sábado, setembro 30, 2006

Contrato

"CONTRATO DE PROFESSORA - 1923

Este é um acordo entre a Senhorita____________, professora, e o Conselho de Educação da Escola_____, pelo qual a Senhorita___, concorda em ensinar por um período de oito meses, começando em 1 de Setembro de 1923. O Conselho de Educação concorda em pagar à Senhorita______________ a soma de 75 dólares por mês.
A Senhorita concorda com as seguintes cláusulas:
1. Não se casar. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora se casar.
2. Não andar em companhia de homens.
3. Estar em casa entre as oito horas da noite e as seis da manhã, a menos que esteja assistindo a alguma função da escola.
4. Não ficar vagando pelo centro em sorveterias.
5. Não deixar a cidade em tempo algum sem a permissão do presidente do Conselho de curadores.
6. Não fumar cigarros. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora for encontrada fumando.
7. Não beber cerveja, vinho ou uísque. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora for encontrada bebendo cerveja, vinho ou uísque.
8. Não andar de carruagem ou automóvel com qualquer homem exceto seu irmão ou pai.
9. Não vestir roupas demasiadamente coloridas.
10. Não tingir o cabelo.
11. Vestir ao menos duas combinações.
12. Não usar vestidos mais de duas polegadas acima dos tornozelos.
13. Conservar a sala de aula limpa.
a) varrer o chão da sala de aula ao menos uma vez por dia.
b) esfregar o chão da sala ao menos uma vez por semana com água quente e sabão.
c) limpar o quadro-negro ao menos uma vez por dia.
d) acender a lareira às 7 horas da manhã de forma que a sala esteja quente às 8 horas quando as crianças chegarem.
e) não usar pó no rosto, rímel, ou pintar os lábios."

Citado em Trabalho docente e textos. Michael Apple. (Versão brasileira)
Isto sim. Isto é que era um estatuto.
ADENDA: Informa-se que este blog foi tomado por um perigoso membro da Al Quaeda em Portugal, que visa minar por todas as formas o incomparável e belíssimo trabalho de sua Ex.a, a Excelentíssima Senhora Dona Maria de Lurdes Rodrigues. Por isso não se admirem de encontrar aqui textos atentatórios do Bom Nome e da Excelentíssima Obra feita pelo Excelso Ministério da Educação não esquecendo os seus Excelentíssimos Secretários de Estado.
Eu, que fui feito refém e estou sequestrado algures entre o Paquistão e o Afeganistão, deixo aqui esta última mensagem.
Assim que for libertado pelas forças da Liberdade (consta que Sócrates e Marques Mendes se encontram neste momento reunidos para tratar da minha libertação, para a qual pediram a Bush a colaboração de marines e seals) continuarei a minha tarefa de mostrar toda a Qualidade da equipa ministerial que em boa hora arribou na Educação de Portugal. Equipa essa que tem sido alvo dos mais vís ataques da comunicação social portuguesa, apostada em defender essa classe inefável - os professores.
Boa noite

terça-feira, setembro 26, 2006

Neoliberalismo? Na Educação?

