segunda-feira, outubro 30, 2006

Para além do suportável.

O modo como a senhora ministra reagiu à contestação dos estudantes, esta manhã, atirando as culpas, mais uma vez, para cima dos professores, é para mim insuportável.
Por mim, estou disposto a fazer muita coisa, colectivamente, até que esta senhora, que não tem um mínimo de dignidade pessoal (já nem falo em sentido de Estado) seja demitida ou se demita.
Esta senhora não tem mínimas condições pessoais para dirigir com lealdade um departamento do Estado, quanto mais um ministério da Educação.
Que pena tantos professores colocarem tanta coisa à frente da sua dignidade pessoal e profissional...

domingo, outubro 29, 2006

Desabafo em três tempos.

Uma das coisas que se pode permitir a quem só a si se representa é a figura do desabafo.
1- Que triste ser governado por uma cambada de mentirosos, que foi eleita tendo por base uma série de promessas todas elas já viradas do avesso, que usa o nome de socialista e neste momento contenta verdadeiramente os interesses dos grandes senhores do dinheiro e os seus interessados apaniguados; governo que usa a arte da política e da propaganda no seu sentido mais reles; governo que para combater o défice calunia e depreda profissões e profissionais que as exercem há anos de forma inexcedível;
2- Que sina parece ter esta profissão docente de não ser exercida na sua larga maioria por profissionais com sentido de classe, que não sendo só trabalhadores tivessem orgulho nessa condição de trabalhadores e de funcionários servidores públicos (como lhe chamam os brasileiros); profissionais que conseguissem ser solidários consigo mesmos e com os restantes trabalhadores; profissionais que levassem a indignação à sua mais longa consequência recusando-se a trabalhar enquanto os pretensos homens e mulheres de Estado não soubessem respeitar a sua profissão; profissionais que não pensassem primeiro nos tostões que perdem no imediato em dois dias de greve.
3- Que pena não termos sindicatos que consigam estar acima da consciência (ou falta dela) profissional dos professores e soubessem realizar o milagre das rosas negocial e reivindicativo, não cedendo coisas fundamentais em troca de tostões que afinal não chegam e dão azo a manobras demagógicas e mentirosas de um primeiro ministro indigno; sindicatos que tivessem também o sentido pleno da solidariedade entre sindicatos e trabalhadores.
Pois é. Mas isto não passa de um desabafo. Amanhã é Segunda-Feira, é preciso estar nas escolas e mostrar aos alunos a dignidade da nossa profissão. Mostrar como é sublime ensinar e aprender e como somos, professores e alunos, aprendizes e artífices da condição e dignidade humana. Apesar de todas as cambadas que pululam na nossa sociedade e a apoucam apoucando os seres humanos que nelas vivem e em primeiro lugar os mais frágéis, os professores têm oportunidades únicas de demonstrar todos os dias como as mulheres e homens podem melhorar. Enfim, nem todos... mas quase todos e principalmente as crianças e jovens.
Hoje à noite tem de ser tempo de digerir o desabafo. Pela manhã é dia de trabalho, não na sua origem etimológica de tripalium mas como actividade que pode transformar o mundo e nos transformar a nós próprios. Num bom sentido, espero...

quinta-feira, outubro 26, 2006

"O sistema educativo morreu"

Não simplifiquemos nas respostas e, muito menos, nas perguntas. Os objectivos que a escola foi visando ter-se-ão centrado, genericamente, numa base instrumental, utilitária, sujeita a modos e a modas, cujo apogeu se terá atingido, recentemente, com a publicação de rankings. Não desejamos polemizar. Façamos tão só uma pergunta retórica: Não será obsceno colocar na grelha de partida um "2 CV" e um "Ferrari" e pretender seriá-los à chegada?
O sistema educativo morreu. Paz à sua alma. Coveiros ultraliberais foram-lhe anunciando o funeral. Vejamos o que nos reserva o sistema instrutivo que advogam. Aos "filhos de Rousseau", condenados por uma opinião publicada (que, porventura, nunca leu Rousseau) (a)parece contraposto o robot como modelo. Obviamente, essas vozes não o dizem, mas, ao escondê-lo, são ainda mais imorais.
Quem vaticinou isto? Foi, em primeiro lugar, a leviandade dos que pensaram que tudo se consegue sem esforço; foi, depois, a generosidade dos que só falavam em direitos, esquecendo os deveres; ora, de direito que a escola é, depressa passa a ser vista como obrigação e, mesmo, como pesadelo. Foram, depois, vozes apocalípticas pairando, negras, sob os céus educacionais; foram ameaças de hecatombe escurecendo, em vendaval de chumbo, os horizontes da sala de aula. Foram ácidas Cassandras da República chorando, inconsoláveis, a educação dos seus "filhos" e repetindo, dolentemente, toadas de carpideiras em transe; caladas agora, saboreiam os despojos...
Parece que só nos resta cantar hossanas às "irmãs máquinas". Elas não adoecem, não têm insónias, não sofrem de reumatismo; têm informação abundante, papagueiam respostas adesivas a perguntas insuportáveis, em programas insuportáveis, de inquiridores insuportáveis. Não resmugam, não espirram, não choram, não se comovem, não têm depressões, não param, não comem; são rigorosas, precisas, "inteligentes", produtivas; não mentem, não invejam, não (se) enganam... São os colaboradores ideais de que necessitava Ford quando exclamava: "Eu só precisava de braços e encontro-me com seres humanos!" Nunca me apeteceu dizer com tanta propriedade que "errar é um privilégio humano...".

