É a Esquerda Moderna...

quinta-feira, julho 19, 2007

Haja companheiros

Ando com pouca vontade de escrever aqui no blog, mas para que conste, digo: estou absolutamente disponível para parar os senhores asneirentos e destruidores do sistema público de Educação em Portugal. Haja companheiros.

segunda-feira, julho 16, 2007

"Plateia"

"Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga
in De Palavra em Punho. Antologia Poética da Resistência. De Fernando Pessoa ao 25 de Abril. Organização e apresentação de José Fanha.

sexta-feira, julho 13, 2007

O rei dos eufemismos.

Sabem qual foi o conceito que o governo português inventou, no âmbito da presidência da união europeia, para o facto de cada vez mais se morrer a trabalhar, mesmo que doente?
Chamou-lhe "envelhecimento activo".

quarta-feira, julho 11, 2007

Obsessões

Acabei de ler a versão para a nova avaliação do desempenho dos professores que este nosso cada vez mais inefável ministério da Educação acabou de apresentar. Embora deixe para mais tarde uma apreciação mais a frio desta versão, não posso deixar de dizer agora:
-deita por todos os poros uma obsessão por uma autoproclamada "avaliação" que é mais uma avalionite que invade e devora todo o espaço escolar em geral e o universo docente em particular;
-envereda por processos que tudo querem reduzir a coisas mesuráveis quantitativamente;
-não consegue, nem minimamente nem aparentemente, apesar da obsessão pela quantidade, qualquer arremedo de coisa da qual se possa dizer que é objectiva;
-revela um profundo alheamento do que é e deve ser a realidade concreta do ser professor. O modelo será talvez o de uma formiga acéfala que labuta, labuta, labuta e que quantas mais migalhinhas reais ou virtuais aportar para o seu curriculum, melhor;
-transformaria, se levada a cabo nesta versão, todo este processo numa tortura burocrática antecedida duma farsa grotesca.
Esta espécie de "avaliação" de professores levou-me a lembrar um óptimo livro de que possuo a versão castelhana de Gimeno Sacristan, chamado "La pedagogia por objectivos: Obsession por la eficiencia" cuja leitura recomendo: se estes senhores percebessem o mínimo de Educação saberiam que a versão tecnocrática da obtenção de resultados pelos resultados é um anacronismo obtuso e ineficiente.
Coitada da nossa Educação que tão mal tratada tem sido nos últimos anos.
PS1. Até quando professores deixareis passar sem resistência a valer estes políticos e políticas?
E senhores professores, será que vão deixar passar a lei da morte dos sindicatos docentes que está na Assembleia da República? Será que não vêem que isso será fatal para si próprios?
PS2. Que responsabilidades e de quem, o dos "resultados" tão negativos a Matemática nos exames do 9.º ano, depois de um ano de aplicação do célebre plano? Estou para ver a versão do ministério acerca deste "sucesso".

segunda-feira, julho 09, 2007

Pílula dourada

A ministra da Educação e a equipa que a acompanha já deve ter batido o recorde de reclamações colocadas nos tribunais pelos mais diversos personagens e parceiros sociais como se diz agora. Alunos, pais, associações, sindicatos, etc, já puseram o ministério em tribunal pelas mais diversas questões. Em muitas delas já os tribunais decidiram a favor dos reclamantes e numa das últimas, o Tribunal Constitucional considerou inconstitucional a posição do ME face a um exame do ano passado. A senhora ministra mais não fez do que passar ao lado da questão, tal como já tinha feito em muitas outras anteriores. Por muito menos ministros anteriores saíram em passo estugado do ministério. Esta ministra não!
Nos jornais, assiste-se recentemente a um branqueamento destas nódoas negras da ministra e do seu ministério. As setinhas para cima de incógnitos avaliadores do regime vão-se acumulando, a respeito das decisões e posições supostamente positivamente da senhora ministra a propósito das mais diversas questõezinhas.
O que faz aguentar uma ministra assim, assim como um ministro como o da Saúde?
Em primeiro lugar, sem dúvida, por serem demagogos habilidosos quanto baste. Em segundo mas não menos importante razão por servirem os interesses mais fortes em Portugal: os interesses do grande capital. É isto que faz com que se mantenham tanto tempo à tona da água. Como instrumento principal de ajuda a estes ministros estão os meios de comunicação social -tanto os públicos, servís ao governo, como os privados, a cujos donos tanto interessa o desmantelamento dos serviços públicos de Educação e Saúde e a sua entrega, na sua parte potencialmente lucrativa ao privado e o aggiornamiento do regime com tinta supostamente social conferida por um partido de governo nominalmente socialista.
Quase todos os fazedores de opinião neste momento não deixam de demonstrar simultaneamente a sua ideologia de direita adoçando-a ridiculamente com críticas formais, ao apoiarem a cem por cento as "reformas" empreendidas mas dizendo que é apenas o estilo dos governantes está errado. Eles gostariam, é caso para dizer, que a pílula que nos é impingida como boa fosse mais dourada. Tristes comentadores benévolos do regime que nos vão tentando fazer comer gato por lebre.

quinta-feira, julho 05, 2007

No meio da multidão.

A manifestação de Guimarães, onde estive com mais 20 000 companheiros contra os projectos de flexibilização das leis laborais, teve um aliciante pessoal especial. Conheci ao "vivo" o meu companheiro de blog colectivo - o Miguel Pinto do Outròólhar - com que venho tecendo há mais de um ano uma teia de cumplicidade. Foi bom ver como a imagem que eu tinha da pessoa feita do contacto internético ter sido confirmada em absoluto com o contacto pessoal. Conheci também a colega que dinamiza o Escola Revisitada. Enfim: uma manif com contornos blogosféricos...

terça-feira, julho 03, 2007

Firmeza em Guimarães.


Firmeza



de João José Cachofel


harmonizado por Fernando Lopes-Graça.





Sem frases de desânimo,


nem complicações de alma,


que o teu corpo agora fale,


presente e seguro do que vale.





Pedra em que a vida se alicerça,


argamassa e nervo,


pega-lhe como um senhor,


e nunca como um servo.





Não seja o travor das lágrimas,


capaz de embargar-te a voz,


que a boca a sorrir não mate,


nos lábios o brado de combate.





Olha que a vida nos acena,


para além da luta,


canta os sonhos com que esperas,


que o espelho da vida nos escuta."




Na próxima Quinta-Feira, dia 5 de Julho de 2007, lá estarei em Guimarães com muitos mais, para protestar contra a flexigurança que os senhores do capital, através dos ministros da Europa, querem impôr aos nossos povos. E no caso de Portugal, para protestar veementemente em relação à desregulamentação e caminho de precarização para os funcionários públicos e trabalhadores do privado.