A propósito do meu post anterior o Miguel pediu-me para ser mais concreto sobre o tema do neoliberalismo em educação em Portugal. Aqui vai:
A nossa ministra da educação e a sua equipa, como membro de um governo com a chancela de um partido chamado de Socialista, nunca poderia ou poderá admitir que as suas ideias e práticas são de natureza neoliberal. Eu penso que não são só as políticas de educação são de cariz neoliberal neste governo. Vejam-se por exemplo as da Saúde.
Há neste governo e no caso da Educação em particular uma preocupação em revestir as políticas de uma aparente qualidade técnica auto-propagandeada, a que eu chamo de "forma Tecnocrática". Revela-se nas várias vezes em que são encomendados estudos ditos técnicos, para depois, com as conclusões esperadas à partida, - pois pelos componentes dos grupos de trabalho formados, outras não seriam de esperar - formular políticas correspondentes. No caso da Educação, o instrumento fundamental tem sido as estatísticas, onde com "manigâncias" várias se retiram as conclusões que se querem. Como ideólogos, perdão, referência assumida, aparece a OCDE, que é como nós sabemos a Internacional Socialista, perdão outra vez, um órganismo internacional últimanente muito preocupado em aconselhar menos estado e muitas reformas do sector público. No caso da educação promove um ranking internacional, o PISA, onde há sempre os primeiros e os últimos.
Penso que ser neoliberal na educação é em grande parte aplicar os princípios que os neoliberais aplicam à sociedade no seu todo, em particular, às áreas sociais, educação incluída:
-assim, o corte indiscriminado nas despesas com a educação, que se traduz na diminuição em 6% do orçamento das despesas correntes, para o próximo ano;
-o congelamento salarial de todos os trabalhadores do sector da educação;
-minar os sindicatos da educação, tentando por todos os meios incluíndo os ilegais, retirar-lhes possibilidade negocial e de trabalho sindical com os seus trabalhadores, professores em particular;
-denegrir uma classe profissional, os professores e a Função Pública em geral, retirando-lhes direitos, rebaixando o seu estatuto, diminuindo as suas possibilidades de progressão na carreira, precarizando-lhes o vínculo laboral e transformando-os em meros funcionários obedecendo a ordens;
-diminuir a todo o custo o número de professores e funcionários mesmo à custa da qualidade da educação,
-aumentar o número daqueles que têm um vínculo precário, através de contratos a prazo e a recibo verde ou mesmo a professores em preço de saldo como acontece aos que têm sido contratados pelas câmaras para as actividades de enriquecimento curricular (AEC), medida essa, tenho de dizê-lo, se organizada devidamente, e assumida pelas escolas, professores e outros profissionais, é positiva;
-continuar a apostar em rankings de escola, e alargá-los possivelmente, mesmo que não "intencionalmente", às escolas EB23 com os exames do 9.º;
-estabelecer contratos de autonomia que possibilitarão escolas de 1º, de 2ª e de 3ª, com penalizações que podem ir até ao encerramento, e o reverso da medalha para as que, pelos meios onde estão inseridas, naturalmente terão bons resultados;
-fechar indiscriminadamente e a esmo, escolas, medida que poderá ser positiva em muitos casos, mas que, por um lado terá consequências de aumento da desertificação do interior e que nunca deveriam ter sido tomadas sem que antes estivessem asseguradas as condições de acolhimento, de transporte e segurança das crianças. Medidas essas que foram tomadas em primeiro lugar, pela intenção de poupança. A pressa com que foram executadas revela essa saga economicista. Restará fazer uma avaliação posterior das consequências destas medidas para as crianças (será que o seu insucesso escolar anterior não ficará mascarado nas escolas grandes para onde foram?) e para as comunidades que viram fechar um dos poucos polos de vida cultural e comunitária. 4500 escolas ou salas, reconheça-se. Que grande poupança em meios e em professores, reconheça-se também.
-quanto ao ressuscitar dos currículos alternativos e dos múltiplos cursos e vias ditos profissionais, para os quais os alunos serão cada vez mais empurrados pela pressão da orientação escolar e dos seus fracos resultados nos exames, penso que tudo não passa daquilo que alguns chamaram de "gestão das desigualdades". São medidas que podem manter no sistema alguns daqueles jovens a quem a escola já não diz nada. Nalguns casos são positivos se conseguirem manter esses jovens na escola, se lhes proporcionarem mais alguns conhecimentos e competências de base. Quanto a qualificações aproveitáveis no eufemisticamente chamado "mercado do trabalho" que talvez fosse mais propriamente chamado mercado do desemprego, tenho muitas dúvidas. Entretanto, o fundo da escola básica para todos mantêm-se inalterável: formatada só para alguns, proporcionando insucesso a muitos. Só que gerir as desigualdades é mais fácil e assim parece que politicamente se está a fazer alguma coisa.
O facilitismo de que o Miguel fala tem de se nuancear: na Europa, e em Portugal como uma economia periférica cada vez mais fraca, existe uma dualidade ou polarização do mercado de trabalho. Um grupo substancial de profissões que requer uma formação superior de alta qualidade. E uma largo grupo de trabalhadores indiferenciados que requer apenas competências básicas, tais como o trabalho em equipa, o domínio básico de computadores como utilizador, o respeito de normas, a utilização de operações aritméticas básicas e da lingua materna e pouco mais. A educação a dar a uns e a outros é de nível completamente diferente, daí que se queira apostar em vias diferentes, em exigências diferentes, em escolas diferentes que competem por publicos também diferenciados. Para quê gastar em educação de qualidade com aqueles que vão ser indiferenciados.
Se outras fossem os objectivos: formar além de trabalhadores dóceis para o mercado de trabalho, cidadãos activos e intervenientes, desenvolvidos em todos os aspectos da sua personalidade, outra teria de ser a organização, o financiamento e as apostas das políticas da educação.
Fico por aqui que já vou muito longo.