In A AULA
Álvaro Gomes, Porto Editora

terça-feira, outubro 24, 2006

Orelhas vermelhas.

Os últimos dias não têm corrido nada bem aos inquilinos-mor da 5 de Outubro. O secretário Pedreira está a ser alvo de uma cabala na comunicação social que aqui denuncio. O jornalista e cronista diário Manuel António Pina, no JN, criticou-o duramente pelo seu comportamento recente. O Victor Malheiro, jornalista, no Público, disse que ele devia pedir desculpas e demitir-se.
Ainda bem que o secretário estava em Paris numa conferência da Unesco. Mas diz, inventando, quem não viu, que as suas orelhas fumegavam.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Sugestão de leitura.

Álvaro Gomes

Ontem descobri um autor de grande qualidade. Deu para ver neste primeiro livro que li da sua autoria. Já adquiri outros.

Neste livro, o autor que durante 40 anos exerceu o ofício de professor e de formador de professores, se não estou em erro, discorreu sobre o livro "best-seller de Nuno Crato. Desmontou com argumentos e cultura pedagógica e não só, a demagogia e atrevimento do especialista em matemática e autor de "O eduquês em discurso directo".

Num registo crítico superiormente informado demonstrou como não basta o senso comum para falar de Educação e como a falta de cultura pedagógica pode levar a repetir o já dito sem ter a mínima noção do facto.

Citando um professor cínico, Álvaro Gomes resumiu, por fim, este livro de Crato dizendo que contém coisas boas e coisas novas. Pena que as boas não sejam novas e as novas não sejam boas.

Provavelmente não será best-seller... Um livro que aconselho.

domingo, outubro 22, 2006

Recado aos pais.

Este recado dirige-se à grande maioria dos pais, nos quais me incluo, que se aflige com a preparação dos seus filhos para um mundo onde é difícil viver e, tantas vezes, sobreviver.
Antes de nos preocuparmos com a preparação para o mundo, tentemos, na medida das nossas possibilidades, torná-lo melhor:
-não deixando impunemente de denunciar e recusar a ditadura dos interesses económicos mais brutais que fazem do mundo seu pasto, os quais não olham a meios para atingir os seus fins, mesmo se estes passam por condenar largas centenas de milhões de pessoas à pobreza, à fome, à incultura ou mesmo a guerras inumanas;
-não nos deixando enganar com os cantos de sereia que hiperbolizam as deficiências da preparação para a vida ou para o emprego, remetendo para a sombra, quanto a nossa sociedade cada vez condena mais jovens e menos jovens ao desemprego, a vidas sem dignidade.
Há poucos pais no mundo que possam dar-se por satisfeitos por este mundo, tal como ele está. Para esses, conservar este estado das coisas e dizer que nos temos de conformar com "as leis de mercado da economia mundial, da globalização e da competitividade" é sem dúvida natural.
E para ti pai, que ganhas a vida trabalhando, com um vencimento apertado, sentindo a insegurança permanente no trabalho mesmo quando és "efectivo", descartado ao fim de dezenas de anos; sim, para ti, este mundo serve? E serve para os teus filhos?