domingo, setembro 24, 2006

A ministra da OCDE

A ministra da educação, no inefável prós e... prós, antes de se ter descontrolado toda, dizendo barbaridades tais como: quero lá saber que o professor tenha um acidente, ele tem é de dar aulas, ou, eu sou a ministra das escolas e dos alunos; disse também que regia a sua política pela avaliação externa que era feita pela OCDE. Aí penso que ela esteve próxima da verdade.
Para quem não saiba, a OCDE é uma das organizações internacionais que mais se tem distinguido pelas suas recomendações de teor neoliberal.
Eu acho que esta ministra e as suas políticas no âmbito da educação, sob uma retórica tecnocrática e uma propaganda social, têm como pano de fundo instituinte as receitas e os métodos neoliberais. Para quem discorde, voltarei um dia a discorrer sobre o assunto.

sábado, setembro 23, 2006

Testa de porcelana

Sob o nome sugestivo de "Testa de ferro" acolhe-se o conceito de alguém que dá a cara em nome de alguém ou de alguma organização ou ideia, não sendo ela própria a autora moral ou material da "coisa" mas apenas aparente autora da mesma.
A palavra ferro faz pensar em algo duro, que se aguenta perante a adversidade, designadamente aquela que resultaria de alguém que pusesse em causa a autenticidade aparente da Testa de ferro.
Quando uma Testa de Ferro, perante uma pressão, que nem sequer seja muito forte, se desorienta e se desmorona, não deveria o nome passar para Testa de porcelana, por exemplo?
É verdade que nem todas as "testas" servem desígnios ínvios, tais como as testas "legais de certas máfias. Conhecemos todos aqueles casos de quem dá a sua cara para proteger outros que se encontram economicamente e politicamente desprotegidos face a poderes totalitários.
Mas há testas de porcelana que merecem ser retiraradas do envólucro felpudo em que as têm protegidas. Principalmente aquelas cujas causas são hipócritas e cuja aparência assenta na mentira e no jogo sujo.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Plenário

Estou cheio de trabalho, mas na Sexta 22 não falto ao plenário descentralizado do sindicato.
Está muito em jogo para que um professor se possa alhear e entregar-se nas mãos daquela comissão liquidatária que actualmente ocupa o ME.
Vou lá também, pois acho que as medidas a tomar devem ser firmes mas inteligentes. Não tenho soluções na manga, mas acho que a participação de todos é importante.

terça-feira, setembro 19, 2006

"Beija-mão."

Estive tentado a comentar aquele triste espectáculo de "beija-mão" encomendado, acontecido no programa Prós e contras, ou prós e prós. Mas é melhor ir passear para outras bandas...

segunda-feira, setembro 18, 2006

A ler...

O blog Profes publicou uma declaração política de Jorge Pires, do PCP, que faz uma análise séria sobre a actual situação da Educação em Portugal, a destoar da demagogia e da propaganda ministerial de abertura do ano lectivo. Propaganda essa que está a ser apoiada e propagada pelos nossos orgãos de comunicação social ditos de "referência".
A ler.

domingo, setembro 17, 2006

LADO A + lado b

LADO A


"Se alguém disser: onde iremos parar se os operários, os agricultores, os moços de fretes e finalmente até as mulheres se entregarem aos estudos? Respondo: acontecerá que, se esta educação universal da juventude for devidamente continuada, a ninguém faltará, daí em diante, matéria de bons pensamentos, de bons desejos, de boas inspirações e também de boas obras."

Coménio, Didáctica Magna, século XVII


lado b


Está para ser publicada legislação que pretende "expulsar" os professores doentes das escolas. Já há algum tempo tinham surgido notícias sobre a matéria. Do que tenho conhecimento, tal iniciativa faz-me lembrar o conjunto de medidas eugénicas levadas a cabo pelos governos democráticos nas primeiras décadas do século XX. Medidas essas que foram posteriormente alteradas e escondidas devido ao relevo que as políticas de extermínio nazi informadas dos mesmos pressupostos fizeram delas.
Para um conhecimento mais desenvolvido remeto para um texto sobre o assunto no blog do Paulo Guinote.

século XXI !!!!!!!!

sábado, setembro 16, 2006

"Tapados pelo Nacionalismo"

"A introdução de indicadores de desempenho dos sistemas educativos desenvolvidos e destinados ao nível supranacional, (PISA por exemplo) portanto, é mais do que um mero transplante de uma técnica bastante testada. Isto muda, mais do que reflecte, o mundo que pretende medir; a assunção de que se trata apenas de uma outra forma de competição internacional que "nos" dá a oportunidade de ver com que nível de sucesso o "nosso" sistema assume quando comparado a outros, esconde as mudanças do "nós", a natureza e os interesses envolvidos na competição, aquilo que exclui, e a oposição que acaba por construir. As assunções que circulam acerca da natureza das tabelas classificativas e dos níveis aos quais os sistemas educativos são formados e dirigidos ameaçam deixar-nos "tapados" acerca do que está "realmente" a acontecer - seja isso um perigo ou uma promessa - até que, como o guarda-redes que ficou tapado, seja demasiado tarde para podermos responder."

Roger Dale

sexta-feira, setembro 15, 2006

"A educação do meu umbigo"

Com o título "A educação do meu umbigo" o colega professor Paulo Guinote tem construído um blog de referência pela qualidade das suas intervenções e pela assiduidade das mesmas.
E, além do já referido, é um blog que dá vontade de ler também pela originalidade e consistência da sua argumentação, à qual alia, no aspecto formal ,uma estrutura e uma funcionalidade muito bem conseguida.

Em Luta de luto.

Estou em luta por um Estatuto profissional digno e contra o estatuto desvalorizador e retrógrado que nos querem impor.
O preto com que me visto é um mero símbolo de unidade.
O importante é que não desisto.
"Quem não desiste pode ganhar. Quem desiste já perdeu."

quinta-feira, setembro 14, 2006

Competições

"Em cada geração, as melhores inteligências e as mais ricas imaginações são imoladas no Altar do Supremo Deus da Competição.
A competição é, não apenas má, como um acto educativo, mas também como um ideal para a juventude. O que o mundo necessita não é de competição, mas de organização e cooperação; toda a crença na sua utilidade torna-se um anacronismo. E mesmo que a competição fosse útil, não seria louvável em si própria, considerando que as emoções correspondentes são de hostilidade e crueldade. A concepção da sociedade como um todo orgânico é de muito difícil aceitação, para os que foram educados numa ideologia de competição. Ética ou economicamente, é indesejável que a juventude seja educada na competição."
Bertrand Russell

"Para podermos ter cuidado pelos outros, temos de estar atentos às necessidades que eles sentem e exprimem: é nesse sentido que há uma educação para a atenção ao outro. É uma educação que vai contra a mentalidade dominante, altamente competitiva, tendo o sucesso como horizonte, em que o outro existe para ser esmagado, e não para ser descoberto, admirado e ajudado."
Maria de Lurdes Pintassilgo

quarta-feira, setembro 13, 2006

"Só não pode é mentir"

"Numa perspectiva realmente progressista, democrática e não-autoritária, não se muda a "cara" da escola por portaria. Não se decreta que, de hoje em diante, a escola será competente, séria e alegre. Não se democratiza a escola autoritariamente. A Administração precisa testemunhar ao corpo docente que o respeita, que não teme revelar os seus limites a ele, corpo docente. A Administração precisa deixar claro que pode errar. Só não pode é mentir."
Estas palavras foram escritas por Paulo Freire a respeito do período em que dirigiu a Secretaria de Estado da Educação da Prefeitura de S. Paulo, Brasil.
Como é diferente a Ética de um Educador em relação aos costumes de certos políticos.

Demagogia e mentira.