O jogo está à MOSTRA

Para quem tinha alguma dúvida, ontem o senhor secretário Pedreira abriu o jogo todo: a questão dos titulares e das cotas é para manter e o ministério não abdica dela. Ler por exemplo no Público deste passado Sábado.
Tudo o resto, ou quase tudo, pode ser virado do avesso ou ficar como está, se os sindicatos ou os professores aceitarem estas condições. Para alguns que concediam às posições do governo algum benefício de dúvida sobre as suas boas intenções, esta posição do secretário terá sido esclarecedora.
Agora apetece-me dar uma picada em muitos professores, em primeiro lugar naqueles que invocam motivos económicos para não aderir a greves: como é triste a falta de convicções; como é verdade que a falta de consciência profissional ou das razões que os assistem pode levar alguns a desistir por uns míseros tostões. Olhem para outros trabalhadores muito mal remunerados para quem a perda de remuneração pesa muito mais no seu orçamento. Olhem para a sua capacidade de luta que os leva a posições de massa encerrando os locais de trabalho por vários dias. Olhem para isso e cobram-se de vergonha.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Dedicado a um senhor aprendiz de ditador.

"Quando os vindouros tentarem retomar o curso
da corrente que foi estancado por circunstâncias
superiores à vontade dos homens façam-nos justiça."
1936, apelo dum professor na revista Labor.
In História do movimento associativo dos
professores do ensino secundário - 1891 a 1932.
Gomes Bento
A resposta que a plataforma dos sindicatos de professores deu, hoje, ao ministério da Educação demonstrou unidade, força de argumentos, equilíbrio e inteligência.
Para aqueles que dentro da classe dos professores parecem entreter-se a bater mais nos sindicatos do que nos governos, como se fossem eles que têm governado a educação ao longo destes últimos trinta e dois anos, esta foi uma resposta à altura. Eu disse 32 anos pois para os mais esquecidos ou menos sabedores, antes disso e durante largas décadas de ditadura não existiram sindicatos de professores do ensino público (no particular existiam).
A luta segue dentro de momentos senhor secretário. Queiram os professores para aborrecimento de sua, outrora, sindical pessoa.

Uma mão cheia de nada...

No último dia, a propósito da 4.ª versão do ECD entregue pelo ministério da Educação, vi alguns colegas um pouco iludidos pelo aceno de umas alterações, já que não acredito que tenham ficado amedrontados pelas ameaças do dr Pedreira.
Por não achar nada de novo na 4.ª versão que não fosse esperável e por achar indignas as ameaças do dr Pedreira escrevi o que se segue (com algumas alterações posteriores) no blogue do Paulo Guinote, onde pela primeira vez discordei substancialmente da opinião deste colega, que considero dos mais esclarecidos de nós, sobre o que está em causa neste preciso momento.
O ministério da Educação não cedeu em nada de fundamental. O que o ministério queria e sempre quis é o estrangulamento da carreira, criando para isso um patamar diferenciado, os titulares, limitado por um critério geral (1/3 dos quadros) e um critério a regulamentar por dotação que não sabemos como irá ser mas será muito mais limitado ainda, e ainda pelo sistema de quotas. Todos os insultos anteriormente feitos pela ministra aos profs tiveram como intenção criar o caldo social para minar o estatuto social dos professores e impôr-lhes estas questões. O resto é paisagem. Por isso eles abdicam da imposição de critérios da tão badalada avaliação dos professores. Se não parecesse mal eles atiravam até uma moeda ao ar para se saber quem era titular ou não, desde que se cumprissem as quotas e as dotações. A questão das faltas não passaria no tribunal constitucional. A avaliação pelos pais era um fait-divers. A questão dos quadros de zona passarem a quadros de agrupamento é uma aparente benesse que para os próprios não será sequer tão boa como isso e para os outros, através do alargamento dos quadros (e daí do 1/3), não aquecerá nem arrefecerá, pois estará sempre sujeita sempre a dotações e abertura anual de vagas. Colegas, penso que estão a medir mal a situação. Que não é fácil para os sindicatos decidir e actuar é verdade. Mas que esta proposta não cede no que eles acham e sempre acharam fundamental, isso é verdade. Outras questões que poupam dinheiro como a questão das reduções também não foram sequer afloradas nem houve recuo ministerial. Porquê? E é incrível como um secretário de estado possa ameaçar os professsores da forma soez como o fez, indo ao ponto de ameaçar com o quadro de excedentes, alguns dos professores dos quadros para os quais quer remeter mais uns milhares. Colegas, uma das razões pelas quais um sindicalista só se faz ao fim de alguns anos de experiência é a necessidade desses anos para se aperceber das armadilhas em que nos querem fazer cair. Tenho confiança de que muitos dos nossos sindicalistas com a experiência que têm, saberão decidir. Tenho infelizmente menos confiança na capacidade de luta de muitos professores que talvez não tenham a capacidade de persistência de luta e de indignação perante um ministério e um governo que merecem que os professores não se calem. Embora com inteligência, com criatividade e sem espírito suicidário.
Vamos esperar para ver a conferência de imprensa dos sindicatos às 15h30 de hoje.