Estes dois últimos dias têm sido férteis, por parte da ministra da Educação e do governo, a propósito do início do ano escolar, da mais desbragada demagogia e mentira.
Confesso que já há tempos que perdi completamente o pouco respeito que tinha em relação aos nossos governantes. Penso que é importante que os professores e os sindicatos sejam capazes de denunciar estes comportamentos. Sei que é difícil mas é importantíssimo tentar chegar à opinião pública, embora os jornais e os comentaristas do "reino" continuem a apoiar a ministra e a omitir a sua incompetência. Isso torna difícil mas não impossível a afirmação responsável dos professores.
Aproxima-se um período decisivo. Espero que os professores conheçam as propostas que a ministra tem para o seu Estatuto. Espero que estejam conscientes do que elas significam para uma reconfiguração da profissão num sentido negativo e retrógrado.
Espero que lutem para não deixar passar uma proposta deste tipo.

terça-feira, setembro 12, 2006

Quadros de mérito de turma

Na minha escola vai haver este ano lectivo quadros de mérito de turma, baseado não em rendimento escolar como o quadro de honra individual já em existente, mas em critérios mais ligados a atitudes. Para a turma/turmas premiadas haverá um prémio. O conselho pedagógico decidiu por unanimidade e agora só falta o regulamento.
No conselho dos directores de turma vários torceram um pouco o nariz. Eu, timidamente invoquei o argumento da desigualdade de oportunidades de sucesso já que as turmas diferem muito entre si. Outros colegas disseram que haveria outras formas mais adequadas de publicitar as coisas bem feitas de alunos e turmas, por exemplo, no jornal da escola.
Agora só falta o regulamento.

domingo, setembro 10, 2006

Currículos alternativos / sociedades normativas.

"As gentes relacionadas com a escola devem evitar cair na ratoeira de pensar que uma preparação precoce para um mundo injusto requer uma exposição precoce à injustiça"
Jeannie Oakes

sábado, setembro 09, 2006

O túnel afunilado

Devo confessar que estou preocupado.
O regime legal que o ministério da educação pretende concretizar, será um buraco onde os professores e as escolas se irão afundar numa amálgama de hierarquias artificiais, de competição doentia, de diferenças instaladas, de colegialidade embotada ou artificial.
Nada que eu não soubesse possível num mundo em que essas coisas são pão amassado de cada dia, segundo a conveniência de amos tantas vezes invisíveis.
Quem leu com olhos críticos as "propostas" do ministério sabe do que falo. Desses só espero acção consciente, persistente, resistente.
Só que há, perdoem-me os rótulos, os ingénuos, os acólitos, os acomodados, os oportunistas, os que não pensam nem lêem.
Estou preocupado, mas nos próximos tempos, além da profissão mais bonita que existe à face da terra, - a de contribuir para educar pessoas e não bichos, - estarei ocupado na luta contra quem quer destruir uma profissão. Profissão que não pode enveredar pela competição mas tem de ser fundamentalmente cooperativa; profissão cuja missão nobre - educar - deve ser exercida da mesma forma do início à aposentação; profissão cuja avaliação não se deve centrar na competição por lugares mais bem pagos mas por melhorar eticamente a acção educativa sobre seres humanos para contribuir desse modo para um mundo mais humano.
Há quem não saiba, não queira, quem não lhe convenha, quem pactua em que não se saiba estas coisas elementares do que é um professor. Todos esses serão cúmplices num retrocesso ético da nossa profissão.
Por mim esta "proposta" não passará. Serei sempre um professor presente.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Com amigos destes...

É com estupefacção que li o que um neoliberalzeco de 3ª tijela da OCDE realçou num encontro para o qual foi convidado pela FNE. Nem de propósito. Parecia uma encontro promovido pelo ministério da Educação.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Descaramento

De novo à carga, o Ministério da Educação tem o descaramento de apresentar uma segunda versão do "Regime legal..." que em vários pontos é mais negativa ainda que a primeira.
E os processos negociais que esta gente do ME utiliza dizem tudo sobre sobre si próprios. Ver no site da Fenprof.
Que dizer? Muito.
Que fazer? Mais ainda.
Os professores que queiram lutar por um Estatuto digno da sua profissão devem lutar com todos os meios ao seu alcance.
A Fenprof como a organização sindical mais representativa dos professores portugueses pode contar com o meu apoio na luta.

terça-feira, setembro 05, 2006

O Latim e o João

"Para ensinar o latim a João, todos sabem hoje que é indispensável conhecer o latim e o João. Mas mais ainda: é preciso saber porque é que se deseja que João aprenda latim, como é que a aprendizagem do latim o irá ajudar a situar-se no mundo de hoje - numa palavra, quais são os fins visados pela educação. E há pelo menos uma componente política em qualquer resposta que se pretenda dar."
Com estas palavras acabava Georges Snyders um livro editado em 1974, pela Almedina chamado Pedagogia Progressista.
Nele o autor aplicaria, tal como em vários que se lhe seguiram, um método dialéctico de análise de dois (ou mais) pontos de vista teórico-práticos, tentando acabar num momento de síntese final.
No caso deste livro pôs em confronto a Pedagogia Tradicional e a Pedagogia Nova. Ao contrário dos adeptos de cada uma destas posições que esgrimiam as suas certezas, caricaturando ou ridicularizando as posições dos adversários, Snyders partiu da sua caracterização séria, destrinçando aquilo que no seu parecer essas Pedagogias, de mais importante e interessante possuíam, não esquecendo as questões que no seu entender as tornavam frágeis ou momentaneamente incompletas.
Ao ler as posições expostas recentemente nos três blogs a que fiz publicidade, sobre o debate dito do Eduquês versus AntiEduquês relembrei-me desse livro e fui relê-lo. Em bom tempo o fiz.
Muitas das posições aparentemente exclusivas e irredutíveis que actualmente aparecem, foram já, trinta anos passados, tratados com uma acuidade e capacidade crítica de realçar, nesse texto.
Para já, fica aqui uma pálida interpretação da minha parte duma questão que me parece falsa nas discussões que actualmente se fazem.
Será que o Rigor, a Exigência, o Esforço contido no trabalho escolar que dá acesso às Alegrias do acesso finalizado aos Modelos das grandes obras da Cultura, que era na altura o que de mais positivo via Snyders na Pedagogia Tradicional, são incompatíveis com os cuidados com as Alegrias do presente, o cuidado com os Interesses imediatos, a Liberdade e a Iniciativa das crianças, que são aspectos também considerados positivos pelo autor nas Pedagogias Novas?
E será que, como aponta o autor, os aspectos negativos da Pedagogia Tradicional, como o enfado criado pelo adiar para um futuro por vezes distante as razões de ser dos exercícios e esforços feitos por si mesmos, não são de rejeitar; assim como as esperanças infundadas das Pedagogias Novas de ver no interior da criança capacidade de aceder a voos culturais altos sem uma intervenção fundamental dos educadores, enredados e satisfeitos com o jogo pelo jogo?
Entretanto, desde que o livro foi escrito, o mundo mudou imenso. Algumas das análises de Snyders se bem que importantes, estão hoje irremediavelmente, datadas.
Sei que o pensamento dialéctico não está actualmente muito na moda. Nas questões ultimamente abordadas penso que em muito poderia esse método contribuir para fazer ultrapassar certas contradições, algumas das quais aparentes. E falta ainda realizar a síntese. Penso que é a questão do método aquilo que Snyders mais exemplarmente nos transmite à distância.

domingo, setembro 03, 2006

Um debate/reflexão que ainda não se fez

O Miguel Pinto do blog Outroolhar iniciou a publicação de um conjunto interessante de extratos de textos que me parecem importantes para que o debate/reflexão entre os ditos Eduqueses-AntiEduqueses ultrapasse o nível dos rótulos, das acusações e dos lugares comuns. Remete para que nós, professores, coloquemos em questão o que nos põe em causa, mesmo que à custa de um certo desconforto.
Não tenho a certeza da possibilidade desse debate/reflexão em novos termos, mas que o apreciaria e que o acharia profissionalmente importantíssimo, disso não tenho dúvidas.

ADENDA 1:
O colega Prof24 do blog Professor sem quadro colocou um conjunto de posts que contribuem para o debate acima mencionado e numa perspectiva complementar (num certo "contraditório") ao sentido que o Miguel Pinto iniciou. A ler com atenção.