terça-feira, outubro 17, 2006

Volte face no Orçamento de Estado

Notícia de última Hora.
José Sócrates convocou por sinais de fumo (queimou as páginas offline da "pen" do orçamento de estado de 2007) os jornalistas para o Largo do Rato. Com um súbito ataque de consciência de esquerda e de verdadeira coragem socialista, decidiu, vejam lá, até ao fim do mandato:
-dar exemplo máximo e abdicar de 30% do seu salário e de 25% do salário dos seus ministros e de todos os boy's colocados no aparelho de estado;
-reduzir o salário dos deputados em 20%;
-despedir todos os assessores contratados a partir do início do mandato em curso e não contratar mais pareceres pagos, usando a massa crítica do funcionalismo público;
-acabar com todas as mordomias dos ministros e dos respectivos ministérios, mordomias essas que não menciono aqui pois sou tão ignorante que nem sequer as conheço;
-acabar com a pouca vergonha das reformas e acumulações milionárias dos administradores do Banco de Portugal, designadamente chamando de "moderação salarial", (com ironia incontida, dirigindo-se a quem mais usou essas duas palavras no universo e arredores) a um corte de 29% do salário do Director do BP, Victor Constâncio;
-fazer voltar ao trabalho os políticos reformados com 8 anos de serviço, ou, caso não quisessem, ficarem sem reforma durante o tempo previsto;
-fazer pagar à banca dos lucros milionários em tempos de crise (para os outros) o mesmo de impostos que pagam as outras empresas;
-para que os outros empresários não se ficassem a rir da banca, aumentar em 5% a sua taxa de imposto;
-manter o garrote sobre os salários da função pública e continuar o congelamento das respectivas carreiras;
-nacionalizar os bens em terreno nacional das multinacionais que querem fugir de Portugal e exigir-lhes o pagamento retroactivo de todas as isenções e benefícios fiscais que tiveram enquanto estiveram em Portugal. Já que fogem, que deixem aqui parte do couro;
-dar caça sem treguas aos que fogem ao fisco e à corrupção financeira, designadamente através do método dos sinais exteriores de riqueza, da queda do sigilo bancário e à instituição dos "arrependidos" que dêem informações importantes;
-fazer pagar 0,1 % de imposto por cada cêntimo que é transaccionado nas acções bolsistas em Portugal.
E nesta noite ficou-se por aqui.
Na Concertação Social os eternos contras da CGTP já disseram que apoiavam. Afinal estão todos a comer pela mesma medida. Mas justiça oblige. Quem esteve contra desta vez foram os patrões.
Os professores levantaram para já a greve. Um Sócrates assim, com estas medidas, provavelmente dirá à dona Lurdes que já não é preciso roubar os professores de forma tão descarada.

Por SMS...

Sócrates convoca jornalistas por SMS para uma conferência improvisada nas escadas do parlamento destinada a demonstrar a bondade do estatuto que quer impor aos professores. Vá lá que não foi de assobio...
A ministra já não chega para as demonstrações. As coisas realmente estão a mudar.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Fazer ou não fazer Greve? Eis a questão.

Nos dois próximos dias a atitude dos professores terá, neste momento, um significado fundamental para estes e para o ministério da Educação:
-não fazer greve é afirmar que a proposta de estatuto vinda do ministério da Educação é aceitável;
-fazer greve é afirmar que esta proposta não serve, que é preciso um verdadeiro processo de negociação que chegue a um entendimento aceitável.
Não fazer greve faz terminar aqui o processo. Fazê-la, não significando o fim da linha ou a obtenção de nenhuma garantia por parte dos professores ou do ministério, mostra uma vontade de não ficar por aqui, impossível de ignorar.
Tu, professor que passas por aqui, que decisão vais tomar nestes dois dias que se seguem?

sábado, outubro 14, 2006

Duas páginas de pura publicidade.

Hoje, ao folhear o Jornal de Notícias, ao passar pelas duas páginas centrais, eu não queria acreditar. As duas páginas centrais de publicidade paga eram da iniciativa do ministério da Educação (ME) e de propaganda publicitária à sua proposta de alteração ao estatuto da carreira docente:
-duas páginas de publicidade, de pura propaganda;
-duas páginas pagas pelos contribuintes entre os quais me incluo;
-duas páginas de propaganda contra os professores que contestam as propostas do ME;
-duas páginas de propaganda que não apresentam a verdade mas o que interessa veicular para a opinião pública.
De realçar que naquelas duas páginas poderiam caber as propostas do ME, mas o que lá vinha era a suposta interpretação das boas intenções dessas propostas. Para quem, como a senhora ministra da Educação, convidou recentemente os professores a ler pela própria cabeça as propostas do ME, esta iniciativa soa a pura manipulação, não já dos professores, mas do povo português que não é professor e que tem tido das iniciativas do ME um conhecimento indirecto.
Perante tal atitude inqualificável dos nossos governantes da pasta da Educação só me assomou, num primeiro momento, a indignação. Mas, pensando bem, esta atitude demonstra o medo que este ME tem, da resposta que os professores podem dar daqui a quatro dias na Greve de 17 e 18. Medo que cresce desde a massiva Marcha de professores de 5 de Outubro. Medo que os faz gastar o dinheiro dos contribuintes em tempo de crise. Medo que os faz transpor o limiar do campo da política saltando para o campo da publicidade paga. Estes governantes estão a mostrar o verdadeiro rosto.

quarta-feira, outubro 11, 2006

A Contraproposta

Hoje os sindicatos de professores unidos enviaram para o ministério da Educação uma contraproposta para revisão do Estatuto. Mostram assim capacidade propositiva e união em torno de uma plataforma de questões a incluir nessa revisão. A ler por todos os professores. Sugerimos também a sua leitura à senhora ministra e ao secretário Pedreira. Pela sua própria cabeça. Sem ignorância.

domingo, outubro 08, 2006

Alguma coisa está a mudar...

A demagogia e o estilo autoritário desta equipa ministerial que está actualmente a "governar" a Educação em Portugal, não tarda em ser desmascarada. O "colo" que os órgãos de comunicação e a grande maioria dos "pensadores de jornal" têm oferecido a Maria de Lurdes Rodrigues, está a tornar-se insustentável.
Os professores e os seus sindicatos que realizaram uma Marcha memorável, num feriado Português que coincide com o dia Mundial do Professor, deram uma imagem de unidade que não foi possível esconder do povo português. Se essa manifestação de unidade for seguida com outros momentos de união e de luta em defesa de uma Escola Pública de Qualidade para Todos e de um Estatuto Profissional dos professores dignificado e valorizado, muito difícil será o caminho errado seguido pelo ministério da Educação.
De seguida reproduzo uma coluna de opinião do Jornal de Notícias, dum homem de cultura, Manuel Poppe, que me parece saber apreender o que está em jogo neste momento para a Educação em Portugal. Que denuncia com veemência a demagogia e o potencial destrutivo que têm as actuais políticas na área da educação. a ler e a reflectir.
"O ensino e as empresas
1. Equiparar o ensino a empresas - como parece querer-se - é grave. E significativo: aponta o grau de ignorância da nossa sociedade inculta, pobre, em vias de desenvolvimento, que se deixa manipular. Nada tenho contra as empresas e sei que são importantes e criadoras - quando empresas que congreguem os esforços de operários, técnicos e administradores, em diálogo e respeito mútuo. Mas o ensino é, obviamente, diferente. É a "mãe": esclarece cidadãos, dá-lhes Cultura e conhecimentos que determinam a produção positiva. E o sistema de trabalho, entre ensino e empresa, não tem comparação possível.
2. O leitor sabe que o professor não é um funcionário igual aos outros? Que não cumpre apenas horários e não se limita a "picar" cartões? Que é responsável pelo despertar e desenvolvimento intelectual de milhões de jovens? Que precisa de tempo e tranquilidade, para investigar, actualizar-se, pensar? Que precisa de tempo para preparar as aulas? Que lhe cabe substituir-se ao psicólogo e ao sociólogo, porque a maioria dos alunos são jovens desenquadrados e só vêem os pais cedo de manhã e tarde à noite, quando vêem? E o leitor sabe que o professor gasta horas com tarefas administrativas: registar matrículas, preencher pautas?...
3. Em terra de cegos quem tem olho é rei. O leitor desconhece o referido acima e, fácil e demagogicamente, o induzem em julgamentos disparatados. Porque o leitor ignora que o professor, cujo ofício exige estabilidade, sofre a arbitrariedade das colocações, faz vida de cigano, desconhece um futuro seguro. E sabe que a figura do professor - desautorizado - se degrada? Que não é ouvido? Que não é senhor de si? Que se transformou num peão em mãos de prepotentes? E saberá esta ministra que lançou o ensino às urtigas - à arena onde, rebaixado, o professor se retrai e, reforçado pela desautorização do mestre, o aluno proclama a desautorização e professor e aluno se combatem em vez de dialogar? Se a ministra não sabe, das duas, uma: continua a destruir o ensino ou vai aprender. De qualquer modo, é altura de entregar o lugar a alguém capaz."