ADENDA 2:
Um grupo de colegas criou um novo blog, Ensinar na escola. Nestes primeiros tempos parece que adoptaram um manifesto tom e conteúdo Anti-Eduquês e dedicam-se a divulgar textos nessa linha exclusiva. Blog a visitar no sentido de contribuir para este debate embora me pareça partir de posições não passíveis de discussão. Boa sorte para o blog.

Uma pequena reflexão que me apetece fazer:
Como seria bom se colocassemos a discussão também ao nível do que acontece nas nossas aulas, sendo capazes de nos colocar em questão.

sexta-feira, setembro 01, 2006

EXAMES. Instrumentos para... Instrumentos em si...

EXAMES. Instrumentos para...
O Diário de Notícias de hoje tráz duas peças dignas de leitura e análise.
Uma a "notícia" sobre o "facto" de os exames do 9.º ano aumentarem as percentagens de reprovação nesse mesmo ano lectivo. Outra (sem link), uma coluna de opinião da ministra em que este facto e esta notícia são salientados.
Aparte o facto do aparecimento aparelhado destas duas peças nos poderem soltar a imaginação sobre as relações entre os jornais e o poder, gostaria mais de tecer alguns comentários sobre aspectos que considero centrais no seu conteúdo:
-logo no título do escrito da ministra aparece: "Melhorar a escola é melhorar os resultados". A orientação sobre os resultados da ministra é o lema central do seu discurso;
-segundo ela estes resultados são negativos, -dos piores dos dez últimos anos, - mas (segundo o seu ministério) o seu conhecimento "objectivo" poderá ter consequências positivas no futuro;
-se não forem retiradas as devidas consequências da insuficiência das aprendizagens que os resultados nos exames demonstram estes continuarão a ser, e cito, "meros instrumentos de selecção e seriação dos alunos";
-a grande solução para a melhoria dos resultados será "a optimização da capacidade técnica e de inovação dos professores e de outros profissionais da educação". O discurso tecnocrata no seu explendor.
Destas ideias gostaria de fazer uma análise crítica que espero não abusiva:
-o que interessa são os resultados. Resultados, para já, no Português e na Matemática e avaliados pelos exames. Deitem-se fora todas as críticas fundamentadas feitas a esta forma tecnocrática de avaliar a educação, ou mais propriamente a instrução. Tudo aquilo que não puder ser avaliado por exames e traduzido em resultados (numéricos, presumo) é de dispensar;
-se os resultados forem melhores então de "meros instrumentos de selecção e seriação dos alunos" (aqui aplauda-se a sinceridade da ministra) passarão a instrumentos... que não meros;
-os exames não são nunca postos em questão como aferidores da qualidade das aprendizagens, são até o seu paradigma perfeito. Deite-se fora toda a crítica fundamentada aos exames como meios de avaliação.
Algumas perguntas que, aposto, a ministra não fará:
-como é que a sociedade e as políticas sociais dos governos podem ter influência nas escolas, na Educação e até, nos resultados dos alunos?
-como é que a desigualdade e a exclusão social cada vez maior na sociedade portuguesa têm influência nas escolas e nos resultados dos alunos?
-quem são os alunos, (quais as suas características, designadamente as sócio-económicas) que enchem os números redondos das reprovações?
-porque é que, estatisticamente, os que reprovam têm certas características e os que não reprovam têm outras?
-será que com os alunos que passam e passarão, com os critérios de resultados em exames, tudo está bem?
-que consequências tem para os processos educativos e para a formação dos alunos, esta centração em resultados, resultados, medíveis com exames?
EXAMES EM SI.
Sobre os exames como instrumentos de avaliação gostaria de deixar para já uma pergunta que lançaria a quem tenha estudado profundamente estes assuntos:
-Há quase um século que estudos científicos, nomeadamente os docimológicos, têm demonstrado a falta de validade, de fiabilidade e até de "objectividade" dos exames. Será que essas demonstrações foram desmentidas entretanto e/ou que estes instrumentos foram tecnicamente melhorados para ultrapassar as insuficiências que lhe eram apontadas? A pergunta não é retórica, nem fácil. Gostaria que alguém me respondesse.