sexta-feira, outubro 06, 2006

Dia Mundial do Professor

Ontem foi dia Mundial do Professor.
Para quem não conhece a história, esta comemoração neste dia de 5 de Outubro tem a ver com a Recomendação da Conferência Intergovernamental sobre a Condição Docente convocada pela UNESCO e realizada em 5 de Outubro de 1966, e que ainda hoje mantém muita da sua actualidade (em Espanhol). Foi entretanto actualizada com um anexo relativo ao ensino superior em 1997.
Tenho poucas certezas absolutas na vida, mas uma coisa me parece certa. Nunca haverá o dia mundial do professor Titular. Essa aberração economicista só serve para consumo de ministros e governos apostados em dividir, hierarquizar e economizar com uma profissão, que queiram ou não alguns individuos, é a mesma do início ao fim do seu exercício.
O núcleo duro desta profissão é a promoção das aprendizagens e do desenvolvimento pessoal e social dos alunos. Por isso qualquer avaliação de desempenho de um professor se deveria centrar nestas questões. Avaliação que deverá ser séria e rigorosa mas que nunca poderá estar subordinada a garrotes economicistas ou sobrevalorizando critérios laterais.
Um Bom professor deverá progredir até ao topo da carreira, não precisando de deixar de ser professor, exercendo outros cargos, para que lhe seja reconhecida o valor e a a progressão na carreira, nem ser obscurecida por critérios ultraburocráticos como os apresentados pela nossa equipa do ministério da Educação.
Adenda: Até nisto estes individuos demonstram o seu desprezo pela nossa profissão. Nos critérios para se aceder a provas públicas para titular, o que aparece como aspectos a valorizar é tudo aquilo que circunda o acto de ensinar: gerir a escola ou a formação, coordenar departamentos, supervisar, etc. O professor que se tenha circunscrevido e valorizado a sua missão mais nobre: o ensino, mesmo que a tenha desempenhado com uma qualidade inexcedível, é um óptimo candidato a ficar-se retido na barreira da "titularidade". Tristes tempos estes em que quem tutela a Educação é gente que despreza os professores.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Esta gente, é preciso dizê-lo, não presta.

Uma familiar foi operada a um cancro de mama no fim de Julho passado.
Resolveu que, enquanto pudesse, iria continuar a trabalhar como professora, mesmo neste período em que está a fazer quimioterapia seguida de radioterapia.
Ontem fez a segunda sessão de quimioterapia.
Está a trabalhar desde o início do ano lectivo com 8 turmas. Como a carga é por demais pesada (mesmo para qualquer professor) fomos saber como é que estavam as coisas quanto a pedir redução parcial da actividade lectiva nestas situações. Soubemos que desde Abril todos os pedidos estão "congelados".
Se tratam as pessoas com doenças graves e os professores doentes com esta gravidade, desta maneira, como nos podemos surpreender com a forma como querem tratar os professores não doentes?
Esta gente acima de tudo, é preciso dizê-lo, não presta.
É também por isto que amanhã não falto à Marcha dos Professores em Lisboa.

terça-feira, outubro 03, 2006

Uma proposta de leitura sobre o "ECD".

Num dos seus últimos artigos do jornal A Página da Educação, Manuel Matos faz um pequeno "um pequeno contributo" para a análise da proposta de "ECD" apresentado por esta equipa ministerial, de onde retiramos este pequeno excerto:

"Se há profissão onde devam ser fomentados os valores da esperança, da utopia e do optimismo e preservado o sentido da cooperação e da justiça, essa é a do professor, mormente nos tempos de chumbo que se avolumam. A revisão do Estatuto poderia constituir uma oportunidade de eleição para o fazer, apelando à mobilização, ao debate, ao relançamentos dos grandes desafios que o futuro nos reserva.
Será isso ainda possível?"

O texto, que não é grande, é absolutamente preciso na sua concisão. A forma como chama de "eficacismo docente" a concepção do trabalho docente por parte da ministra da Educação é simplesmente incisiva.
A ler "online"